Solar Ash é um jogo com estilo, e isso é evidente assim que a história arranca, com o protagonista Rei a olhar para um buraco negro que consome o seu planeta. Estilo é algo que a Heart Machine parece fazer bem, como já tinham demonstrado com o seu jogo anterior, Hyper Light Drifter. Os rasgos vermelhos que preenchem o ecrã quando destrói a corrupção que consome o mundo; as explosões brancas e negras que indicam que derrotou um dos muitos bosses fantásticos do jogo; ou a forma como Rei desliza através do cenário com velocidade e elegância, são elementos que combinam para formar um jogo que apesar de ter estilo, também tem substância.
Embora Hyper Light Drifter seja o jogo anterior do estúdio, o jogo que encontramos com maiores semelhanças é The Pathless, de 2020. Os dois jogos apresentam um protagonista que esconde a face, e que terá de explorar uma terra desolada e misteriosa. Depois, a jogabilidade, que promove movimento fluído pelo terreno conforme livra o mundo da corrupção. Mas, apesar das semelhanças, parece-nos que Solar Ash é um jogo superior e até mais interessante em termos de mundo e história.
Solar Ash passa-se num buraco negro conhecido como The Ultravoid, que já consumiu uma série de planetas, e que ameaça fazer o mesmo ao planeta de Rei. Acontece que parte dos planetas consumidos ainda persiste, na forma de seis áreas abertas ligadas por uma estranha substância cor-de-rosa. elizmente para o nosso protagonista, Rei consegue deslizar através dessa substância, oferecendo tanto um aspeto original ao jogo, como uma jogabilidade de plataformas com grande fluidez. A história tem no entanto uma dose pouco subtil de exposição, explicando muito do seu mundo com grande detalhe, o que faz com que perca algum misticismo. Pelo menos é bom para quem deseje conhecer melhor este universo, ainda que a história pudesse ser contada de forma mais eficaz e elegante.
Inicialmente as áreas de jogo são relativamente banais, mas à medida que avança pela aventura irá encontrar ambientes cada vez mais distorcidos e fragmentados. Quando o chão que acabámos de percorrer de repente se encontra por cima das nossas cabeças, seria natural sentir alguma confusão, mas isso não acontece. É um tipo de design brilhante, que logicamente devia fazer com que o jogador se sentisse perdido, mas isso nunca acontecesse, porque houve claramente um grande trabalho na construção destas áreas.
Solar Ash é um jogo simples em termos de estrutura e controlos, mas a satisfação e o desafio surge do tipo de obstáculos e situações que o jogador irá encontrar. Em termos de estrutura é também algo previsível, já que normalmente pede que o jogador limpe 3 a 5 áreas de corrupção de forma a provocar uma batalha com um boss. Não é uma estrutura particularmente brilhante, mas funciona bem, sobretudo com a jogabilidade fluída e imediata de Solar Ash.
Tudo parece ter sido feito para facilitar e incentivar a movimento de grande facilidade e velocidade, já que pode deslizar, executar saltos duplos, e até usar um gancho para chegar a sítios mais altos ou ganhar ainda mais embalo. Explorar o mundo é uma delícia em termos de jogabilidade, mas também recompensador, já que pode encontrar mais informações sobre este universo, desbloquear fatos, e ganhar ou melhorar capacidades. Até existem algumas missões secundárias, se quiser alargar a sua experiência de jogo e ganhar mais contexto.
As áreas de jogo em si apresentam um objetivo peculiar, quando como se fossem uma espécie de puzzle por resolver. É preciso acertar em certos objetos pela ordem correta, e dentro de um tempo limite, para que depois possam enterrar a sua lança no olho da corrupção - literalmente. Inicialmente é fácil perceber o que é preciso fazer, mas as duas últimas zonas em particular vão exigir boa atenção e leitura do ambiente. Ao longo do jogo também irá desbloquear certos elementos novos, como cogumelos que formam carris orgânicos por onde pode deslizar.
O sistema de combate é menos interessante, até por só existe um punhado de tipos de inimigos. A capacidade para abrandar o tempo, apontar, e diminuir a distância para o inimigo com o gancho, pode ser satisfatório, mas no geral trata-se de um sistema de combate simplista que fica em segundo plano em relação à navegação e ao movimento. Gostámos, contudo, das batalhas com os bosses, que são verdadeiros testes de perícia com plataformas. Um pouco à semelhança de Shadow of the Colossus, primeiro terá de trepar estas criaturas, de forma a interagir com vários itens até chegar ao topo e espetar a lança. De certa forma não é verdadeiramente uma batalha, mas uma secção de plataformas mais elaborada. Terá de repetir isto três vezes por boss, e cada fase tem um percurso diferente para seguir. Estas batalhas são ainda reforçadas por uma fantástica banda sonora, que dá grande ambiente a todos os momentos do jogo.
Tentámos explicar Solar Ash da melhor forma que conseguimos, mas este é um daqueles jogos em que jogar é realmente tudo. A sensação de jogabilidade é fantástica, e casa na perfeição com os visuais estrondosos que apresenta. A história podia ser contada de forma mais elegante, e o combate contra os inimigos regulares pode ser algo banal e simplista, mas não deixe que nada disto o afaste de Solar Ash, sobretudo se aprecia jogos com um estilo muito peculiar e uma experiência de jogabilidade altamente recompensadora.