A Frogwares já mostrou que conhece bem o universo de Sherlock Holmes e a própria personagem, e terá sido precisamente esse conhecimento que lhe deu a confiança para apresentar este Chapter One. É que este novo jogo tem uma abordagem muito mais pessoal à personagem, apresentando um Sherlock Holmes mais novo que terá de lidar com as suas próprias origens.
O jogo arranca com Sherlock e Jon - seu amigo de infância - a chegarem à ilha fictícia de Cordona, no Mediterrâneo. Esta versão da personagem passou a sua infância nesta ilha, e agora regressou a casa para prestar homenagem à recém-falecida mãe. Acontece que Cordona está a registar um aumento de homicídios acima da média, e Sherlock Holmes terá de entrar em cena para resolver vários mistérios - incluindo alguns que irão revelar mais detalhes sobre o passado da personagem.
Para resolver esses casos terá de procurar pistas no ambiente, questionar suspeitos e testemunhas, e apresentar provas. Depois terá de usar tudo isso para chegar a uma conclusão, embora o processo em si nos pareça algo simplista, sobretudo comparando com outros jogos de detetives. Existem no entanto alguns pontos muito positivos, como a mecânica que permite reconstruir eventos e crimes. É quase como um puzzle, no sentido em que deve tentar perceber como tudo encaixa até fazer sentido. Depois existem interpretações alternativas, apresentadas como trabalho de arte fantásticos, e escolher a certa vai exigir atenção a elementos visuais e ao texto escrito. Quando todo o trabalho estiver feito, deve concentrar-se no "Palácio da Mente" e tentar chegar à conclusão certa - caso contrário pode enviar uma pessoa inocente para a prisão, ou pior.
Sherlock Holmes Chapter One funciona em mundo aberto, algo que a Frogwares já tinha experimentado com The Sinking City, mas é óbvio que evoluiu entre os dois jogos. Em primeiro lugar, Cordona é simplesmente linda. A forma como o sol atravessa as brechas das janelas fechadas nos bairros pobres, e os pirilampos dançam em torno dos arbustos à beira-mar, são tudo elementos e detalhes gráficos que garantem a Cordona uma atmosfera deliciosa, intensificada por uma boa banda sonora. As ruas estão cheias de vida com personagens a seguirem as suas tarefas e ações, incluindo crianças a brincar nos lagos e polícias a patrulhar as cidades, por exemplo.
É tudo muito credível, e ajuda que Cordona seja um caldeirão de diferentes culturas misturadas, embora o governo colonial opressivo dos britânicos esteja a fazer subir a tensão entre a população. Existe muito rancor contra os governantes britânicos, com um grupo de imigrantes empobrecidos à beira da rebelião, e cidadãos da classe alta sem consideração por pessoas de estatura económica e social inferior. É um barril de pólvora à espera de explodir, e isso é evidente em todos os distritos, ainda que cada um apresente a sua própria composição social e arquitetónica, com algo novo para descobrir em quase cada esquina. Visualmente, Sherlock Holmes Chapter One fica aquém das maiores produções recentes, mas o nível de detalhe é bastante bom.
Algumas mecânicas dos jogos anteriores foram removidas, enquanto que outras foram acrescentadas, como as mecânicas furtivas. É possível agir de forma sorrateira para tentar espionar indivíduos ou ouvir conversas, por exemplo. Também pode pedir direções ou questões a pedestres, embora tenha de perceber a quem o deve fazer. Para isso terá acesso à exemplar atenção ao detalhe de Sherlock Holmes, que funciona um pouco como os perfis em Watch Dogs. A diferença é que em vez de usar hacking, Sherlock utiliza o seu tremendo poder de dedução. Isso permite obter informações relevantes, mas também verificar alguns pontos divertidos sobre os cidadãos de Cordona. De igual modo, isto permitirá informá-lo do tipo de disfarces ou abordagens que deve ter para interagir da melhor forma com certas personagens.
Com casos interessantes, diálogos bem escritos, e algumas reviravoltas, o enredo e o guião de Chapter One são outros destaques do jogo- Até mesmo as picardias entre Sherlock e Jon, que inicialmente pareciam irritantes, acabaram por nos conquistar, e o mesmo pode ser dito das personagens em si, que apresentam um claro desenvolvimento ao longo da aventura. A nossa maior queixa é que o jogo acaba de forma abrupta, independentemente do final (existem quatro) que desbloquear. Também nos pareceu estranho que a história em si só decorra em três dos cinco distritos de Cordona.
A história deve ocupá-lo durante cerca de 12 horas, mas o mundo de Sherlock Holmes Chapter One merece ser explorado com mais tempo e atenção. Certos objetos farão Sherlock e Jon de recordarem eventos das suas infâncias, pedindo que o jogador recrie essas mesmas façanhas. Também pode decorar a mansão da família Holmes com móveis e objetos, e existem várias missões secundárias, com diferentes níveis de complexidade - algumas chegam a rivalizar com as missões principais em termos de complexidade. Também pode personalizar a jogabilidade de acordo com a sua preferência, desativando ou ativando vários assistentes de jogo.
Gostámos imenso de Sherlock Holmes Chapter One, que mostra a evolução da Frogwares enquanto estúdio. A história, as mecânica de jogo, e o design do mundo, formam uma experiência de qualidade, que não deve ser ignorada por fãs de jogos de detetives e investigação. Se está entre esse lote de jogadores, então acreditamos que a Frogwares merece bem os € 44,99 de Sherlock Holmes Chapter One.