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Uncharted 4: O Fim de um Ladrão

Uncharted 4: O Fim de um Ladrão

Mais encanto na hora da despedida.

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Este é o último Uncharted, a derradeira aventura de Nathan Drake, o Canto do Cisne de uma série que catapultou a Naughty Dog para o topo das melhores produtoras do mundo. Quem o disse foi Nolan North, ator que interpreta Nathan Drake, e alguns membros do próprio estúdio. Pelo menos garantiram que a série se despede com estrondo dos jogadores e deixa desde já a sua marca também neste geração de consolas.

Este é, na nossa opinião, o melhor jogo da saga. Para muitos até será o melhor jogo desta geração de consolas. Existem várias razões para isso, como a passagem da saga da PS3 para a PS4, ou a maior experiência geral da Naughty Dog enquanto estúdio, mas um factor determinante tem um nome: Neil Druckmann. Druckmann foi o argumentista e diretor criativo de The Last of Us, onde mostrou todo o seu talento, e eventualmente acabou também por assumir o leme de Uncharted 4: O Fim de Um Ladrão, que escreveu em conjunto com Bruce Straley depois de Amy Hennig (argumentista da trilogia anterior) ter saído para a Visceral Games.

A mudança de argumentistas e diretor criativo é evidente no jogo, tal como é a influência de The Last of Us. Não que sejam jogos parecidos, porque não são, e The Last of Us continua a ser uma viagem emocional bem mais pesada que Uncharted 4, mas em termos de ritmo, argumento, exposição e até jogabilidade, notam-se alguns pós de The Last of Us.

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Uncharted 4: O Fim de um Ladrão é um jogo longo para este tipo de aventura linear, com mais de 20 capítulos, mas não vão passar o tempo todo a disparar contra mercenários. O jogo não tem vergonha de intervalar os tiroteios com bastante exposição, exploração, puzzles, serviço para os fãs, e secções de plataformas. E mesmo quando chegam os momentos de ação, Uncharted 4 oferece uma alternativa viável para os jogadores com um estilo mais sorrateiro, e a esmagadora maioria das batalhas pode terminar silenciosamente. Não é fácil consegui-lo, e se forem vistos são chamados reforços, mas Uncharted 4 é bem mais adepto de jogabilidade furtiva que os anteriores (outra influência de The Last of Us?).

Uncharted 4 arranca alguns anos depois dos eventos de Uncharted 3: Drake's Deception, com Nathan Drake casado com Elena e empregado estável a mergulhar no fundo do rio e a carimbar papéis. É então que surge Sam Drake, irmão até agora nunca mencionado de Nathan Drake, para salvá-lo da horrível monotonia. Depois de esclarecer porque motivo ainda está vivo, Sam Drake convence o irmão mais novo a partir numa missão para resgatar o tesouro do pirata Henry Avery. O que se segue é uma das aventuras mais espetaculares dos videojogos, que vai levar o jogador a localizações exóticas à volta do mundo e algumas das mais fantásticas sequências que já vimos numa consola ou PC. E sim, o inevitável Victor Sullivan também participa e está mais charmoso que nunca.

Grande parte do investimento do jogador nesta aventura grandiosa vem das personagens, do argumento e das interpretações brilhantes dos atores. Os já habituais Nolan North, Richard McGonagle e Emily Rose regressam nos seus papéis como Drake, Sullivan e Elena, mas são acompanhados por interpretações fantásticas de Troy Baker, Laura Bailey e Waren Kole, na pele das novas personagens Sam Drake, Nadine Ross e Rafe Adler. Essas interpretações ganham força graças a magnífica direção, excelente técnicas de captura de movimentos, e uma qualidade gráfica impressionante. Uma palavra ainda para a localização portuguesa, que embora positiva, não está ao nível do comportamento dos atores originais. A melhor forma de jogar, na nossa opinião, é mesmo com vozes em inglês e legendas em português.

Um jogo não vive apenas de exposição, sequências narrativas e gráficos bonitos (dos mais impressionantes que já vimos), vive também - e sobretudo - de jogabilidade. Felizmente Uncharted 4 triunfa também neste campo. A base já todos a conhecem dos jogos anteriores, é um misto de ação, plataformas, exploração, e resolução de puzzles, e quando dizemos misto, queremos dizer precisamente isso. Há uma mistura maior de todos os elementos, e embora a ação seja abundante e espetacular, existe muito tempo para os outros pilares da jogabilidade brilharem. Ao fim de três jogos a Naughty Dog já domina estas mecânicas como ninguém, e tudo funciona quase na perfeição. Quando dizemos quase, significa que existem algumas falhas que temos de mencionar.

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A mais óbvia surge como um dos efeitos secundários da influência de The Last of Us. Em Uncharted 4, Nathan Drake estará quase sempre acompanhado por uma segunda personagem, incluindo em muitos momentos de ação. Como já referimos, o novo jogo permite explorar um lado furtivo (mas podem começar logo a disparar, se preferirem essa abordagem), à semelhança do que acontecia em The Last of Us, e tal como nesse jogo, também aqui o comportamento da inteligência artificial que acompanha o jogador é medíocre, tornado-se inúmeras vezes vísível para os inimigos. Mas, como que por milagre de programação, os inimigos nunca vão reagir a essa segunda personagem, mesmo que esteja aos saltos à sua frente. Tal como Ellie em The Last of Us, o acompanhante de Nathan Drake é virtualmente invisível para os inimigos enquanto o jogador permanecer escondido. Compreendemos o porquê (seria ainda pior se a personagem secundária estragasse a sequência furtiva ao ser vista), mas retira um pouco da imersão.

Outras "falhas" só o serão aos olhos de alguns jogadores, sobretudo os que procuram um desafio maior. Para começar, o jogo é extremamente linear, mesmo que algumas áreas sugiram um espaço mais amplo, e funciona muito à base de momentos pré-definidos (ou "scripted" se preferirem). Enquanto esta abordagem ajuda muito ao efeito cinemático do jogo, quebra um pouco em termos de jogabilidade. Já as secções de puzzles e plataformas, são apenas desafiantes que baste para o público maior, e a esmagadora maioria dos jogadores conseguirá atravessar rapidamente estas secções sem nunca encalhar ou correr real perigo. O único desafio real de Uncharted 4 chega através dos tiroteios, dependendo da dificuldade escolhida. São pequenas queixas, mas que se tornam praticamente irrelevantes perante a magnitude desta aventura espantosa.

Antes de passarmos à frente do capítulo da jogabilidade, algumas palavras para dois elementos novos: a condução de veículos e a corda com gancho. O primeiro é exatamente o que podem esperar, e não está preso a momentos pré-definidos. Em algumas secções podem conduzir através de um mapa relativamente grande, e se quiserem podem parar e explorar algumas localizações secundárias à procura de segredos. Funciona bem, e serve também para oferecer maior interação entre as personagens, que estão sempre a conversar durante as viagens. A corda com gancho não é novidade nos videojogos, mas nunca vimos esta mecânica funcionar tão bem como em Uncharted 4. Basicamente podem atirar uma corda com um gancho para alguns pontos específicos, e com isso ficarem a balançar e ganharem acesso a outra área. O que diferencia Uncharted 4 de outros jogos é a excelente física que governa o balanceamento de Drake, a espontaneidade com que podem atirar o gancho, e a facilidade com que podem disparar mesmo pendurados na corda. E até a podem usar durante as sequências de ação, enquanto saltam rapidamente para escapar de alguma granada ou flaquear inimigos. Excelente adição à jogabilidade.

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No que respeita à campanha, temos ainda que mencionar os muitos segredos, pistas e pormenores que a Naughty Dog escondeu pelo jogo. Uncharted 4: O Fim de um Ladrão está recheado de momentos de nostalgia, não só para quem jogou a trilogia de PS3, mas até para quem acompanhou o progresso da Naughty Dog ao longo de todos estes anos. O serviço para os fãs em Uncharted 4 é absolutamente brilhante, sem nunca ser forçado, e se investiram nestas personagens ao longo da última década, vão colher os frutos dessa relação ao longo deste jogo e até ao seu brilhante epílogo.

O modo principal de Uncharted 4 é um triunfo em quase todos os níveis, mas não é a única componente do jogo. Existe um modo online para os jogadores explorarem, que tivemos a oportunidade de experimentar em várias ocasiões (embora nunca com os servidores abertos a todos os jogadores, por isso fica a salvaguarda). O que experienciámos foi um modo online caótico e cheio de ação, enquanto disparávamos, saltávamos e usávamos poderes (aqui referimos como "místicos") através de mapas inspirados na campanha. Podem esperar vários tipos de jogo com objetivos para equipas, algumas personagens da série para escolherem, e o que pareceu ser um design bastante equilibrado e competente de todas as componentes do modo online. Existem vários efeitos cosméticos e outras opções que podem comprar com dinheiro que ganham durante as partidas, ou através de missões a solo que decorrem dentro do espaço dos jogos online.

A isto acrescentem muitos segredos, diálogos e páginas para encontrarem na campanha, dezenas de filtros de imagem e opções secretas para desbloquear, e espera-vos um pacote recheado de conteúdo, que justifica completamente o preço do jogo e esta nota máxima, mesmo que nem pensem em experimentar o modo online. É uma aventura que vos irá agarrar de princípio ao fim, que beneficia de um ritmo e uma direção superior à dos anteriores, perfeito no equilíbrio entre ação e momentos de maior descontração. É curioso que The Last of Us tenha tido tanta influência em Uncharted 4, mas sem nunca ao ponto de misturar a identidade muito distinta dos dois jogos. É um dos títulos mais bonitos que já jogámos, uma aventura que fecha com chave de ouro este capítulo da Naughty Dog e dos videojogos, e que não desapontará novatos ou fãs antigos. Se compraram a PlayStation 4 para jogarem Uncharted 4, não vão ficar desiludidos.

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10 Gamereactor Portugal
10 / 10
+
Grafismo de luxo. Personagens memoráveis. Aventura fantástica. Agarra o jogador de princípio ao fim. Argumento e interpretações de topo. Modo online de qualidade.
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Por vezes é demasiado automático. IA tem os mesmos problemas que em The Last of Us.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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