O período da 'revolução -indie' foi algo de muito especial, uma altura em que inúmeros estúdios mais pequenos conseguiram chegar-se à frente graças a custos de produção menores e distribuição facilitada pelas plataformas digitais. Hoje, jogos indie são uma certeza instalada no mercado, e a influência destes títulos pode tremenda, como são disso exemplo Limbo e Inside da Playdead, dois títulos que apresentaram jogabilidade de plataformas em espaços 2D, que se serviram de um ambiente altamente atmosférico para contarem as suas histórias.
Vários jogos foram influenciados por esses dois títulos, como foi o caso de Far: Lone Sails, do estúdio alemão Okomotive. Em Lone Sails era possível pilotar um estranho veículo através de terra e areia, num cenário pós-apocalíptico, e o jogo invocava o espírito de um sobrevivente solitário, corajoso na forma como desafiou o desconhecido. Far: Lone Sails acabou por ser bastante elogiado, pela forma como apresentava uma atmosfera parecida com a dos jogos da Playdead, inclusive em termos de puzzles de física e jogabilidade 2D, mas com a peculiaridade do veículo.
Eis que agora chega uma nova aventura da mesma coleção, Far: Changing Tides, um jogo que o estúdio considera mais como "uma peça de acompanhamento" do que uma sequela direta a Lone Sails.
A nível narrativo é muito vago, tal como o antecessor o era. O mundo acabou, e agora terá de percorrer o pós-apocalíptico com outro protagonista. Toe deseja abandonar a cidade inundada em que se encontra. Porquê, o que aconteceu ao mundo, e como Toe sobreviveu, bem, são questões para as quais não existem respostas. Existem algumas pistas aqui e ali, mas em última análise a história do jogo original ao menos explicava que o veículo era algo da criação do protagonista Aqui, Toe limita-se a sair da cidade inundada, encontra uma embarcação flutuante, e faz-se ao mar. É um começo atípico, que leva a uma primeira hora de jogo algo estranha.
Embora esta embarcação se torne tão ou mais complexa de controla que o veículo do primeiro jogo, nos primeiros 40 ou 50 minutos é sobretudo guiado pelo vento e pelas velas. Bem, bastará dizer que estar a coordenar velas à direção do vento não é um processo particularmente divertido, em particular durante tanto tempo. Felizmente, eventualmente irá encontrar um motor que se irá tornar na principal fonte de aceleração, o que dá início a um processo mais familiar com o que conhecemos no primeiro jogo. Terá de cuidar do motor, manter um certo nível de temperatura, arranjar combustível, e lidar com eventuais problemas que possam surgir.
Far: Changing Tides utiliza grafismo 3D mas é totalmente jogado em 2D, e apresenta o mesmo estilo de jogabilidade que mistura plataformas e puzzles, conforme tenta remover obstáculos e facilitar o progresso da embarcação. É tudo muito familiar, salvo a mudança de superfície, mas isto não é realmente um elogio.
Admitimos que Far: Changing Tides é uma experiência muito interessante e evocativa, enriquecida por vistas fantásticas e uma banda sonora deliciosa de Joel Schoch. É uma jornada onde poucas coisas são ditas diretamente ao jogador, ou até explicadas, mas é ainda assim memorável pelos momentos que vai proporcionando. Os puzzles são inteligentes, a jogabilidade à base de física funciona bem, e o desbloquear de novas funções da embarcação permitem aceder a novos sistemas e possibilidades.
Mas não é um jogo necessariamente melhor que o antecessor, e isso deve-se em parte à mudança para a água. Dizer isto é um bocado óbvio, mas como água é instável e imprevisível, a jogabilidade acaba por não ser tão satisfatória. Tendo a opção de jogar um jogo de corridas com carros ou barcos, qual preferiria? Acreditamos que a maioria dirá carros, e entre os poucos que escolherem barcos, certamente que vários decidirão mudar depois de alguns minutos. Conduzir a embarcação nunca foi um processo tão satisfatório quanto conduzir o veículo do primeiro jogo, e para piorar a situação, nunca nos sentimos realmente satisfeitos com a narrativa. As histórias podem ser contadas de formas mais subtis ou diretas, mas têm de ser contadas, e em Changing Tides isso quase não existe. Não existe qualquer motivação narrativa para continuar a jogar, apenas um possível desejo do próprio jogador em terminar a aventura.
Far: Changing Tides é um bom jogo para quem gosta de experiências mais subtis e atmosféricas, que apostem em jogabilidade à base de plataformas, física, e puzzles, mas falha ao não conseguir ser realmente um melhoramento ao jogo anterior, pelo contrário. Se gostou de Lone Sails, então recomendados Changing Tides, mas aconselhamos a moderar as expetativas.