Se falarmos das origens dos jogos de estratégia em tempo real, não podemos negar o papel crucial que Dune II teve na sua concepção, mas parece-nos inegável que foram os Command & Conquer que realmente cimentaram as bases do género para o grande público. A jogabilidade do primeiro jogo pode parecer primitiva para os padrões atuais, mas quando saiu, o seu impacto fez-se sentir por toda a indústria.
O facto de Command & Conquer ter sido seguido pelo brilhante Red Alert um ano depois, só ajudou a deixar ainda mais vincado o papel da série na História dos videojogos, introduzindo um editor de mapas, muitas novidades na jogabilidade, e uma abordagem ainda mais extravagante aos vídeos de história com atores reais. A verdade é que a série nunca levou a história demasiado a sério, e isso também contribuiu para ganhar o coração dos fãs. Os jogos que se seguiram nunca tiveram o mesmo impacto, contudo, e eventualmente a série desapareceu... até agora.
Command & Conquer Remastered Collection vai reunir versões melhoradas de Command & Conquer: Tiberian Dawn e Command & Conquer: Red Alert, e será lançada a 5 de junho no Steam e no Origin por € 19,99, sem qualquer tipo de micro-transações. Um pormenor interessante deste projeto é o facto de ter sido construído com o apoio dos fãs. O estúdio que está a tratar destas adaptações, Petroglyph, até criou o "concelho da comunidade", um grupo formado por fãs fervorosos da saga que contribuíram com opiniões e feedback. A interação entre estúdio e comunidade não se ficou por aqui, e até inclui músicas da banda The Tiberian Sons, formada por fãs da saga, e ainda algum trabalho de arte também oferecido por jogadores.
Segundo Jim Vessella, da EA, o estúdio tentou acrescentar tanta paixão quanto possível no projeto, mantendo o espírito dos originais, mas com alguns toques modernos. Por exemplo, foi desenhada uma interface completamente nova, e modo multijogador foi re-desenhado por completo. Também foram acrescentados modos de galeria, que incluem notas dos produtores e filmagens de bastidores.
Visualmente parecem os mesmos jogos, mas o grafismo foi todo adaptado a resoluções modernas, e os jogadores até podem alternar entre o visual original e as novas versões (apenas na campanha de história). As duas bandas sonoras e todos os efeitos sonoros foram também melhorados e modernizados, e ainda incluem seis faixas do compositor original, Frank Klepacki, que não foram usadas nas versões originais.
A Petroglyph deixou-nos experimentar uma demo do jogo, retirada do início da campanha de Red Alert. De imediato reconhecemos Tanya e as suas pistolas gémeas, e vários outros elementos do jogo, mas é óbvio que existem melhoramentos. O código original foi usado como a base para esta nova versão, mas o extensivo trabalho de remasterização permite algumas ações que não eram possíveis no original, como fazer zoom ao campo de batalha. O melhor elogio que lhe podemos fazer é que se parece com Red Alert da nossa memória, mas uma comparação com o visual original rapidamente nos mostra o quão simpática é a nossa memória, e o quão extensivo foi o trabalho de reconstrução da Petroglyph.
Um pormenor curioso, o visual de várias explosões foi melhorado, mas com particular destaque para a bomba nuclear e o canhão de iões, que agora mostram explosões magníficas que correspondem ao seu poder destrutivo.
Em termos de interface, a maior novidade é a remodelação de toda a barra lateral de construções e unidades, que aparentemente foi o maior pedido da comunidade. Esta nova barra mostra agora 18 espaços de construções, e suporta elementos modernos como atalhos de teclado e ferramentas. Até permite filas de produção de unidades, algo que é comum nos jogos de estratégia atuais, mas que não era possível nos originais. Também pode escolher jogar com controlos mais modernos, ou com os comandos de origem, em que clicava com o botão esquerdo do rato e não com o direito.
Dito isto, nem tudo será modernizado. Alguns elementos da jogabilidade vão parecer datados, como o facto da inteligência artificial não estar preparada para entrar em combate de forma independente. Num jogo moderno, pode enviar um grupo de soldados para um local com a ordem de ataque, o que significa que esse grupo irá atacar de imediato qualquer força inimiga que encontre. Isso não será possível nestes dois jogos, o que significa que terá de dar a ordem direta de ataque clicando nos inimigos.
Também tivemos a oportunidade de espreitar Tiberian Dawn, que vai incluir todas as missões originais, todas as expansões, e ainda missões exclusivas de Nintendo 64 e PlayStation, que estarão disponíveis pela primeira vez no PC. Até vai existir um menu de seleção de missões se quiser repetir alguma em específico. Tiberian Dawn vai apresentar ainda mais melhoramentos que Red Alert, já que agora usa a sua inteligência artificial e inclui opção para dificuldade, algo que não estava no original.
Não podemos falar de Command & Conquer e ignorar os vídeos de história filmados com atores reais, que deram um charme muito peculiar à série. A resolução dos vídeos originais era demasiado baixa para serem utilizados, mas em conjunto com a comunidade, a Petroglyph conseguiu criar um algoritmo que atualizou a qualidade visual e sonora dos vídeos. E como já referimos, existem vários vídeos de bastidores, que ao todo forma mais de quatro horas de vídeos através dos dois jogos.
Por último, temos de falar de suporte para modificações não oficiais, que será possível através de um editor de mapas melhorado, embora o estúdio prometa mais novidades para breve a este respeito. Quanto ao futuro, seja com versões remasterizadas de outros Command & Conquer, ou jogos completamente novos, tudo irá depender da forma como estes dois títulos serão recebidos. Dia 5 de junho ficaremos a saber se ainda existe vida na série, ou se é melhor deixar Command & Conquer na memória.