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Death Stranding

Death Stranding

Depois de tanto mistério, tanta antecipação, aqui está a nossa análise à nova obra de Hideo Kojima.

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Death Stranding, da Kojima Productions, tem gerado muita confusão, mistério, e dúvidas desde que foi anunciado. Cada trailer libertado parecia apresentar mais dúvidas que respostas, e o facto de nunca ter existido um período de antevisões, implicou que, até hoje, muitos jogadores não sabem ainda de que se trata afinal a nova obra de Hideo Kojima.

Não é o nosso caso.

Depois de mais de 30 horas com o jogo e do final da história, chegámos à conclusão de que muita desta confusão e mistério é propositado. A verdade é que muitos dos elementos mais misteriosos para quem vê os trailers, acaba por ter explicações relativamente simples no jogo, e a história consegue ser seguida com relativa facilidade.

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As primeiras horas de jogo estão carregadas de exposição, com várias cutscenes, muitos diálogos, e inúmeros tutoriais. Em Death Stranding vai jogar com Sam Bridges - interpretado por Norman Reedus de The Walking Dead -, que tem como objetivo voltar a criar uma ligação de vários postos de uma costa à outra do que era conhecido como Estados Unidos da América. Ao ligar estas cidades, estabelecimentos, e estruturas, estará a formar a CUA (Cidades Unidas da América).

Parece um objetivo nobre, mas a motivação de Sam é mais pessoal do que qualquer outra coisa. Essa motivação torna-se clara bem cedo no jogo, mas não vamos relatá-la aqui. Mas porquê Sam? Bem, por vários motivos, a começar pelo facto de ser um Porter, que é uma espécie de super-carteiro. Além de ter de ligar as várias localizações que visita, Sam terá também de realizar encomendas, levando carga para cada um destes sítios. Essa carga varia imenso, e pode ser algo tão díspar como livros ou combustível.

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E assim começa a aventura de Death Stranding, e a experiência geral de jogabilidade. Sam sabe o que tem de levar e para onde levar, e agora cabe ao jogador descobrir como lá chegar. Existem muitas mecânicas de jogo a funcionar em simultâneo, que têm de ser ponderadas pelo jogador. Por exemplo, Sam só consegue carregar um certo limite de carga até que comece a pesar demasiado. Quando esse limite é ultrapassado, Sam vai perder mais energia, vai tropeçar com maior facilidade, e terá de equilibrar a carga nas costas com cada viragem. Isto é feito com o R2 e L2, já que cada um está responsável por uma das fitas do seu porta-cargas nas costas. Se a carga começar a cair para o lado esquerdo, tem de agarrar na fita do lado direito com o R2, e vice-versa. Caso se desequilibre, ou se quiser andar de forma mais segura, pode segurar nas duas fitas pressionando nos dois botões em simultâneo, mas isso fará Sam andar mais devagar. Se a carga foi mais pesada do que o máximo que Sam consegue carregar, ele praticamente não conseguirá andar.

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Outro fator determinante é o cenário, com rios, montes, pedras, deslizes, e outros obstáculos que podem provocar a queda de Sam, ou que terão de ser ultrapassados. Para seguir caminho terá direito a algumas ferramentas - inicialmente rudimentares, como escadas e uma corda para escalar -, mas tudo isto conta para o peso que pode carregar.

Em termos de estrutura, existem missões - encomendas - de história para fazer, mas também muitas missões secundárias para apanhar, e isso vai obrigá-lo a ir de A a B a C, e vice-versa, repetidamente. Pelo caminho pode encontrar encomendas perdidas pelo chão, que pode ou não levar ao destino pretendido, e tudo isto irá contar para uma classificação de até cinco estrelas em cada posto. Cada encomenda concluída vale um número de "gostos" e quantos mais gostos receber de um posto, melhor será a sua relação com o respetivo.

Uma boa reputação pode valer recompensas, como itens cosméticos, músicas, e mais materiais, mas em cima de tudo isto será também classificado em várias virtudes de Porter. Quanto maior for o seu nível de Porter, maior as vantagens, já que esse nível de Porter influencia o número de quilos que pode carregar, e os itens que tem à sua disposição.

Ao longo do jogo irá desbloquear vários acessórios que o irão ajudar no seu percurso, incluindo motas, camiões, transportadoras voadoras, fatos especiais, e muito mais. De certa forma, Death Stranding parece um jogo de sobrevivência. A morte não é tão fácil como nesses jogos, mas terá de ter atenção a uma série de factores, como a bateria da mota, a duração das botas, a quantidade de energia que ainda tem, e assim por diante.

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A maior parte destes itens podem ser criados nos postos que visita, mas para isso vai precisar de recursos, como metal, cristais, madeira, e semelhantes. Irá ganhar recursos ao completar missões, mas também pode procurá-los no mundo e levá-los para os postos. Algumas destas localizações têm dimensões mais generosas, e aqui pode descansar em quartos privados. Isto recupera por completo a saúde e a energia de Sam, e também restaura os níveis de stress do BB (o bebé) que o acompanha. Nesse quarto pode ainda tomar banho, ouvir música, alterar certos detalhes do fato, e ainda fazer algumas interações curiosas.

Não é só a jogabilidade que está cheia de diferentes camadas - o mesmo é verdade para a história. Muito daquilo que não percebe dos trailers, será explicado nas primeiras horas, mas apenas em doses moderadas. Vai perceber como o mundo funciona, mas não vai perceber exatamente porquê. Isso será explicado ao longo do tempo, através de novas cutscenes, diálogos, ou mensagens de texto se quiser ter mais contexto sobre o mundo de Death Stranding.

Sam é o protagonista, mas esta não é apenas a história de Sam. Existem várias personagens interessantes em Death Stranding, e cada uma tem a sua oportunidade para desenvolver e o seu tempo de antena. O jogo está dividido em vários capítulos (só vamos dizer que são mais de dez), e alguns são dedicados por completo a uma personagem. Todas elas, contudo, informam mais sobre o que é Death Stranding, um evento de proporções cataclismicas que deixou o mundo e a humanidade à beira da extinção.

Não vamos explicar tudo o que envolve esse evento, mas podemos dar-lhe mais algum contexto. Este Death Stranding é o responsável pelas criaturas fantamasgóricas que já deve ter visto nos trailer, e que são apelidas de BT. O ser humano normal não consegue ver estas BT, apenas pessoas com DOOMs muito altos (vai ter de jogar para saber mais sobre isso). Sam tem DOOMs, mas o seu nível não é muito alto, e isso significa que tem de carregar um BB (os bebés) para identificar estes BT.

Quanto estiver numa zona cercada por BT, irá aparecer um aparelho sinalizador por cima do ombro de Sam, indicando a direção do BT mais próximo. Quanto menor a distância, mais forte será o sinal. Nas primeiras horas de jogo terá de avançar com cuidado, sem fazer muito barulho e sem se aproximar dos BT, contudo, vai desbloqueando ferramentas com que poderá combatê-los. Algo que deve ter em atenção, é o nível de stress do BB, e caso fique demasiado stressado, terá de o abanar com o R2 ou com o sensor de movimentos do DualShock 4.

Os BT não são, contudo, os únicos inimigos do jogo. Também existem "Mulas", que são antigos Porters que agora vivem obcecados com roubar a carga dos outros, e se detetarem Sam, farão tudo para o aliviar das suas encomendas. Tal como acontece com os BT, ao início não terá muito mais para fazer do que agir sorrateiramente ou fugir, mas irá desbloquear formas de os parar e combater, a maioria de forma não letal.

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Death Stranding não é um jogo de ação, mas tem alguma, o suficiente para que pondere se deve guardar algum peso para levar acessórios e armas para se defender. Não terá só de se defender, contudo, também pode ser mais agressivo, já que os acampamentos dos Mulas escondem normalmente boas recompensas.

Alguns jogadores talvez não estivessem à espera disto, mas Death Stranding tem uma forte componente online. Não é um jogo multiplayer ou algo do género, mas serve-se de várias funções online para criar um forte sentimento de comunidade. De certa forma parece uma evolução do tipo de experiência a que nos habituámos a encontrar em Dark Souls, no sentido em que não existe uma interação direta, mas está sempre presente a influência de outros jogadores.

Tudo o que acrescenta ao mundo, como escadas, pontes (sim, é possível construir várias estruturas), cacifos, e torres, entre outros, podem ser vistos e aproveitados por outros jogadores, e o contrário também é verdade. Sempre que alguém utiliza uma das suas estruturas ou objetos, acrescenta um gosto, e se quiserem até podem acrescentar mais gostos. Quantos mais gostos uma estrutura tiver, maiores as hipóteses de aparecerem aos outros jogadores.

Estas são apenas algumas das interações indiretas entre jogadores, mas a verdade é que gostámos do sentido de comunidade que existem em Death Stranding. Estar a trepar um monte complicado e encontrar uma corda ou uma escada é um alívio, e tudo isto, mais os pequenos sinais que se podem deixar, ajudam a contrariar o que é de resto uma experiência muito solitária.

Há muito para elogiar em Death Stranding, mas também alguns fatores para criticar. A física dos veículos, por exemplo, deixa a desejar, e param bruscamente contra pequenos obstáculos, o que ainda os danifica. São úteis, muito úteis, mas podiam funcionar muito melhor. Death Stranding também sofre de um problema comum a vários jogos de Hideo Kojima, que é o final. O fim estende-se em demasia, com cenas desnecessárias com causam algum atabalhoamento.

Apesar destas falhas, Death Stranding é um produto incrivelmente único, que conseguiu agarrar-nos com as suas mecânicas de jogo, a sua estrutura, a sua comunidade, e a sua história. Com um foco tão forte em entregas e caminhadas, Death Stranding não será certamente para todos, sobretudo ao início, que pode ser um pouco esmagador em termos de informação, e por vezes, lento e repetitivo, mas existem muito mais para descobrir, e Sam é muito mais que um rapaz das entregas. A sua narrativa de dar a volta ao miolo é algo que não vai encontrar em mais lado nenhum, e que ocupará o seu pensamento para lá dos créditos. Seja, ou não, fã de Hideo Kojima, Death Stranding será um jogo para recordar.

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09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Muitas mecânicas de jogo a trabalharem em conjunto. Narrativa com várias camadas. Personagens bem desenvolvidas. Vertente social interessante. Jogabilidade muito profunda. Excelente localização para português.
-
A física dos veículos podia ser melhor. Final longo e algo atabalhoado.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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