É um dia típico na charmosa cidade costeira de Cyseal. O sol está bem alto a esta hora, enquanto percorremos as ruas da cidade à procura de uma forma de resolver um caso de homicídio.
"Ninguém tem mais amigos do que o homem com muitos queijos!", grita um mercador na nossa direção, enquanto passamos pelo mercado a caminho do hospital. Somos Source Hunters a tempo inteiro, instruídos na arte de caçar feiticeiras, mas nas últimas horas fomos recrutados como detetives. Esgueiramos-nos até às traseiras da clínica, vasculhando armários e roupa suja, até que encontrámos o porta-chaves da rapariga suspeita do crime. Pensámos que estávamos finalmente na pista certa, mas o porta-chaves acabou por ser inconclusivo.
"Ninguém tem mais amigos do que o homem com muitos queijos!", gritou novamente o mercador quando voltámos ao mercado, desta vez para investigarmos a loja da rapariga de que suspeitamos. Depois de uma busca rápida, encontrámos uma escotilha secreta para a cave. Nova procura resultou no encontro de uma passagem escondida, onde nos deparámos com uma faca sangrenta e um livro: "Como cometer o crime perfeito". Desta vez é que apanhamos a assassina! "A faca serve para cortar carne e o livro era do meu marido," respondeu-nos a suspeita. O capitão da guarda avisou-nos que estas provas não eram suficientes para a prender.
"Ninguém tem mais amigos do que o homem com muitos queijos!", gritou novamente o irritante mercador, quando nos preparávamos para queimá-lo com os nossos poderes. Felizmente, a nossa companheira impediu-nos de cometer um erro, mas fica o aviso: existe uma bola de fogo com o teu nome se não te calas com essa parvoíce, uma bola de fogo para ti e para Divinity: Original Sin, uma irritante obra-mestra. O jogo da Larian Studios é um jogo fantástico, com um charme muito próprio e uma das experiências de RPG mais profundas que jogámos nos últimos anos, sobretudo dentro do género mais clássico de RPG, mas tem um jeito peculiar para tirar o jogador do sério.
Depois de personalizarem as duas personagens centrais (sim, duas, não uma - podem ser do mesmo sexo ou de sexos diferentes), estarão livres para explorar um mundo criado com excelência de design e uma atmosfera deliciosa. A banda sonora é perfeita para dar o tom certo a cada situação, enquanto que as piadas, as referências obscuras à cultura pop e a opção para falar com animais, proporcionam necessários momentos de descontração.
Divinity: Original Sin utiliza um sistema por turnos, que é sobretudo indicado para os jogadores mais pacientes. É claramente inspirado pelos RPG clássicos, como Baldur's Gate e Icewind Dale, mas completamente modernizado. O combate é surpreendentemente dinâmico, e muito interativo com o cenário. Barris explosivos, poças de água, óleo derramado, e gás venenoso, são alguns dos elementos que podem usar contra os inimigos, ou vice-versa. Uma lista interminável de habilidades, espalhadas entre várias classes de combate, furtivas, ou mágicas, juntamente com um punhado de fórmulas, garantem várias opções para abordarem o combate e outras situações. Quando existe uma tempestade perfeita de todos os elementos, o resultado é uma carnificina que nunca se torna aborrecida.
Divinity: Original Sin tem contudo alguns defeitos, e o jogo falha claramente na hora de guiar o jogador durante os momentos iniciais. Perdemos muito tempo desnecessariamente a lutar com inimigos ou a tentar cumprir missões que não eram para o nosso nível. A Larian Studios optou por um sistema que nega o "grind" de inimigos, ou seja, não podem matar oponentes repetidamente para ganharem pontos de experiência. Se encontrarem um ponto do jogo que parece impossível, não têm outra solução se não recuar. Aliás, é bem provável que tenham de viajar bastante entre vários pontos do mapa à procura de Quests próprias para o vosso nível.
Esta Enhanced Editon inclui muitas novidades e melhoramentos, naturalmente para a versão PC, mas o grande atrativo para a maioria dos jogadores será o lançamento para PS4 e Xbox One. O jogo e o seu sistema de combate foram desenhados originalmente para a PC, um facto evidente apesar do esforço da Larian Studios para adaptar esse esquema às consolas. Para a maior parte, os controlos de consolas funcionam bem, mas Divinity: Original Sin é um jogo que implora o uso de rato e teclado, sobretudo para quem jogou a versão PC. Controlar um grupo de personagens com o direcional é algo aborrecido, e a navegação pelos menus deixa muito a desejar. Divinity: Original Sin não é um jogo de consolas, mas antes um jogo de PC que funciona nas consolas. É preciso deixar clara essa distinção.
A grande vantagem para as consolas será o multijogador local. Divinity: Original Sin é bom quando jogado a solo, mas se juntarem um amigo no sofá ao lado, torna-se numa experiência estupenda. Divinty: Original Sin é um feito tremendo para o género RPG, sobretudo quando consideramos que tudo começou como um projeto no Kickstarter. O diálogo é divertido, a história segue um bom ritmo, e o sistema de combate é genial, mesmo que funcione melhor no PC do que nas consolas. O início pode ser frustrante e até intimidante, mas não se deixem assustar. Continuem a insistir, partam alguns baús, assaltem um ricaço e visitam masmorras. Eventualmente vão encontrar o vosso ritmo nesta aventura fantástica.