Todas as jornadas, até as mais gloriosas, começam com um simples passo. No caso de Shiness: The Lightning Kingdom, esse "passo" é antes um desastre de avião numa terra desconhecida. Este RPG de ação da Enigami cumpre os requisitos essenciais para uma aventura clássica: uma terra desconhecida e mágica, personagens heróicas, uma força das trevas para travar, e uma separação clara entre o bem e o mal. É uma premissa clássica com um arranque promissor, ainda que a espaços a aventura tropece atabalhoadamente.
Um desses primeiros tropeções chega na forma do desempenho dos atores de voz. Não é horrível, mas este departamento tem evoluído bastante nos últimos anos, e aqui está abaixo da média. A maioria dos afirmações parecem forçadas, em vez de inspiradas, e o guião também não ajuda. A exposição narrativa é feita de forma muito óbvia, e por vezes excessiva, como se o jogador fosse incapaz de perceber alguns elementos da narrativa por si só. Nem todas as conversações são feitas com vozes - uma boa fatia é feita apenas com textos -, mas até aqui existem falhas, incluindo erros ortográficos em inglês. Neste departamento, Shiness falha em causar boa impressão, ainda que as personagens sejam adoráveis.
Esse elogio estende-se ao mundo de jogo, dividido em termos de estilo, temas, e mecânicas. Enquanto a primeira área está coberta de paisagens bonitas e superfícies verdes, eventualmente vão explorar cavernas sombrias, florestas macabras, castelos cinzentos, e tudo pelo meio. O jogo tem variedade suficiente para se manter vigorante ao longo da aventura, um elemento reforçado pela quantidade de caminhos e segredos que podem encontrar. É também o estilo de jogo que convida o jogador a regressar às áreas anteriores, depois de adquirirem habilidades que vos permitam aceder a áreas previamente bloqueadas.
Ao longo da aventura vão controlar várias personagens, e cada uma tem algo de peculiar. Chado, o primeiro que vão controlar, consegue criar um menir nas suas costas, que pode ser arremessado ou pousado em plataformas. Poky consegue manipular elementos como vento, água, e fogo, embutindo-os em cristais. Quando a Kayenne, consegue mover objetos com o poder da mente. Estas habilidades são todas exclusivas para o modo de exploração, em particular para resolver puzzles, e depois têm outras habilidades para os combates. Os puzzles em si são criativos, e incentivam à combinação de várias habilidades. São puzzles não só psicológicos, mas também físicos, o que é perfeito para este tipo de jogo com elementos de plataformas.
Existem no entanto algumas falhas de design, e a mais grave é o facto do jogo se esquecer de ensinar alguns elementos da jogabilidade e da resolução de puzzles. Ditam as regras de bom design que, antes de se atirar o jogador para um puzzle complicado, é necessário ensinar-lhe as regras de jogo e as mecânicas. O problema é que encontrámos alguns puzzles onde isso não aconteceu, e embora a solução fosse fácil, perdemos algum tempo a tentar perceber o que fazer porque o jogo nunca nos tinha ensinado uma mecânica. Nota ainda para as sequências de plataformas, que embora não sejam más, também não são perfeitas. Parecem algo datadas, mais próprias da era da PS2 do que da atual.
O sistema de combate é um dos pontos fortes do jogo, e é algo peculiar. Independentemente do número de inimigos que encontram ou dos vossos companheiros, lutam sempre um contra um. Quando uma personagem, do jogador ou do inimigo, é derrotada, é substituída por outra, até todos os elementos de uma das equipas estarem fora de combate. É uma configuração interessante, que permite manter um maior equilíbrio nas batalhas, e que ganha uma vertente tática quando começam a alternar personagens em tempo real. Não é um sistema muito natural ou dinâmico, mas funciona bem em termos práticos. O pior elemento dos combates acaba por ser a câmara, por vezes bloqueada por objetos do cenário, como árvores, arbustos, e postes.
Shiness: The Lightning Kingdom é uma aventura interessante, ainda que tenha várias falhas, e merece ter pernas para viver. Estamos muito curiosos para perceber como a Enigami pretende evoluir a série, e gostaríamos que tivessem essa oportunidade para criarem sequelas. Como saga, existe aqui potencial para um grande crescimento, e tudo porque The Lightning Kingdom é já uma base muito sólida.