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Doom

Doom

Velho, mas não datado.

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Doom é para muitos o "pai" do género de ação na primeira pessoa, e a sua importância ao longo dos anos é inegável. O último verdadeiro lançamento de Doom aconteceu em 2004, com Doom 3, um jogo que levou a série para uma direção mais próxima do terror. Muitos anos e várias revisões depois, Doom regressa ao mais alto nível, num jogo que pega na fórmula clássica de Doom e a transporta para um contexto moderno.

O novo Doom é um jogo de ação, e quando dizemos ação, queremos dizer que tem mais balas, explosões e corpos em bocados que uma versão de Sexta-Feira 13 filmada por Michael Bay. A ação arranca logo no primeiro instante, porque o jogo tem mais que fazer do que oferecer contexto ao jogador. Isso fá-lo durante o caminho, desvendado pouco-a-pouco o mistério do que aconteceu nesta estação espacial em Marte. Basta saberem que acordaram, quase toda a gente parece estar morta, um portal para o Inferno foi aberto, e o local está a rebentar pelas costuras com demónios de todas as formas e feitios.

A história em si não é brilhante, mas é intrigante o suficiente para o tipo de jogo que é, e se o jogador quiser pode explorar um pouco mais a fundo e descobrir pormenores extra sobre as personagens e os eventos que antecederam o jogo. A verdadeira história é contada com armas enormes, power-ups, e sangue, muito sangue. Doom é um jogo extremamente violento, com bocados de inimigos a saltarem, golpes finais que parecem fatalidades de Mortal Kombat, e uma agressividade imparável. A isto juntem os diversos simbolismos satânicos, e têm a receita para o tipo de jogo capaz de mandar pais a correrem para a igreja. Mas convém referir que é um tipo de violência gratuita, que nunca se leva muito a sério. É de tal forma exagerado que chega a ser mais cómico e espetacular do que impressionante ou chocante.

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O protagonista, anónimo e sem voz, expressa-se sobretudo pela forma violenta com que interage com praticamente tudo. Seja a abrir baús de munições, a enfiar o braço numa estação de cuidados médicos, ou a ativar um mecanismo, tudo é sempre feito com um grau absurdo de agressividade. Mas supomos que esse seria o único estado de espírito possível para alguém sobreviver a uma invasão demoníaca a Marte.

As verdadeiras estrelas de Doom são as armas que vão apanhar pelo caminho. Metralhadoras, espingardas, caçadeiras, lança-mísseis, e claro, a clássica moto-serra. Todas as armas (tirando a pistola inicial) oferecem um estilo de jogo válido, e beneficiam de excelente design. A id Software sabe como fazer jogos de ação na primeira pessoa, e isso nota-se no impacto dos disparos nos inimigos e no feedback que as armas causam. Gostaríamos que o som de alguns disparos fossem mais poderosos, mas tirando isso, adorámos as armas de Doom.

Mais importante ainda é a excelência da jogabilidade e dos controlos, revistos e equilibrados à perfeição. Nas consolas o jogo corre quase sempre a 60 frames por segundo, e no PC parece ter boa optimização, o que ajuda a manter o estilo frenético da ação. Doom é um dos jogos mais fluidos que jogámos nesta geração, e isso reflete-se naturalmente na jogabilidade. Os controlos também estão perfeitos, incluindo em termos de mira automática e sensibilidade dos controlos. Nunca sentimos a necessidade de ajustar qualquer parâmetro da jogabilidade, o que não podemos dizer de outros jogos de ação na primeira pessoa.

Doom funciona muito como um jogo "à antiga". É uma fórmula clássica, diferente do que os fãs do género conhecem atualmente. Embora seja um jogo de ação na primeira pessoa, oferece uma experiência diferente de títulos como Far Cry, Call of Duty, Halo ou Battlefield. Doom concentra-se muito na base da sua experiência, que é matar demónios de formas violentas mantendo um movimento constante. Em Doom não vão estar agachados atrás de caixotes à espera de uma oportunidade para disparar. Nada disso. Vão sim correr em direção aos demónios, de caçadeira em riste, para lhes arrancarem a cabeça com um só tiro. A maioria das sequências de combate decorrem em espaços relativamente abertos, por onde se podem movimentar com alguma liberdade, e até incluem uma verticalidade surpreendente. O protagonista consegue saltar (e eventualmente até faz salto duplo) e agarrar-se a saliências, que sobe com rapidez. Isto significa que, quando mudarem de mentalidade e se adaptarem ao ritmo de Doom, vão saltar de plataformas em plataformas a disparar para os demónios em baixo e a atirar granadas para inimigos à distância. É ação gloriosa, como há muito tempo não víamos num jogo.

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Os jogadores mais antigos também vão reconhecer elementos do Doom antigo, como power-ups (invencibilidade, dano a quadruplicar) e chaves de cores. É uma estrutura clássica, à antiga, que beneficia de um revestimento moderno por cima dessa base. O jogo oferece informação detalhada sobre vários elementos, como demónios, armas, acessórios e ambientes. Também inclui um simples processo de evolução, que permite melhorar elementos das armas, da armadura, e dos itens. Aliás, Doom é uma experiência surpreendentemente personalizável, já que cada arma inclui duas modificações que podem alternar, runas que acrescentam efeitos especiais, e melhoramentos que no fim vão modificar ligeiramente o estilo de jogo.

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Doom é ação frenética, e se quiserem, pode ser isso quase de princípio ao fim, mas também podem colocar o pé no travão se assim o desejarem. Cada nível esconde inúmeros segredos, e vários caminhos que vão recompensar os mais exploradores. Normalmente vão encontrar itens que melhoram a vossa performance de uma forma ou outra, mas também podem encontrar desafios especiais para cumprir. Estes desafios transportam o jogador para arenas fechadas onde devem cumprir um objetivo específico (como matar 20 inimigos com explosivos, por exemplo), e no fim serão recompensados com uma runa que confere bónus especiais - mais munições largadas pelo inimigo, ou maior alcance para recolher itens, por exemplo. Cada missão inclui objetivos secundários, como matar dois inimigos com golpes finais, ou encontrar três segredos, e cada objetivo secundário oferece um ponto de melhoramento para as armas.

O domínio das armas e o conhecimentos dos inimigos são os dois pontos cruciais para avançarem na campanha, mas o jogo inclui um certo lado estratégico que não esperávamos. Existem várias formas de matarem os inimigos - com disparos, explosivos, golpes brutais, ou com a moto-serra -, e cada um garante vantagens diferentes. Os golpes brutais fazem com que os inimigos larguem mais pontos de saúde, enquanto que uma morte com a moto-serra garante vários pacotes de munição. Cabe ao jogador decidir quando deve usar que tipo de morte, e se ao fazê-lo não estará a colocar-se em perigo.

A campanha de Doom surpreendeu-nos pela positiva. Tem o espírito de um jogo antigo, mas reforçado por um design moderno, grafismo de luxo, framerate a 60 frames por segundo, e profundidade para quem quiser explorar mais a fundo a experiência. Além de que ainda inclui vários segredos para os fãs descobrirem durante uma aventura que pode facilmente passar as 10 horas. É uma pena que o multijogador não apresente a mesma qualidade.

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Doom tenta recriar o espírito mais clássico de jogos como Quake, mas é evidente a influência de experiências online mais recente, nomeadamente de Halo. Sabendo que a Certain Affinity ajudou a produzir esta parte do jogo, uma produtora com historial no design de mapas para o online de Halo, é fácil entender as suas influências. Os modos de jogos funcionam maioritariamente como seria de esperar, embora exista um elemento que distingue Doom, que é a oportunidade para um jogador se transformar num enorme demónio durante uma partida online. O jogador pode assumir uma de quatro formas demoníacas e enquanto estiver transformado consegue suportar muito mais dano que um jogador normal. Nessa altura convém que os esforços da equipa adversária se concentrem em derrubar esse monstro. Se o conseguirem antes de o tempo se expirar, outro jogador pode assumir o papel de demónio.

O elemento do multijogador que mais jogadores podem estranhar é a inclusão de Loadouts, o que é uma clara influência dos jogos modernos. Isto significa que devem escolher as vossas armas antes de começarem a jogar, em vez de as recolherem espalhadas pelo campo de batalha. Ainda existem alguns itens que podem apanhar, mas limitam-se a saúde e armadura. O modo online de Doom não é mau, mas também não nos parece bom suficiente para agarrar os jogadores durante muitas horas. Parece-nos claramente a parte mais fraca das três que formam o conjunto de Doom.

A terceira dessas três componentes é o editor de mapas, SnapMap. O jogo inclui várias opções e tutoriais para ensinar o jogador a construir os seus próprios mapas, e embora não seja um processo muito simples, parece-nos que a id Software fez um bom trabalho de ajudar o jogador. Não tivemos oportunidade de explorar a fundo todas as possibilidades do SnapMap, porque isso vai exigir muito mais tempo, mas já existem vários mapas interessantes de outros jogadores que podem descarregar, incluindo mapas cooperativos para quatro jogadores.

O melhor elogio que podemos fazer a Doom, é que parece Doom, mas como nunca o vimos. É um jogo 'velho' em estilo, design, e conceito, mas que nunca parece datado. Uma alma velha num corpo adolescente, se quiserem. Parece-nos que este tipo de energia, intensidade, e fúria, era exatamente o que o género de ação na primeira pessoa precisava. Com uma campanha de qualidade, um modo multijogador competente, e um editor cheio de potencial, Doom é uma das referências de 2016.

DoomDoom
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08 Gamereactor Portugal
8 / 10
+
Excelentes controlos. Ação frenética. Inclui muita exploração para os mais curiosos. Excelentes visuais e banda sonora. Editor SnapMap parece promissor.
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Modo online não é tão forte quanto gostaríamos. Falta algum impacto aos efeitos sonoros das armas. Loadings grandes.
overall score
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