Jogos de condução tendem a focar-se em corridas velozes de grande intensidade, mas não é essa a proposta que vai encontrar em Overpass. O objetivo do jogo passa antes por proporcionar uma simulação de condução todo-terreno, com um certo elemento competitivo, e em termos dessa proposta, atinge o seu objetivo. Tal como é explicado no tutorial, velocidade nem sempre é requisito para ganhar, já que em várias situações, a eficácia com que ultrapassa obstáculos será o factor determinante.
O que queremos dizer com isto, é que o jogo tem um sistema de física e simulação que obrigam o jogador a ponderar sobre como irá enfrentar cada situação. Tem pela frente um 'rio' de troncos? Então será má ideia acelerar a fundo e esperar pelo melhor. Em vez disso é melhor tentar uma aceleração ponderada tendo atenção ao ângulo das rodas. Existem muitos obstáculos deste tipo, que obrigam a parar, pensar, e ajustar um pouco como Trials faz com motas. Isto significa que estamos a falar de um jogo de condução com um ritmo muito lento, pelo que se procura velocidade, terá de procurar noutro lado.
Em parte, gostámos dessa filosofia, de abordar algumas situações quase como se fossem um puzzle, sobretudo porque não é algo muito típico em jogos deste tipo. Dito isto, também é importante que se prepare para momentos de grande frustração.
Quanto a modos de jogo, irá encontrar quatro alternativas: carreira, competição personalizada, corridas rápidas, e multijogador local ou online. No modo carreira irá encontrar um mapa com localizações disponíveis para corridas e eventos, ainda que a maioria das corridas não envolvam outros participantes, mas antes um tempo que é necessário bater. Velocidade é importante, mas não tanto quanto pensar em formas de ultrapassar o próximo obstáculo, seja ele um pneu, um tubo, ou um tronco, por exemplo. A ideia em si é interessante, mas a sua execução nem por isso.
A verdade é que é um processo demorado, que acaba por causar momentos de irritação, sobretudo quando o veículo simplesmente teima em não subir pelos obstáculos. Um simples erro pode causar vários minutos de tempo perdido e de repetição, e embora exista um botão para reaparecer na pista, não é suficiente para diminuir a frustração de algumas situações.
A experiência de jogo torna-se ainda mais oca e vazia pelo facto de não existir público, música, ou comentários. Está completamente sozinho nestes circuitos, e é precisamente essa a sensação que o jogo passa, uma de desolação e isolação. Pelo menos esse silêncio permitiu apreciar melhor a qualidade dos efeitos sonoros, em particular dos veículos, e também é preciso elogiar o detalhe das pistas, dos bólides, e da forma como as superfícies reagem aos carros.
Também apreciámos a excelência do motor de física que governa a jogabilidade, a resposta dos controlos, e a interação entre veículos e superfícies, ainda que por vezes fique a sensação de que ambos não estão realmente ligados. Falta mais algum peso para que a simulação fosse realmente de topo.
Existe certamente um público para Overpass, ainda que nos pareça algo limitado, já que os jogadores tradicionais de condução vão provavelmente considerar Overpass excessivamente parado e frustrante. Mesmo deste género, Mudrunner também já mostrou mais charme e propósito que Overpass, e embora seja louvável o espírito de simulação empregue pelo estúdio, parece-nos que o jogo teria beneficiado de mais um pouco de espetáculo e acessibilidade.