Existem vários exemplos de coisas que apareceram antes do seu tempo. Certos filmes, livros ou neste caso, jogos, que não chegaram no momento perfeito porque simplesmente o mundo não estava prontos para eles. Não que seja um ponto muito relevante, mas é isso que nos ocorre quando pensamos no primeiro capítulo do Oddworld original, sobre a história de Abe, um escravo Mudokon. Quando foi lançado, em 1997, Oddworld: Abe's Oddysee primou pela excelência do design e da atmosfera.
Era uma história sombria sobre o capitalismo e industrialismo levados ao extremo, mas também era sobre o protagonista Abe descobrir as suas origens e ganhar coragem para ultrapassar os obstáculos. O mundo dos videojogos recebeu Oddworld de braços aberto, mas mesmo assim parece-nos que chegou um pouco cedo demais, sobretudo porque a idade média dos jogadores era ainda algo baixa nessa altura. Agora, com o lançamento de Oddworld: New'n'Tasty, um remake do original, será que é a altura ideal para o aparecimento da aventura de Abe?
Assim que começamos a jogar Oddworld: New'n'Tasty, fomos invadidos por uma tremenda sensação de nostalgia. Visualmente o jogo foi completamente refeito e está diferente, melhor, mas o espírito do original continua intacto. O menu principal, de onde aparece Abe através de um buraco no meio do ecrã, é uma das nossas melhores memórias desses tempos e é bom ver que a produtora Just Add Water aproveitou esse pormenor delicioso. E sim, ainda é possível fazer com que Abe exclame todo o tipo de efeitos sonoros. Abe tem, naturalmente, melhor aspeto nesta versão. Muito melhor aspeto. E o mesmo aplica-se aos cenários, desde o pesadelo industrial às florestas, tudo enriquecido num glorioso 3D (embora o jogo decorra no tradicional plano lateral).
O original, para PSOne, tinha já um aspeto fantástico e mesmo hoje em dia não ofende ninguém. Contudo, é inegável que a nova versão tem muito melhor aspeto. A forma como a luz passa através das ventoinhas e das árvores, ou como o cenário de fundo mostra um mundo muito maior do que é evidente em primeiro plano, é algo que acrescenta bastante à experiência. Nota-se que a Just Add Water fez um esforço para criar a atmosfera certa e conseguiram-no.
Se existe algo que talvez pudesse ter sido trabalhado mais um pouco, são as personagens. Por vezes parecem recortes, coladas em cima de cenários detalhados e lindos. Também gostaríamos de ter visto mais inovação na forma como Abe pode morrer. Na nossa opinião, seria um pormenor que iria acrescentar variedade e piada à experiência, apesar de parecer um pouco macabro dito desta maneira (mas somos boas pessoas, a sério!).
Além do óbvio melhoramento gráfico, e da passagem das duas para as três dimensões, as mecânicas de jogo permanecem muito parecidas com as de 1997. Basicamente movem Abe para a esquerda ou para direita, resolvendo puzzles e evitando minas, bombas e inimigos, enquanto o tentam guiar para a liberdade. Oddworld: New'n'Tasty, como o original, é um jogo de tentativa e erro. É uma opção de design arriscada, que oscila entre o recompensador e o frustrante. Momentos onde falham saltos e aterram em cima de bombas ou caem em buracos são particularmente irritantes, resultando em morte imediata.
Os controlos, mesmo em 1997, não eram os melhores e agora também não o são. Isto não seria um problema tão grave se os checkpoints não estivessem tão mal posicionados. Não se percebe como somos obrigados a repetir algumas secções. É o tipo de decisão de design irritante que pode mais depressa motivar a desligar a consola do que a continuar a jogar.
Ainda assim, Oddworld: New'n'Tasty merece a vossa atenção. Embora existam momentos frustrantes, a experiência é, de forma geral, muito positiva. Trata-se de uma aventura de plataformas com excelente ambiente, bons momentos de jogabilidade e um protagonista memorável. Não importa se são fãs do original ou se nunca ouviram falar de Abe's Odyssey. Se gostam do género, vale bem a pena.