Temos grande respeito pelas produtoras da Ubisoft, já que raramente falham em entregar aquilo a que se propôem. A sua habilidade para renovar séries ao incorporarem mecânicas novas é particularmente interessante, como foi o caso das batalhas navais em Assassin's Creed III, expandidas em Assassin's Creed IV: Black Flag.
Em termos de plataformas móveis, Assassin's Creed já conta cerca de 10 títulos no mercado. A Gameloft esteve outrora encarregue de produzir alguns títulos da série, sobretudo no género de plataformas, mas foi a Ubisoft quem entregou a maioria. Muitas destas adaptações móveis tinham jogabilidade sólida, embora tivessem pouco em comum com a linha principal da série nas consolas caseiras.
Assassin's Creed: Pirates serve-se sobretudo das batalhas navais, que conhecemos através de Connor em Assassin's Creed III, mas foi no último capítulo, Black Flag, que essas mecânicas atingiram o seu verdadeiro potencial, num enorme mar aberto à exploração. Como é evidente pelo título, este jogo de iOS também está focado em piratas e nas aventuras pelo mar.
Serão presenteados com um enorme mundo aberto, e embora não apresente o mesmo nível de detalhe a que assistimos nas versões de consolas, Pirates consegue capturar a atmosfera com sucesso. Ao vermos as ondas baterem no ar e os raios de luz passarem pelas velas do navio, é difícil apontar o dedo a Pirates, pelo menos graficamente. Não será o jogo com melhor aspeto para iOS, mas é bastante bom
Um mapa da Abstergo permite definir um objetivo; um mapa com a primeira localização, Devil's Rock. Existem mais seis - bloqueados - ícones no mapa, que levam a outra enorme área para explorar. Ao completarem o jogo, vão perceber que o sétimo ícone pertence a conteúdo que será disponibilizado mais tarde.
Tal como Assassin's Creed IV: Black Flag, a jogabilidade está direcionada para a navegação, de preferência, furtiva. Embora não seja possível abandonar o barco em Pirates, terão de navegas algumas águas muito discretamente. Nestes momentos furtivos, a perspetiva muda para o topo, de cima para baixo, enquanto tentam evitar o campo de visão do inimigo.
Além da história principal, existem várias Quests secundárias para encontrarem. Podem facilmente perder horas a resgatar marilheiros, a encontrar todos os tesouros, a libertar escravos, a matar mercenários e a comprar novos navios (existem cinco) ou a melhorá-los. Como sempre, também existem os emblemáticos pontos de vantagem que desbloqueiam parte do mapa, aqui representados por faróis, que também permitem viagens instantâneas.
Nem parece mau, pois não? Infelizmente, é, já que a Ubisoft tem claramente péssima impressão das qualidades dos jogadores de plataformas móveis.
Mecânicas simples, de um toque, funcionam bem num jogo como Rayman: Jungle e Rayman: Fiesta Run, mas para um título recheados com batalhas marítimas potencialmente fantásticas, com boas oportunidades estratégicas, gostaríamos que a Ubisoft se tivesse esforçado um pouco mais - aumentando a profundidade dos combates ou a dificuldade. Algo, que pelo menos oferecesse algum desafio ou permitisse alguma variedade.
O jogo funciona assim: a perspetiva muda quando estão a defrontar outro navio (ou navios). A banda sonora arranca, e o jogador deve mudar entre fases defensivas e ofensivas. O inimigo ataca primeiro e devem depois pressionar à direita ou à esquerda do ecrã para evitar o ataque, ou, se tiverem uma habilidade especial disponível, carregam no meio do ecrã para parar a investida inimiga.
Repetem isto três ou cinco vezes. A câmara muda para o vosso lado e têm a opção de disparar uma das vossas armas (existem cinco, dependendo dos melhoramentos). Isto continua até a batalha terminar.
Nem por uma única vez, nas oito horas de jogo, estivemos perto de perder. Aliás, conseguimos derrotar facilmente um inimigo a ver o telejornal. É incrivelmente aborrecido. E é também o que vão fazer na maioria do jogo.
Os bloqueios temporários das armas, depois de serem usadas, podiam tornar os combates um pouco mais emocionantes, mas mesmo sem habilidades, tudo o que precisámos de fazer foi a aborrecida dança de esquerda/direita, sem dificuldade. Os melhoramentos e as vantagens ganhas por contratar tripulação são praticamente inúteis, já que não existe um desafio real. É difícil encontrar um jogo com tão bom aspeto e com tanto potencial, que seja tão aborrecido.
O Sid Meier's Pirates e o próprio Assassin's Creed IV: Black Flag mostraram-nos como estes jogos devem ser feitos. Devia existir mais conteúdo e variedade. Porque não incorporar a abordagem aos navios? Mesmo que o combate fosse coreografado, já seria algo mais. Ou então alguns puzzles para variar os acontecimentos.
É uma pena, porque o elemento técnico é magnífico. Todas as mecânicas base foram implementadas na perfeição. O mapa interativo é fácil de utilizar, os leves elementos RPG funcionam bem, a música é fantástica e sobretudo no iPad, o jogo tem um aspeto fantástico. O último mapa em particular, com grandes tempestades, chuva e ondas violentas é impressionante.
O jogo parece ter sido desenhado para divertir e impressionar um grupo de jogadores menos experiente, uma espécie de Assassin's Creed para fãs de Farmville (embora não tenhamos encontrado nenhuma micro-transação). Infelizmente, por esse motivo, dificilmente vai surpreender ou cativar os fãs da série.