Lembramos-nos bem do momento em que Jump Force foi anunciado na conferência da Microsoft na E3 2018. Goku e Freeza de Dragon Ball apareceram, junto com Luffy de One Piece, e Naruto de... bem, Naruto. A perspetiva destas personagens incontornáveis da animação japonesa entrarem em conflito, pareceu entusiasmante, mas depois reparámos no nome da produtora, a Spike Chunsoft. O estúdio conta com vários jogos de luta baseados em animação japonesa no seu currículo, e se alguns até podem ser divertidos em pequenas doses, a verdade é a qualidade não costuma ser muito alta. Com jogos como Dragon Ball FighterZ e Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4 no mercado, jogos de qualidade elevada, tememos que a Spike Chunsoft não estivesse à altura das exigências.
Infelizmente, não estávamos enganados.
O jogo arranca com Frieza a aterrorizar Nova Iorque - sim, a Nova Iorque real - com o apoio de um grupo de lacaios que parecem ter sido clonados, até que um dos golpes do vilão de Dragon Ball Z atinge a câmara. Eis que surge Future Trunks, com um estranho cubo de metal, que acaba por salvar o jogador. Não Goku, não Naruto, mas o jogador.
À semelhança de jogos como Dragon Ball Xenoverse e Naruto to Boruto: Shinobi Striker, Jump Force permite que o jogador crie a sua própria personagem para o modo história. Nas opções de personalização vão encontrar vários estilo anime, correspondentes às séries que aqui estão representadas, mas esta mistura não funciona muito bem, sobretudo porque alguns elementos parecem excessivamente realistas, e contrastam imenso com as restantes personagens. Seja como for, são rapidamente recrutados por Future Trunks para participarem nesta guerra que trouxe vários universos anime para o mundo real.
É uma pena que, depois disto, sejam presenteados com uma história confusa, com um argumento fraco, e que nem sequer aproveita muito bem as personagens em seu poder.
Jump Force, como a maioria das séries em que se baseia, é espalhafatoso, barulhento, e em momentos, espetacular. As animações das personagens em combate são fluídas, e apesar do caos inerente ao género, com efeitos a voarem por todo o lado e movimentos frenéticos da câmara, acaba por ser entusiasmante. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito das sequências de história da campanha. Os movimentos das personagens nestes momentos são quase estáticos, com total ausência de personalidade ou emoção. Lembram-se de como era difícil brincar com bonecos que não eram articulados? Foi disso que nos lembraram as sequências de história de Jump Force.
A nível de estrutura, a campanha envolve explorar um pequeno mundo aberto, onde podem conversar com algumas personagens e comprar itens. Também funciona como uma espécie de hub online, com jogadores a passearem pelo mapa. Um dos problemas desta secção é que o jogo não é muito bom a dar indicações, e navegar o mapa pode ser algo frustrante. Este problema é agravado por um design arcaico e honestamente feio dos menus e da interface. Pior ainda, o jogo tem alguns problemas de optimização, sobretudo ao nível dos loadings, que são enormes.
O melhor elemento de Jump Force acaba por ser o sistema de combate, baseado em movimento 3D. A câmara é posicionada nas costas da personagem, e tudo se passa numa arena relativamente fechada, com várias etapas, mas sem a capacidade de voo. Isto limita as personagens que conseguem voar, como as de Dragon Ball, mas equilibra os lutadores e mantém o combate focado. Podem executar desvios, golpes defensivos, e alguns ataques. Como noutros jogos de luta semelhante, os controlos não variam muito de personagem para personagem, o que torna a jogabilidade acessível, ainda que pouco profunda. O que realmente impressiona no sistema de combate é a forma como o jogo captura as características de cada personagem e os respetivos poderes, proporcionando algumas batalhas visualmente impressionantes, ainda que a nível de jogabilidade não o sejam realmente.
Jump Force inclui também jogabilidade multiplayer, tanto local, como online, e ambos funcionam bem. Aliás, os melhores momentos que tivemos com Jump Force foram partilhados com amigos, o que é facilitado pelo sistema de combate simples e acessível.
Se, como nós, são grandes fãs de algumas destas animações, vão apreciar as referências, as transformações das personagens, e muitos outros pormenores, mas isso não chega para fazer um bom jogo. O modo campanha é fraco, e precisava de muito trabalho, enquanto que o sistema de combate, embora divertido em curtas sessões e visualmente impressionante, não oferece profundidade suficiente para realmente nos agarrar. Dragon Ball FighterZ estabeleceu uma nova referência para jogos de luta baseados em anime, e Jump Force simplesmente não consegue estar à altura.