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Sony: "Ser líder de mercado dá uma responsabilidade acrescida"

Sandra Páscoa conquistou a PlayStation em Portugal, e agora vai fazendo o mesmo em Espanha. "Estou verdadeiramente apaixonada por esta indústria," confessou-nos em entrevista.

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Sandra Páscoa é um nome incontornável dos videojogos em Portugal, sobretudo quando se fala de PlayStation. Ao longo de uma década, passou do departamento de relações públicas em Portugal, para a liderança da comunicação em Espanha e na Península Ibérica. Embora confesse que, quando começou, estava desligada dos videojogos, hoje diz-se apaixonada pela indústria, e garante que não existe qualquer comodismo da PlayStation em Portugal, mesmo com os 85% de quota de mercado que afirmam ter.

Conversámos com Sandra Páscoa durante a Lisboa Games Week, sobre a sua carreira, a descriminação de sexos na indústria, as diferenças entre Portugal e Espanha, e vários assuntos relacionados com a PlayStation 4, consola que domina no mundo e em Portugal.

"A receção dos portugueses à PlayStation 4 tem sido semelhante ao que foi no resto do mundo. Anunciámos recentemente mais de 30 milhões de PS4 vendidas em todo o mundo, que é um número absolutamente esmagador e que fala por si. Acreditamos que a PlayStation 4 tem um longo futuro à sua frente e estamos verdadeiramente agradecidos aos consumidores por terem escolhido e continuarem a escolher a PlayStation 4. Penso que temos a melhor consola do mercado e estamos felizes porque as vendas refletem isso."

Sony: "Ser líder de mercado dá uma responsabilidade acrescida"
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Desde a era da PlayStation 2, que vários títulos da Sony surgem com localização portuguesa, um dado que saiu reforçado durante a geração da PS3. Agora, é imprescindível manter essa ligação ao público português.

"A localização é muito importante para nós, no sentido em que acreditamos que isso nos fortalece perante o mercado e perante o consumidor. Sem investimento é impossível oferecer ao consumidor aquilo que ele merece, e por isso esforçamos-nos por dar ao consumidor português, nem mais, nem menos, do que têm os consumidores de outros países. Para nós foi muito importante que a PlayStation 4 tenha saído em Portugal no mesmo dia em que saiu noutros países, mas não só. É importante marcarmos presença nos eventos e estarmos junto do consumidor, e trazer conteúdos mais direcionados ou adaptados aos portugueses. Adaptamos a nossa marca aquilo que é a realidade do nosso país. É tudo isto que faz com que a PlayStation tenha os 85% de quota que tem no mercado nacional, até porque em termos de notoriedade de marca, como diria o James Armstrong [ex-Vice Presidente da Sony Ibérica], Portugal e Espanha, mas mais Portugal, é o território número 1 do mundo em termos de marca PlayStation. Acreditamos que isso é fruto deste investimento que temos feito ao longo do anos."

"Também é importante o facto de estarmos presentes como empresa em Portugal desde 2004, e progressivamente fomos apostando no consumidor português. Fomos ouvindo a realidade do mercado e criámos alternativas. Mesmo em relação à localização dos jogos, porque também existem os jogadores 'puristas' que preferem jogar a versão original. Em alguns casos também prefiro jogar a versão inglesa, enquanto que noutros prefiro a versão portuguesa. Ter a opção entre as duas, isso é que é importante, o facto de não ser algo forçado, mas existir como hipótese. Há um nicho em Portugal que fala um inglês bastante interessante, mas também existem muitos jogadores que ainda não têm esse nível. Se queremos aproximar os videojogos de uma indústria de massas, e queremos que cheguem a mais pessoas, temos que criar essas oportunidade."

Com um sucesso tão esmagador em Portugal, pode cair-se na tentação de descansar sobre os louros conquistados, mas Sandra Páscoa garantiu-nos que se passa precisamente o oposto.

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"Não estamos acomodados, e nenhuma pessoa da nossa equipa está acomodada, e temos a sorte de ter um Senior Manager que defende muito Portugal. Somos uma verdadeira empresa Ibérica, no sentido em que entendemos a península como dois países: Espanha e Portugal. Obviamente que Espanha é um território maior que Portugal, mas temos a perfeita noção que a Ibéria só pode ser forte e competitiva se tiver um Portugal também forte e competitivo. Também temos a sorte de ter uma equipa que sente verdadeiramente a empresa e que veste a camisola, que não se acomoda e que quer fazer mais coisas. Ser líder do mercado só nos dá uma responsabilidade acrescida, e temos a obrigação de continuar a fazer um bom trabalho, e de tentar ter sempre mais e melhor conteúdo, e que os portugueses possam jogar ao mesmo tempo que os outros e nas mesmas condições. Isso foi visível no nosso stand da Lisboa Games Week. Não é fácil ter cá três estações do PlayStation VR, ou ter o multijogador do Uncharted 4 para os jogadores experimentarem, é preciso lutar muito por isso, mas temos uma equipa que se recusa a cruzar os braços."

A Sony teve uma presença esmagadora na Lisboa Games Week, mas também se destacou na Madrid Games Week e na Paris Games Week, onde concedeu uma conferência com anúncios importantes. Por outro lado, a Gamescom ficou um pouco esquecida a nível Europeu, ao contrário do que tem sido norma.

"Nós estivemos na Gamescom, porque a PlayStation Alemanha investiu bastante na Gamescom. A nível europeu não apostámos tanto na Gamescom este ano por uma questão de timing. Já tínhamos feito anúncios importantes na E3 e os timings da Gamescom não são muito bons para aquilo que é a realidade da maioria dos mercados europeus, ou até da deslocação de meios ou inclusive jornalistas. Com a proximidade da E3, não tínhamos ainda anúncios interessantes que justificassem uma conferência na Gamescom. Resolvemos antes apostar numa outra feira europeia de grande dimensão, neste caso a Paris Games Week, para podermos anunciar grandes novidades."

"A organização teve expetativas de ter 50 mil pessoas nos quatro dias da Lisboa Games Week, e isso são números muito interessantes para Portugal. Em termos de comparação, a Madrid Games Week teve 55 mil visitantes no ano passado, e este ano conseguimos subir para os 92 mil visitantes com grande esforço, ou seja quase que dobramos. Mas 50 mil, em comparação direta, é muito bom para a Lisboa Games Week. Acho que o ano passado se percebeu que existe a disponibilidade de muito público para vir até aqui e jogar, e há uma necessidade muito grande de conhecer conteúdo novo, de estar perto das marcas e de ver mexer a indústria. O público, os jogadores, querem isto. Não chega estar nas lojas, lançar spots para a televisão e trabalhar o marketing. É preciso contacto direto com o consumidor."

Sony: "Ser líder de mercado dá uma responsabilidade acrescida"Sony: "Ser líder de mercado dá uma responsabilidade acrescida"Sony: "Ser líder de mercado dá uma responsabilidade acrescida"
O espaço da PlayStation no Lisboa Games Week foi impressionante.

A Liga Oficial PlayStation é um dos exemplos do dinamismo da equipa da Sony em Portugal, Espanha, e até Itália, e durante a Lisboa Games Week foram anunciadas novidades sobre o serviço. Sandra Páscoa fez questão de confirmar a importância do projeto.

"A Liga Oficial PlayStation surgiu nesse sentido, porque é um projeto de aproximação ao universo da eSports, mas num sentido democrático. A Liga Oficial PlayStation não pretende ser apenas um palco para os melhores, mas também temos planos para fazer essas abordagens aos 'pro-gamers' no futuro. Gostamos que qualquer jogador possa participar na liga e encontrar um rival à sua medida, porque no fundo queremos que as pessoas joguem online, sejam menos ou mais experientes. Também estamos felizes por termos um local físico da Liga Oficial PlayStation, para as pessoas se encontrarem e onde possam jogar as finais, enquanto outras podem assistir."

"A Liga Nos, que anunciámos recentemente, também é um projeto interessante dentro da Liga Oficial PlayStation. Queremos fazer mais destas parcerias e criar conteúdo engraçado e original dentro da Liga Oficial PlayStation. Em Espanha, por exemplo, temos uma parceria muito interessante com a NBA, através do jogo NBA 2K15. Os jogos de basquetebol não têm muita expressão em Portugal, mas são populares em Espanha."

Sandra Páscoa está há um ano e meio em Madrid, tempo suficiente para aprender as particularidades do mercado espanhol. Segundo Sandra, o jogador português e espanhol são muito parecidos, salvo algumas diferenças pontuais.

"O perfil do jogador espanhol e português é muito parecido, mas existem algumas diferenças. Eles são super exigentes com a localização, e também têm toda uma indústria audiovisual preparada para dobragens. Existem outras diferenças pontuais, como o basquetebol e o NBA, que tem um interesse muito maior em Espanha. Os jogos de wrestling também têm mais procura em Espanha do que em Portugal, tal como os simuladores de condução. Em Portugal existem muitos fãs do género de condução, mas em Espanha é esmagador, sobretudo a marca Gran Turismo. De resto, não existem muitas mais diferenças."

Apesar da força que a PlayStation 4 continua a mostrar em todo o mundo, não se pode negar que - pelo segundo Natal consecutivo - falta um grande exclusivo na consola para esse período. Sandra Páscoa reconheceu isso, mas lembrou que 2016 promete imenso.

"Penso que temos um catálogo de exclusivos para 2016 muito interessante. É verdade que pode haver alguma ausência de exclusivos neste Natal, mas não nos preocupamos tanto com esta questão dos exclusivos. Sim, são importantes para a plataforma, mas temos muita confiança com os jogos que estão a caminho. O Horizon: Zero Dawn tem muito bom aspeto, mas também vale a pena falar do GT Sport - que será o primeiro Gran Turismo de PlayStation 4 -, do Street Fighter V, Uncharted 4: O Fim de um Ladrão, No Man's Sky, Detroit: Become Human, The Last Guardian... e o PlayStation VR, que também vai chegar em 2016 e que traz consigo uma série de exclusivos para a PlayStation 4. Acho que no fundo, o que consumidor quer é jogar, e penso que também tivemos a sorte de assegurar acordos muito interessantes com as outras editoras, com parcerias para Call of Duty: Black Ops III, Assassin's Creed: Syndicate, e Star Wars Battlefront. Antes disso também tivemos conteúdo exclusivo para Destiny e para Batman: Arkham Knight, tudo grandes blockbusters com acordos na PlayStation 4. Acho que quem comprar uma PlayStation 4 neste Natal não vai sentir falta de conteúdo nenhum."

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Da esquerda para a direita: Uncharted 4: O Fim de um Ladrão, Horizon: Zero Dawn, Detroit: Become Human - três exclusivos PS4 para 2016.

Há quase uma década na PlayStation, Sandra Páscoa confidenciou-nos que em pequena já era uma jogadora entusiasmada, mesmo que esse fervor se tenha perdido a caminho da adolescência. Agora, 10 anos depois, Sandra recordou o seu percurso e a forma como se voltou a apaixonar pela indústria.

"Em fevereiro fará 10 anos que estou na PlayStation e comecei como relações públicas. Fui contratada para ser Product e PR Manager, e éramos uma equipa muito pequena - e ainda somos -, e eu estava responsável por tudo o que era a parte de relações públicas, comunicação, relação com a imprensa e eventos, mas também fazia gestão de produto, o que é algo de que sinto alguma saudade. Agora estou em Espanha e estou mais ligada à parte de comunicação."

"Não esperava nada e não tinha qualquer expetativa. Eu aproximei-me do universo dos videojogos muito cedo, e até tive um ZX Spectrum. Jogava imenso nessa altura, mas depois na adolescência desinteressei-me um bocado dos videojogos e afastei-me bastante. Quando recebi o convite para vir para a PlayStation até tive alguma desconfiança, e questionei-me se iria gostar da experiência, se seria para mim. Quase 10 anos depois, estou verdadeiramente apaixonada por esta indústria. Não faço ideia do que o futuro me reserva, e nem gosto de fazer grandes planos nesse sentido, mas acho que todos nós que temos a oportunidade de trabalhar nesta indústria somos afortunados. Temos assistido a tanto dinamismo, a tanta coisa a mudar... quando entrei para a PlayStation, o primeiro jogo que lancei foi o Shadow of the Colossus para a PS2 - comecei em grande. Depois tive a oportunidade de lançar a PlayStation 3, de lançar a PS Vita, de lançar a PS4, de chegar agora à PlayStation VR... há muita coisa a mudar e é uma indústria muito dinâmica. É bom trabalhar numa indústria que tem um futuro tão grande à sua frente, que é uma forma de entretenimento que chega a cada vez mais gente."

Mesmo em século XXI, ainda existem muitas histórias e comentários sobre feminino e descriminação que as mulheres sofrem na indústria. Sandra reconheceu que esse ainda é um problema que não foi completamente erradicado, mas lembra que ao longo da sua carreira nunca sentiu isso na pele.

"Nunca senti descriminação por ser mulher em momento nenhum, nem a nível de percurso pessoal na empresa. Nunca senti que, por ser mulher, teria menos oportunidades, e para ser honesta, nunca me senti uma 'mulher'. Senti-me a Sandra, e penso que a Sandra podia ser homem ou mulher que não faria diferença. Sinto-me competente, uma profissional a trabalhar numa indústria que aprendi a gostar imenso ao longo dos últimos 10 anos. Quanto vou a feiras internacionais, ou visitas a estúdios, começo a ver muitas mulheres envolvidas na produção de videojogos. Penso que essa diversidade é muito interessante, porque trás tónicas diferentes à criação de videojogos. Sabemos e ouvimos falar de várias histórias com mulheres, que foram perseguidas ou descriminadas, e isso deixa-me obviamente triste, porque não faz qualquer sentido no mundo em que vivemos. Desde que haja talento, o género sexual não devia ser uma discussão. Mas eu a nível pessoal nunca senti descriminação."

Sandra Páscoa fez ainda questão de lembrar que o apoio à PlayStation 3 continua, e que a consola ainda é a segunda consola mais vendida em Portugal (Xbox One será apenas no contexto da nova geração, segundo André Cardoso, da Microsoft).

Em fevereiro, Sandra Páscoa fará uma década de PlayStation, mas pela energia com que fala da indústria, tem ainda muito para dar aos videojogos.


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