Embora certamente explosivo, e por vezes até pomposo, pode-se facilmente argumentar que a série O Falcão e O Soldado do Inverno foi sobretudo desenhada como uma amostra mais pessoal dos dois protagonistas, normalmente relegados para segundo ou até terceiro plano nos filmes da Marvel. O conceito central de utilizar o serviço Disney+ para abordar histórias mais pessoais e desenvolver personagens dos filmes que normalmente não têm muito tempo de antena, parece-nos inteligente, e em grande medida, O Falcão e O Soldado do Inverno cumpre esse propósito, mostrando um outro lado de Sam Wilson e Bucky Barnes.
Nesse sentido, esta primeira temporada (a Marvel já deu a ideia de que pode criar uma sequela) é um sucesso, e existe aqui muito material que pode ser expandido no futuro. Contudo, existem também alguns pontos cruciais da narrativa que a série simplesmente não consegue concretizar de forma muito eficaz, e por vezes até falha a marca por completo. E isso, infelizmente, acaba por baixar a série como um todo.
A série está estruturada em seis episódios, cada um entre os 50 e os 60 minutos (contabilizando os créditos), mas parte desse tempo é perdido a apresentar personagens que não têm grande impacto na história, ou simplesmente não são muito interessantes. Os dois heróis (mais John Walker) estão bem representados, e deliciam o ecrã, mas o resto do elenco acaba por não estar à altura.
O vilão, Zemo, que já tínhamos conhecido em Capitão América: Guerra Civil, é particularmente desapontante, acabando por acrescentar pouco ao enredo global - com exceção a alguns momentos na segunda metade da série. O mesmo pode ser dito de Sharon Carter, uma personagem que aparece mais como cameo, do que exatamente como uma peça crucial da narrativa.
Depois existe a organização Flag Smashers, que não são assim tão maus como antagonistas, sobretudo quando exploram a moralidade cinzenta do mundo da espionagem internacional, mas o que podia ser uma abordagem inteligente acaba por cair em excesso numa versão caricaturesca de si mesma, a própria oponente Morgenthau acaba por eventualmente se transformar numa vilã típica. O Falcão e o Soldado do Inverno tem bons ingredientes e boas ideias, mas a mistura acaba por não correr muito bem, e o resultado final não é tão saboroso como esses ingredientes o sugerem.
Dito isto, é uma grande produção, e os atores são fantásticos. Sam e Bucky continuam a ser fantásticos, e alguns dos seus momentos-chave são suficientes para manterem a série à tona. Como já referimos, a série funciona bem quando está centrada nos protagonistas, mas perde-se quando tenta abordar outras personagens e temas. Talvez se tivesse tido mais tempo para expandir certas situações e motivações, o resultado final fosse mais interessante, mas como está, é simplesmente razoável.
Há uma boa série no coração de O Falcão e o Soldado do Inverno, com Sam e Bucky empenhados em encontrarem o seu caminho num mundo pós-Endgame e pós-Steve Rogers. Tem excelente ação, boa interação entre protagonistas, e mostra vislumbres de tópicos importantes. Infelizmente acaba é por não ter tempo suficiente, nem destreza, para levar tudo isso até ao seu verdadeiro potencial.