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Biomutant

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A salvação do mundo está nas mãos de um animal mutante que pratica artes marciais.

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Biomutant foi anunciado em agosto de 2017, durante a Gamescom, e rapidamente captou a atenção da imprensa e dos jogadores. Além de apresentar um conceito interessante, o grafismo e a jogabilidade pareciam estar muito acima do que um pequeno estúdio sueco deveria ser capaz de produzir. Deste então temos acompanhado com atenção o progresso deste RPG de ação, mas agora que está finalmente entre nós, a nossa opinião divide-se.

Biomutant passa-se num mundo pós-apocalíptico, um mundo em que a única evidência da civilização humana está nas ruínas de edifícios e estruturas. Quem comanda a Terra agora são animais geneticamente alterados por mutações estranhas. O jogador vai precisamente assumir o controlo de um desses animais mutantes, que é também perito num estilo de arte marcial conhecida como Wung-Fu. Quanto à estrutura, passa-se em mundo aberto, e promove a interação com uma série de personagens excêntricas. Pelo caminho terá de encontrar forma de derrotar quatro criaturas conhecidas como World Eaters, que ameaçam devorar a Árvore da Vida, bem no centro do mapa.

O jogo tem uma forte estrutura RPG, não só em termos de personalização e progresso, mas também ao nível das escolhas e decisões que terá de tomar ao longo do caminho. Nesse sentido lembra-nos de The Witcher 3, com decisões cujas repercussões podem não ser imediatamente óbvias. Estas decisões vão inclusivamente determinar o futuro do mundo, e o jogador pode acabar por ser o seu salvador... ou o seu carniceiro.

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Antes de começar a aventura terá a oportunidade de personalizar o seu protagonista, incluindo a sua raça. Existem seis raças possíveis, cada uma com as suas próprias forças e fraquezas. Depois disso pode determinar a evolução inicial da personagem em termos de força, agilidade, carisma, inteligência, e vitalidade. Terá também de definir a forma como a personagem reage aos diferentes elementos da natureza, estilo torná-lo mais resistente a calor mas mais vulnerável a frio, por exemplo. Por fim deve escolher uma de cinco classes, que determinará o seu estilo de jogabilidade - melhor com armas de longo alcance, ou combate corpo-a-corpo, por exemplo. Tudo isto, além de várias opções para moldar a aparência da personagem.

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Confessamos que não esperávamos uma estrutura RPG tão versátil, que permite uma variedade impressionante de personagens, tanto em termos visuais, como em termos práticos. Aliás, até nos parece um pouco exagerado, porque tudo isto é despejado de uma só vez no jogador. Pior ainda, existem técnicas de artes marciais para desbloquear, habilidades psíquicas, armas, e mutações, tudo ligado a sistemas e pontos diferentes. Uma estrutura mais simplificada, ou uma introdução mais espaçada, teria facilitado a entrada do jogador em Biomutant.

O facto de ser necessário equilibrar tantos sistemas também pode ter afetado de forma negativa o sistema de combate, que é bem mais fácil do que esperávamos. A verdade é que não precisámos de grandes técnicas ou habilidades para despachar os inimigos, já que as armas e as técnicas base funcionam bastante bem. É possível que a equipa tenha tido receio de não conseguir equilibrar bem todos os sistemas, e de certa forma tenha optado por simplesmente reduzir o desafio para evitar problemas. Infelizmente o resultado é um jogo que tenta apresentar grande profundidade e sistemas, sem as justificar, tornando-se numa experiência bem mais casual e banal debaixo da superfície. A jogabilidade em si é acessível e funciona bem, embora os controlos das armas sejam superiores aos controlos do combate corpo-a-corpo, o que vai contra o que esperávamos.

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O mundo de jogo passa por uma situação semelhante. É vasto e está formado por vários tipos de terrenos, com alguns pontos de interesse aqui e ali, mas de forma geral é algo cru e vazio. Parece-nos desnecessariamente grande, e apenas serve para ligar as missões primárias e secundárias, sem muito que agarre o jogador ou incentive à exploração. Sim, existem alguns locais para descobrir, que ajudam a evoluir a personagem, mas não é um mundo muito interessante.

Isto leva-nos a outro ponto negativo de Biomutant, que é a história. Derrotar os quatro terríveis World Eaters ocupa uma grande parte da campanha, enquanto que o restante é composto pela Tribe War. Os World Eaters são de longe os confrontos mais difíceis que terá de enfrentar, mas isso não os torna particularmente desafiantes. Sim, são mais complexos e têm mecânicas porreiras, relativamente aos inimigos mais banais, mas não muito mais que isso.

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A Tribe War, por outro lado, exige que o jogador conquiste postos avançados ocupados por tribos rivais, que não seguem as mesmas provações que a sua tribo. Terá de completar uma série de tarefas para reivindicar esses postos avançados, até que possa ganhar o direito de se encontrar com o líder de cada tribo. A partir daí pode conseguir chegar a um acordo pacífico, ou partir para a guerra. O principal problema é que fará praticamente as mesmas tarefas para reivindicar postos avançados, e só muda a região onde o está a fazer. Isto torna-se rapidamente repetitivo.

E para piorar a situação, Biomutant tem um narrador que comenta praticamente cada movimento que o jogador faz, o que é terrivelmente aborrecido. Pelo menos é possível diminuir a frequência de comentários por parte do narrador...

Nem tudo é mau no mundo de Biomutant. O design das criaturas é fantástica, e houve grande imaginação por trás deste universo. Também apreciamos o facto das escolhas afetarem a narrativa, e do estúdio ter tentado construir um sistema de jogabilidade com profundidade. E se não ficar satisfeito com o resultado das suas escolhas, existe um modo Novo Jogo + disponível logo após o término da campanha.

Biomutant tem defeitos, e não os podemos esquecer, mas também tem um universo interessante, boa jogabilidade, e um grafismo a condizer com o excelente design artístico. Talvez seja demasiado ambicioso para o seu próprio bem, já que fica aquém de outros RPG modernos, mas tem o seu mérito. Não é um jogo obrigatório, mas tem qualidades suficientes para ser recomendado a amantes do género.

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06 Gamereactor Portugal
6 / 10
+
Mundo de jogo bastante original e bem construído. Excelentes opções de personalização. Escolhas e decisões morais afetam o jogo.
-
Excesso de mecânicas RPG. Combate é algo desapontante. Sistema de narração torna-se rapidamente irritante.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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ANÁLISE. Escrito por Ben Lyons

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