Miles Jacobson já não é nenhum desconhecido para os jogadores mais atentos, sobretudo aqueles que passam horas a jogar a treinar os seus clubes virtuais. Trata-se, afinal de contas, do homem-forte por trás de Football Manager. Esta altura do ano é particularmente movimentada para Miles, que tem de se desdobrar entre o período final de produção, campanhas de marketing e entrevistas com a imprensa. O Gamereactor esteve à conversa com Miles, que desabafou a complicação que é o processo de terminar a produção de um jogo.
"A forma como os jogos eram feitos no passado, implicaria que normalmente, nesta altura do ano, o jogo já estaria terminado e eu estaria a viajar pelo mundo a fazer de relações públicas. Mas agora, com o Steam e o produto digital, podemos ter discos do jogo no escritório que nem sequer têm um único ficheiro executável."
"Quanto ao jogo em si, é provável que eu só confirme o término da produção a dois ou três dias do lançamento. Antigamente isso tinha de acontecer seis semanas antes. É bom ter este período extra de produção, porque isso significa que o jogo estará mais polido no dia de lançamento."
Como fã incondicional de futebol, não podíamos deixar de falar um pouco do Campeonato do Mundo com Miles.
"Penso que venceu a melhor equipa, além de que era a equipa em que eu apostava mais, por isso fiquei contente. Também vimos alguns jogadores destacarem-se, muitos deles que já eram conhecidos pela equipa do FM há bastante tempo, como James Rodriguez. Fiquei um pouco desapontado com a França, pensava que iam um pouco mais longe, mas a oposição foi demasiado forte. Mas de forma geral, penso que foi um bom Mundial. Não me surpreendeu que Inglaterra não tenha passado a fase de grupos, já estava à espera. Era o fim de uma era para o futebol inglês. Era a última oportunidade para muitos jogadores, e depois do Mundial, muitos abandonaram a seleção."
Mas o Mundial já lá vai, e agora, com os principais campeonatos já em andamento, é altura de concentrar atenções no jogo.
Penso que a janela de transferências foi muito interessante. O Manchester United, na minha opinião - e eu escrevi sobre isso no jornal Mirror -, fez excelentes contratações para o ataque, mas se não tiverem uma defesa à altura, não vão ganhar a bola. Eles precisavam desesperadamente de mais um defesa central [além de Marcos Rojo, supomos] e de um médio defensivo, mas não foram buscá-los. Se tivessem essas duas posições bem preenchidas, estariam mais acima na classificação. Quanto às outras equipas, estão ainda a tentar incorporar muitos dos jogadores novos. Em relação ao meu amado Watford, neste momento estamos no segundo lugar da segunda divisão, apesar de já irmos no quarto treinador esta época. As pessoas podem pensar que isso é uma maluquice, mas existem razões para esta troca de treinadores. Não havia muito a fazer sobre o segundo e terceiro treinador. Mas de forma geral, penso que foi um bom início de campeonato."
"A Espanha, com Cristiano Ronaldo, está a provar que o futebol é de loucos. Já tem 14 golos em oito jogos, certo? [na verdade são 16 golos em oito jogos]. Enfim. A Espanha parece que está a tentar partir o nosso motor de jogo com estes números, o que causou alguns problemas durante a fase de testes. Isto porque tentamos ser o mais realistas possíveis, mas ao mesmo tempo é necessário manter o jogo equilibrado."
Apesar de já ter falado do Manchester United, queríamos saber o que pensa Miles Jacobson da transferência, por empréstimo, de Radamel Falcão, do Mónaco para o Manchester United, que aparentemente tem uma cláusula de compra de 56 milhões de euros imposta no contrato.
"Alguns jogadores queixam-se quando, no FM, outros clubes pedem meio milhão, ou um milhão de libras, mais ordenados, para emprestarem um jogador durante uma temporada. As pessoas não se apercebem disto, mas os empréstimos também envolvem muito dinheiro."
Se olharmos para o Chelsea, eles na última temporada tinham 31 jogadores emprestados. Esta temporada têm 24 ou 25 jogadores. Alguns estão a rodar, para ganharem experiência, mas outros estão a render boas receitas de empréstimos. Além disso, os seus ordenados são cobertos pelos outros clubes. O Chelsea está a usar esses jogadores para conseguirem circular em torno do fair play financeiro. É um modelo de negócio que alguns clubes estão a usar.
Deixando um pouco do futebol real de lado, centrámos atenções no próprio jogo. Num jogo que segue uma tendência anual como é Football Manager, é costume esperar-se uma evolução, e não tanto uma revolução, algo que Jacobson comentou.
"Como acontece sempre com os nossos jogos, existem centenas de novidades. E embora tenham razão no que dizem, o jogo evoluiu bastante, e pode existir evolução com a revolução. E é isso que estamos a tentar fazer."
"Penso que os jogadores vão perceber imediatamente a nova interface. E uma das primeiras coisas que vão fazer este ano, será a criação do seu próprio perfil. Para ser honesto, já devíamos ter introduzido isso mais cedo. Também podem escolher que tipo de treinador querem ser, ou as áreas em que serão melhores por defeito. Preferem ser treinador de fato-treino e estar no campo de treinos a treinar a equipa? Ou preferem antes lidar com os jogos mentais, a imprensa e serem mais respeitados pelos jogadores? Todos estes atributos vão subir com o tempo."
"Quando as pessoas jogarem a sua primeira partida, também vão reparar nas 2000 novas animações do jogo. Tem muito melhor aspeto, já não parece um jogo da década de 90. Ainda não está ao nível de um FIFA ou PES, mas também não é isso que pretendemos para o nosso motor de jogo. O nosso objetivo é que se pareça com um verdadeiro jogo de futebol. E para isso ainda vamos precisar de mais alguns anos. Estamos muito sérios em relação a isso. Estabelecemos um plano a longo prazo para o nosso motor de jogo, e este ano é o primeiro passo desse plano."
"As pessoas estão à espera de uma grande revolução... mas que mais nos falta fazer? Não existem muitos elementos do futebol que anda não tenhamos replicado. Não vamos dar armas aos jogadores para começarem aos tiros, nem dar 30 turnos aos jogadores durante uma invasão alienígena. Não, esse tipo de coisas não vão acontecer, mas o fair play financeiro vai continuar a evoluir. E o motor 3D também. O Player Power também é outra mudança importante. Vamos continuar a inovar a série e o género acrescentando elementos novos. Vamos continuar no caminho que estamos a seguir e as pessoas parecem estar satisfeitas com isso, já que vendemos mais cópias a cada ano."
Embora Jacobson admita que o sistema financeiro de FM não é exatamente realista - "seria necessário um doutoramento em economia" -, a equipa tem feito esforços para implementar elementos como o fair play financeiro, a partilha de direitos de jogadores e os fundos de investimento.
"Penso que o fair play financeiro já tinha sido bem implementado no ano passado, e agora melhorámo-lo. Temos recebido muitos conselhos de chefes executivos ligados a clubes de futebol, mas também temos tido a ajuda de alguém que trabalhou com a UEFA precisamente no plano do fair play financeiro. E ele agora trabalha conosco. Ou seja, qualquer problema que existisse o ano passado foi agora resolvido."
Recentemente a FIFA decidiu terminar a partilha de direitos dos jogadores, estipulando que o clube onde joga um jogador, tem de deter a totalidade dos direitos desse jogador. Na prática, isto vai acabar com os fundos de investimento, que são muito utilizados entre os clubes brasileiros e portugueses.
<i>"Vamos ficar chateados se isso acontecer. Vamos ficar chateados porque temos programadores a trabalhar há dois ou três anos numa forma de simular isso de forma correta, para que clubes, como os de Portugal, possam vender os direitos dos seus jogadores para receberem algum dinheiro. E agora que temos isso finalmente pronto, a FIFA decide tornar os fundos ilegais. Por isso, sim, é frustrante."
"Brasil e Portugal são provavelmente os que mais usam isto. Ao ponto que existem fundos de transferência associados a alguns agentes de grande importância e até treinadores. Também existem presidentes e donos de clubes envolvidos nestes esquemas para comprar percentagens dos direitos dos jogadores. Se isto acontecer, a situação vai mudar de forma dramática para Brasil e Portugal, bem como noutros países. Sem o dinheiro extra a entrar a curto prazo, não terão tanta capacidade competitiva."
A Liga Indiana é outro elemento atípico no mundo do futebol, já que estão a convencer vários jogadores que já se tinham retirado ou estavam próximos disso. Isto não está incluíndo em FM 2015 e Jacobson explicou porque isso é difícil de atingir com Football Manager.
<i>"O principal motivo é perceber como irá começar. O arranque da Liga está marcado para outubro, mas nós não sabemos as regras. E sem saber as regras é difícil programar algo. Também há a complicação acrescida de estarem a convencer jogadores que já se tinham retirado. Ou seja, teremos de esperar para ver como corre. Estamos a falar de jogadores de 44 anos com contratos de dois meses. O futebol é de loucos, e a Indian Super League eleva isso ao expoente máximo."
Football Manager 2015 já está em versão beta, e pode ser jogador por quem fez a reserva do jogo via Steam. O jogo será oficialmente lançado a 7 de novembro.