The Evil Within 2 é uma sequela pura do jogo antecessor, seguindo todas as regras de como fazer uma continuação razoável. Uma diferença deste jogo, para o original, é o facto de já não contar com Shinji Mikami ao leme do projeto. O lendário produtor japonês deixou a produção nas mãos dos seus pupilos na Tango Gameworks, mantendo o legado de um género de terror que nasceu com Resident Evil 4, mas que tem desaparecido nos últimos anos.
O foco de The Evil Within 2 é novamente o STEM que conhecemos no primeiro jogo, um sistema que cria um mundo paralelo onde estão ligadas várias mentes, mas onde podem realmente viver ou morrer. Aliás, como qualquer sistema informático, o STEM também tem erros, mas estes quando acontecem causam a morte de dezenas de mortos e a aparição de criaturas aberrantes. Por outras palavras, são a versão de zombies do universo de The Evil Within. Os inimigos são humanóides violentos e rápidos, suficientemente perigosos para que se crie uma atmosfera tensa que pretende manter o jogador agarrado ao lugar durante toda a aventura. Essa tensão é conseguida através de bom equilíbrio entre a dificuldade dos inimigos e as habilidades do jogador, suficientes para que possam lidar com os perigos, mas nunca de forma descuidada.
Enquanto vagueiam por Union e outros mapas, existe sempre o perigo de se depararem com inimigos sem preparação, e isso pode ser extremamente perigoso, sobretudo nas primeiras horas de jogo. Como devem calcular, vão começar The Evil Within 2 numa forma muito menos preparada do que como acabaram o jogo original, e uma boa parte da primeira metade da experiência será passada a tentar melhorar a personagem. Quando não estiverem a "farmar" inimigos para ganharem formas de evoluir o protagonista Sebastián Castellanos, vão estar a ver inúmeras sequências de vídeo, sobretudo na primeira hora de jogo, que interrompem o ritmo de forma algo grosseira. Qual o objetivo de Castellanos? Encontrar Lily, a filha que julgava morta, mas o jogo propriamente dito só começa quando a pequena cidade se abre ao jogador.
The Evil Within 2 não tem propriamente missões secundárias, mas existem informações e itens de interesse que podem acrescentar mais algum contexto à estória e às personagens. Se preferirem podem ir diretamente ao objetivo principal marcado no mapa, mas se o fizerem podem estar a entrar numa situação para o qual não estão devidamente equipados. O jogo incentiva o jogador a explorar o mapa semi-aberto, à procura das tão preciosas munições, e de recursos para melhorar as armas e a personagem. Embora existam espaços fechados e lineares, o grosso do jogo é aberto à exploração, sem puzzles ou fechaduras a bloquear o progresso do jogador.
O jogo tem também dois ritmos bem evidentes. O mais típico baseia-se em jogabilidade furtiva, exigindo ao jogador que procure evitar inimigos, ou despachá-los de forma silenciosa. Noutros momentos será mais fácil correr ou sacar do arsenal para uma abordagem mais direta e violenta. Com o passar do tempo podem começar a moldar a personagem e as armas para o tipo de abordagem que preferem. Os controlos em si funcionam bem para os dois lados da jogabilidade, embora Sebástian tenha um movimento algo desengonçado. A sua pontaria também está longe de ser ideal, mas é algo natural quando o objetivo é causar tensão no jogador - não seria grande desafio se estivessem a atirar disparos na cabeça a torto e a direito. Considerando as limitações auto-impostas do género de terror, a jogabilidade de The Evil Within 2 funciona bastante bem.
A narrativa não é nada de brilhante, e não será por aí que vão ficar agarrados ao mundo de The Evil Within 2. Será antes pelo ambiente criado pela produtora, e pela forma como construíram Union. Existem, claro, muitas referências ao primeiro jogo, ao ponto de inicialmente serem uma pequena barreira a estreantes na série, mas com o desenrolar da aventura a narrativa torna-se mais independente do primeiro jogo. É uma estória simples, e as surpresas do enredo não o são realmente, longe de ter momentos memoráveis, mas serve para o objetivo de The Evil Within 2.
Embora a estória em si não seja fantástica, apreciámos o esforço da Tango Gameworks para melhorar a forma como a mesma é apresentada ao jogador. Os objetivos secundários que aparecem no transmissor que o protagonista carrega, as personagens que vão conhecendo ao longo do jogo, e os colecionáveis, todos contribuem para enriquecer o mundo de Union. O pior mesmo acaba por ser o próprio Sebastián Castellanos, que tem uma série de ações e atitudes incompreensíveis ao longo do jogo. Algumas das suas decisões são tão inacreditáveis e forçadas, que chegamos a suspeitar se o protagonista não terá algum problema mental.
A forma como expressa os seus sentimentos, num típico "overacting" dos jogos japoneses, também não abona a seu favor. Estas animações exageradas são pelo menos suportadas por um jogo superior em termos técnicos. O grafismo de The Evil Within 2 é notoriamente melhor que o do primeiro jogo, ainda que em termos artísticos não seja um jogo particularmente inspirado. O único elemento visual de The Evil Within 2 que se destaca, mesmo com o grafismo superior, são os momentos de absoluto 'gore', e as obras de arte 3D do vilão Stefano Valentini, sobretudo a sua última obra. Quanto à banda sonora, é razoável, mas não fica na memória. Por último, de referir os tempos de loading entre mapas, mais longos do que nos parece razoável, ainda que não sejam um problema relevante.
The Evil Within 2 faz por melhorar alguns elementos do primeiro jogo, e em muitos pontos é de facto superior, mas em relação ao género em si, faz pouco para se sobressair. Dentro dos parâmetros a que nos habituamos dentro deste tipo de jogos de terror, The Evil Within 2 é previsível, cumprindo com todas as regras e todos os pontos de ritmo que seria de se esperar. São 15 a 20 horas de muita ação e algum terror, o que não é necessariamente mau. Se é isso que procuram, vão gostar da experiência.