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Strikers Edge

À Conversa Com o Criador de Strikers Edge

Tiago Franco fala dos desafios do projeto e da relação com a Sony, e ainda deixa conselhos para quem quer ser produtor de videojogos.

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Strikers Edge está finalmente disponível para PC e PlayStation 4, com um preço de € 14.99. Trata-se de um jogo produzido pela Fun Punch, estúdio português que esteve mais de dois anos a trabalhar neste "dodgebrawl". Pelo meio ganharam a primeira edição dos Prémios PlayStation, levaram o jogo a eventos como E3 e Gamescom, e conseguiram assinar com a editora francesa Playdius. A equipa da Fun Punch marcou presença na gala da terceira edição dos Prémios PlayStation, para assinalar o lançamento do seu jogo, e o Gamereactor aproveitou para conversar com Tiago Franco, o Web Designer que decidiu que queria criar videojogos.

Ao longo destes dois anos, Strikers Edge criou grande expetativa entre a indústria nacional. O jogo sempre pareceu promissor, e a equipa demonstrou sempre confiança no seu trabalho, mas agora que está finalmente disponível para os jogadores, como se sente a Fun Punch?

"Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, com os meios que tínhamos à nossa disposição, e estou orgulhoso do que conseguimos. Não é o melhor jogo do mundo, obviamente, mas estou feliz com o que conseguimos atingir enquanto equipa, e aconteça o que acontecer, isso ninguém nos tira."

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"Trabalhámos muito nestes últimos dois anos - mais até - para conseguirmos um jogo viciante, um tipo de jogo que motive o pessoal a jogar uma, duas, e mais partidas. Tentámos criar uma jogabilidade que seja fácil de começar, mas onde seja difícil de atingir mestria. Queremos que esteja sempre malta nova a entrar no jogo, mas que quem fique, sinta que existe sempre uma aresta para limar."

Strikers Edge estará sempre associado aos Prémios PlayStation, já que foi o vencedor da primeira edição. Isto valeu ao estúdio um espaço em Lisboa para trabalharem durante 10 meses, kits de desenvolvimento da PS4, direitos de publicação na consola, financiamento, e ainda uma série de campanhas de marketing e publicidade nos canais oficiais da Sony.

"Penso que sermos os vencedores do primeiro Prémios PlayStation foi essencial para termos este Strikers Edge que temos hoje. Foi uma ajuda gigante, não só por causa do escritório e do financiamento inicial, mas também pelo facto da ligação à PlayStation ter mais tarde motivado a Playdius [editora e financiadora] a assinar connosco e a financiar o resto da produção do jogo. Sem o apoio da PlayStation dificilmente teríamos conseguido a Playdius, e não teríamos tido a extensão de comunicação que conseguimos nos eventos e entre os media."

"Perdemos o direito de publicar Strikers Edge noutras consolas, mas penso que vale a pena. Ter o primeiro jogo a sair na PlayStation, no Steam, e no Mac, acaba por já ser possível atingir uma audiência fantástica. Só a PS4, é a consola com maior audiência desta geração, e isso é vantajoso para nós. Não foi necessário recorrer a negociações para lançar o jogo no PC, porque a PlayStation não olha para o PC como uma plataforma concorrente. O lançamento no PC sempre ficou à nossa descrição."

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Strikers Edge foi o primeiro jogo que Tiago produziu, e ao longo destes dois anos, enfrentou em conjunto com a sua equipa uma série de desafios. Perguntámos-lhe qual foi o desafio mais difícil que ultrapassou durante todo o processo.

"A nível pessoal foi difícil gerir criativamente os outros elementos da equipa, de forma a conseguirmos um estilo coerente para o jogo. Tive essencialmente de assumir o papel de Diretor de Arte, algo que nunca tinha feito na vida, e que me obrigou a um processo de aprendizagem contínuo. Outra grande dificuldade foi criar a componente online do jogo. Conseguir criar jogabilidade online levanta uma série de problemas e desafios, como o emparelhamento, e permitir que seja jogável em qualquer parte do mundo. Foi um grande desafio a nível de design e de engenheiria."

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Produzir videojogos não é fácil, e quando decidiu fazê-lo, Tiago Franco já estava a percorrer outro caminho profissional. Assim, que tipo de aptidões e competências tinha quando decidiu criar Striker's Edge?

"Sempre tive o 'bichinho' dos videojogos, e sempre gostei de criar 'mockups'. Até desenhava jogos de tabuleiro para a minha irmã e para o meu irmão. A ligação dos videojogos, de tecnologia com arte, foi algo que me interessou imenso. Depois, através de eventos de produtores, comecei a ter uma noção mais real de como funciona a produção de videojogos. Antes disto trabalhava em Web Development, e isso também foi de certa forma útil, já que me permitiu ter noções de gestão de equipa e de projeto."

"O objetivo agora é continuar a trabalhar, e a expandir o estúdio da Fun Punch. Já temos uma boa noção do que vamos fazer a seguir, mas primeiro temos de ver se o Strikers Edge ainda vai exigir muito de nós, ao nível de conteúdo adicional. Seria bom sinal, ter essa 'obrigação' de expandir Strikers Edge. Quanto a uma sequela, é algo que não queremos fazer para já, mas já temos muitas ideias do que podemos fazer em Strikers Edge 2. Mas antes disso, queremos fazer uma pausa de Strikers Edge, e explorar outros conceitos. Penso que para o próprio jogo será bom ter um período de pausa, com outro jogo pelo meio, para refrescarmos as ideias."

Antes de começarem a produção do próximo jogo, a Fun Punch tem planos para expandir Strikers Edge, mas isso não depende exclusivamente da vontade do estúdio.

"Em relação ao crescimento deste Strikers Edge, depende sempre da aceitação, mas temos ideias para criar novas arenas e novas personagens. Até podemos lançar algumas coisas gratuitamente, mas o trabalho não se paga sozinho, e apesar de sermos fãs de conteúdo gratuito, teremos também de cobrar pelas expansões. Penso que podemos fazer isso, porque o importante não é ter um preço, é que esse preço valha a pena. Por exemplo, ninguém se queixa de pagar por uma expansão como a Blood & Wine de The Witcher 3: Wild Hunt, porque vale a pena. Exigir dinheiro por uma personagem se calhar não vale a pena, mas um pacote de três personagens, três arenas, e um modo de jogo, por exemplo, já se torna mais apelativo. Mas ainda estamos a decidir o que vamos fazer."

O apoio da Sony para Strikers Edge foi vital, como disso o próprio Tiago Franco, mas e para o futuro? Será que se mantém esta ligação com a editora?

"Penso que teremos sempre uma ligação forte com a Sony, e que vai existir sempre algum tipo de apoio, mesmo que seja noutro formato. Tenho convicção de que a ligação à Sony vai manter-se e da parte que nos toca estamos receptivos a isso."

Como vencedor da primeira edição dos Prémios PlayStation, Tiago Franco ofereceu ainda alguns conselhos, não só aos novos vencedores - a Duckling Studios com Out of Line -, mas também a quem esteja a pensar um dia produzir videojogos.

"Aconselho teimosa positiva, perseverança, muita determinação, trabalho, e visão de projeto, de equipa, e de mercado. E muita coragem, porque não é fácil. O Strikers Edge foi sem dúvida alguma o projeto mais difícil em que trabalhei, e é algo que vai exigir mesmo muito trabalho e dedicação."

"Tentem ser auto-didatas, e exponham-se lá fora. Não tenham medo de se mostrar e ao vosso trabalho, de procurar ajuda entre quem sabe. A comunidade do Game Dev é super aberta, e não faltam produtores com vontade de partilharem experiências e de ajudar. Só não entra nesta comunidade quem se fechar a si e ao seu próprio jogo. Penso que será uma experiência muito enriquecedora para quem se dedicar."

Strikers Edge já está disponível na PS Store e no Steam, e se quiserem saber mais pormenores sobre o jogo, podem encontrá-los no site oficial ou esperar pela nossa análise.

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Strikers Edge
Tiago Franco (esquerda) e Filipe Caseirito.(direita), os dois criadores de Strikers Edge.
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