Existe uma certa qualidade meditativa na forma como Art of Rally aborda o género de simulação de ralis, recriando o espírito de alguns jogos antigos do género. Se normalmente jogamos títulos de condução com volantes, pedais, e tudo o resto - ou se for mesmo necessário, comando -, no caso de Art of Rally ficámos-mos pelo teclado, que controlámos só com uma mão. É um ritmo peculiar, que resulta numa experiência de jogo quase hipnótica de sintonia perfeita entre cérebro e PC. Ficámos surpreendidos por esta capacidade de Art of Rally, sobretudo quando em última análise, ainda é um jogo sobre ir tão depressa quanto possível em cima de gelo, asfalto, e terra batida.
O objetivo de Art of Rally passa por dissecar o desporto de rali até ao seu próprio núcleo. A sua essência envolve investir em curvas o quanto antes, sempre moderando a velocidade apenas o suficiente para as cumprir. Estas curvas têm de começar a ser feitas mesmo antes de realmente começarem, e para triunfar, é preciso arriscar e conduzir no limite - um limite em que o mínimo erro de cálculo ou de execução resulta numa perca de tempo inaceitável.
É quase um jogo de estratégia, na forma como envolve planeamento antes da execução, e isso é permitido pela câmara isométrica que permite ter um vislumbre impressionante da pista. Quanto à jogabilidade, é feita através das setas e do Espaço, que serve de travão. É perfeito para se jogar com uma mão enquanto enche a cara de aperitivos com a outra, que foi o que fizemos durante todo o fim de semana.
A experiência de condução em si é tão simples quanto os controlos. Os carros viram e derrapam com facilidade, pelo que a sua maior preocupação deve ser o controlo da velocidade, dos ponto de travagem, e do timing certo para dar um toque nos pneus da frente para a direção contrária à que o carro quer ir, sempre mantendo atenção ao peso e ao equilíbrio do carro. É muito fácil aprender a jogar Art of Rally, mas é um pouco mais complicado realmente dominá-lo, e isso agrada-nos.
A estrutura do jogo é também muito simples, começando com uma pista de treino que serve como zona central. Depois de se sentir confortável com os controlos e o carro, deve apostar no modo carreira, pilotando pelo mundo de forma a ganhar ralis e desbloquear carros novos. Art of Rally não tem licenças oficiais para os carros, mas é notória a sua inspiração em carros clássicos como 206, S1, HF Integrale Delta, Stratos, e Kadett GT. Claro que isto seria bem menos aceitável num jogo de preço inteiro como Dirt Rally 2.0 ou WRC 9, mas Art of Rally é apenas € 20,99, pelo que é compreensível a ausência de licenças. O que não esperávamos, contudo, é que os carros apresentassem comportamentos tão diferentes na pista, o que é definitivamente um ponto positivo.
Visualmente estamos a falar de um jogo minimalista, que compensa a ausência de gráficos altamente poderosos, por uma abordagem mais artística e encantadora, que funciona muito bem dentro deste estilo de jogo. Com bons efeitos sonoros e uma banda sonora de grande qualidade, Art of Rally acaba por cumprir em todos os campos. Claro que em cima de tudo isto é preciso colocar o jogo em perspetiva. Seria injusto compará-lo com os simuladores mais conhecidos, e nem é esse o seu objetivo. Como tal, Art of Rally é uma alternativa mais retro, com bons controlos e jogabilidade, merecedor da atenção dos fãs de rali que procurem algo diferente e mais descontraído.