Rime é um jogo que lembra ICO, Journey, e The Witness, e que tem atraindo interesse e atenção desde que foi anunciado. O processo de produção, contudo, não foi fácil. Chegou a ser ponderado como um exclusivo Xbox, mas passou para o outro lado da barricada, e foi anunciado como um exclusivo PS4. Isso no entanto também veio a mudar, quando o estúdio - Tequila Works - confirmou a re-compra da licença de Rime. Agora está finalmente disponível, para PC, PS4, e Xbox One, e até será lançado para Nintendo Switch num futuro próximo.
Rime não tem muito a dizer ou contar ao jogador, pelo menos de forma direta. Na pele de um rapaz, vão acordar numa ilha misteriosa, sem qualquer informação sobre quem é o protagonista, onde estão, ou qual é o objetivo. Rime tem um ritmo lento, acompanhado por sons naturais do mar, e uma banda sonora subtil. É um jogo que, sim, vai buscar muita inspiração a outros títulos, mas também tem os seus toques de originalidade. É um jogo que pretende ser especial, que pretende tocar no coração do jogador e perdurar na sua memória. Não o consegue totalmente, sobretudo devido ao atabalhoado terceiro ato, mas é um esforço louvável.
Não vão saber o que fazer ou para onde ir. É um jogo que incentiva à exploração, e que embora não diga nada ao jogador, mostra-lhe. A forma como o design está feito, eventualmente vai guiar o jogador até ao centro da ilha, e passando algum tempo, vão ver uma enorme torre no horizonte - não muito diferente da sensação de ver a montanha em Journey. Aquele é claramente o objetivo, e agora só têm de descobrir como lá chegar.
A ilha em si é grande, mas nunca de forma esmagadora. E embora possam tomar vários caminhos (alguns que conduzem a segredos), existe um guia na forma de um espírito de raposa que vos irá auxiliar durante o percurso. Seja através de demonstração visual, ou através do seu uivar, vão encontrar vários indícios da sua ajuda - o que não sempre é agradável. Se por algum motivo decidirem não seguir de imediato as suas indicações, o seu uivar pode tornar-se gradualmente mais irritante, quebrado o que é de resto um ambiente muito calmo e silencioso.
Não partilhámos da devoção do protagonista a esta raposa, e esse é um dos maiores problemas de Rime - a falta de emoção. Os dois jogos que mencionámos ao início, ICO e Journey, são ambos bastante emocionais apesar da estrutura e narrativa simplista. Seja através da relação de Ico com Yorda, enquanto agarram a sua mão, ou a sensação de conquista, solidão, e ocasional camaradagem de Journey, estamos a falar de dois jogos capazes de criar grande ligação com os jogadores sem grande alarido. Rime segue a mesma fórmula, e é de facto simplista e misterioso, mas falha na criação de uma ligação emocional entre jogo e jogador. O último ato é particularmente forçado, e falha em captar eficazmente a emoção humana, caindo no mesmo erro do exagero de vários filmes de Hollywood.
É uma pena que o jogo falhe em conseguir este objetivo, e em particular que o terceiro ato seja tão confuso, porque há muito para apreciar em Rime. Tecnicamente não é o jogo mais espetacular que já vimos, e até tem algumas quebras de fluidez, mas a sua direção artística é impressionante. Em partes lembrou-nos também de The Witness, embora em termos de experiência de jogo sejam completamente diferentes. A ilha é graciosa, tanto de noite, como de dia, e convida à exploração por parte do jogador.
Além de secções de plataformas, Rime inclui também vários puzzles. São desafios que, embora interessantes, não são particularmente difíceis. Parece-nos um bom equilíbrio, entre algo que exige observação, mas que nunca se torna frustrante - pelo menos na maioria das ocasiões. Existem algumas exceções que devemos assinalar, puzzles que não nos pareceram particularmente lógicos, e alguns que até parecem quebrar as regras que o jogo introduziu até aí. Nestes casos específicos, não existe uma sensação de satisfação ao resolver um puzzle, mas antes de alívio por finalmente conseguirmos continuar a aventura. Felizmente, estes exemplos são a exceção, e a maioria dos puzzles - sobretudo os que usam a perspetiva -, são interessantes e divertidos.
Rime tem muitas inspirações evidentes, mas também é original o suficiente para apresentar a sua própria identidade. Não consegue atingir todos os objetivos a que se propôs, mas adorámos explorar esta ilha mágica que foi casa para muitas vidas e civilizações. Tem os seus tropeções aqui e ali, mas no geral Rime é uma experiência que recomendados vivamente. Se não lhe exigirem que seja um novo ICO, ou um novo Journey, têm tudo para apreciar esta viagem especial.