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Gylt

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É o único exclusivo de lançamento do Stadia, e não é impressionante.

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Gylt é um dos 22 jogos de lançamento do Google Stadia, que está agora disponível em vários territórios - Portugal e Brasil só em 2020. Ainda assim, os nossos colegas internacionais já têm o serviço ativo há vários dias, e estiveram a experimentar vários dos títulos disponíveis. Um dos que testaram com maior detalhe foi Gylt, que é o único jogo exclusivo entre o lote de lançamento.

Gylt foi produzido pela Tequila Works, estúdio espanhol que no passado nos trouxe Rime, The Sexy Brutale, e Deadlight. Nesta aventura irá encarnar o papel de Sally, uma rapariga que na cidade montanhosa de Bethelwood. É uma comunidade pacífica, que trabalha maioritariamente nas minas, mas tudo muda com o desaparecimento de Emily Kauffman, prima de Sally. Empenhada em encontrar a prima, Sally parte para a aventura, mas depressa depara-se com algo bem mais assustador - uma versão da cidade infestada por criaturas monstruosas.

O jogo faz alguns paralelismos entre a vida das duas jovens no mundo normal, e as peripécias de Sally na versão monstruosa da cidade, como o facto de Sally ter de evitar monstros na escola da mesma forma que tem de evitar bullies. Através deste percursos, Sally aprende a dominar os seus medos, e começa lentamente a responder à letra. É uma premissa interessante, mas que o jogo não explora realmente a fundo, preferindo colocar muito do contexto das situações no próprio cenário. Vai encontrar desenhos e mensagens nas paredes da escola, que ajudam a pintar a imagem da realidade do que as jovem enfrentam no seu dia-a-dia, ainda que o seu impacto seja diferente nas duas primas.

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Como Sally está isolada durante a maior parte do jogo, não existe praticamente ninguém que possa evoluir a narrativa, que possa interagir nesse sentido com Sally. Isto significa que a personagem acaba por falar imenso consigo próprio, o que é um mecanismo de exposição narrativa bastante cansativo. Ainda assim, o conjunto das personagens de Sally e Emily, e o que é explorado em termos de história, acaba por ser satisfatório.

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O maior pecado de Gylt infelizmente é mesmo a jogabilidade. Irá sobretudo explorar a escola de Bethelwood, ou melhor, uma versão meio assustadora que parece composta por versões de crianças das criaturas de Lovecraft. Inicialmente, Gylt parece algo aberto, com diferentes oportunidades de exploração para aprender mais detalhes sobre a comunidade e recolher recursos extra, mas acaba por se revelar um jogo bastante linear. Isso não é mau por si só, mas precisa de oferecer mais do que as suas mecânicas básicas para agarrar o jogador.

Gylt é sobretudo um jogo furtivo, o que significa que normalmente a melhor solução passa por evitar o confronto com as criaturas. Durante a maior parte do tempo vai andar agachado, e irá vasculhar o mapa à procura de inaladores para a asma de Sally (itens que curam a saúde), pilhas para a lanterna, e textos que enriqueçam o contexto da narrativa. É uma estrutura de jogo que pouco ou nada se altera durante a campanha de seis a sete horas.

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Ainda assim, tem acesso a algumas ações, como usar a luz da lanterna para atrair monstros, e vários tipos de criaturas que requerem abordagens diferentes, mas o jogo é demasiado óbvio em termos de design, do caminho a seguir, e dos inimigos a evitar ou a enfrentar. O jogo nunca parece confiante o suficiente para deixar que o jogador escolha o seu caminho ou explore opções, apresentando-lhe sempre a solução para o problema em questão. Isto significa que está apenas a seguir o ritmo e as instruções do jogo.

Pode ter reparado que em cima referimos que é possível lutar contra algumas criaturas, e isso acontece porque eventualmente é mesmo introduzido um sistema de combate. Quando dizemos "combate", estamos a ser muito simpáticos, porque tudo o que vai fazer é concentrar focos de luz da lanterna em pontos fracos dos inimigos até que rebentem. Não é profundo, e não consegue ser tenso o suficiente para se tornar assustador.

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E assim chegamos à nossa maior queixa relativa a Gylt, que é o facto de apresentar uma inconsistência em termos de tom. A premissa lembra Silent Hill, mas o visual é bem mais infantil, enquanto que as personagens parecem saídas de algo como Stranger Things. Por tudo o que apresenta, Gylt não é um jogo para crianças, mas também não é imaginativo ou tenso o suficiente para ser assustador ou apelativo para o público adulto. O jogo fica assim perdido entre dois mundos, e não é claro para quem é realmente direcionado.

O estilo visual pode ser incoerente, mas pelo menos apresenta alguns detalhes gráficos interessantes. O estúdio já tinha mostrado ter uma divisão artística de qualidade com os seus projetos anteriores, e voltou a comprová-lo com Gylt. Gostámos da forma como o cenário conta parte da história - ainda que em demasia -, e as prestações dos atores são bastante competentes, mesmo que não existam muitos diálogos no jogo.

Gylt não é um mau jogo. O seu estilo visual é algo incoerente, mas não deixa de ser bonito, e embora demasiado simples a nível de mecânicas, é satisfatório de se jogar. Tal como nos seus projetos anteriores, a Tequila Works volta a evidenciar que tem gente talentosa entre o seu estúdio, e que pode um dia aspirar a voos mais altos, mas continua a não conseguir atingir o potencial que os seus jogos demonstram ter. A falta de profundidade, a inconsistência de tom, a linearidade excessiva, e algumas escolhas de design menos felizes, prejudicam a experiência de Gylt. Como referimos, não é mau, mas como primeira amostra de um exclusivo Stadia, está longe de impressionar.

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06 Gamereactor Portugal
6 / 10
+
História interessante. Design encantador do mundo.
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O tom do jogo é inconsistente. Falta profundidade às mecânicas de jogo.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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ANÁLISE. Escrito por Magnus Groth-Andersen

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