A primeira vez que visitámos a ilha fictícia de Aeternum foi durante um período de testes de New World, em 2020. Foi aí o nosso contacto original com o mundo dos Depraved, e com as características peculiares do MMORPG da Amazon Game Studios. Nessa altura o jogo estava muito direcionado para uma vertente PvP (jogador versus jogador), o que naturalmente agradou a esse tipo de jogadores, mas muitos outros exigiram mais conteúdo PvE (jogador versus ambiente). Cá estamos então, um ano depois, para visitar a versão final de New World e perceber o que mudou.
A aventura do jogador arranca com um naufrágio, que o leva até à ilha de Aeternum. A partir daí irá encontrar a jornada típica de qualquer MMO, enfrentando centenas de inimigos para melhorar as suas capacidades, aperfeiçoando a sua perícia com a criação de itens, e visitando masmorras recheadas de oponentes desafiantes. Em New World a exploração é recompensada com uma substância conhecida como Azoth, útil para várias ações, incluindo viagens instantâneas pelo mapa e o refinamento de itens. É este recurso que dá a Aeternum as suas propriedades mágicas, e também o que impede que os mortos permaneçam no chão. Esses mortos, contudo, são normalmente ressuscitados na forma de monstros terríveis, que terá de derrotar.
Terá à sua disposição várias categorias para a construção de itens, que depois se dividem em diferente tipos de profissões, se lhes quiser chamar isso. Ao todo existem 17 tipos de habilidades deste tipo, incluindo ferreiro, pescador, lenhador, e outras profissões semelhantes, todas com possibilidade de evolução para cima de nível 100. Ao contrário de outros jogos do género, New World não tem um sistema de classes, o que permite a qualquer personagem usar um dos 11 tipos de armas que preferir. O arsenal inclui armas como machados, lanças, e mosquetes, e o facto de não estar preso a classes significa que pode alternar entre elas a bel-prazer. Pode, contudo, especializar-se nas armas que preferir, já que cada um dos 11 tipos de armas inclui duas árvores de atributos para evoluir de forma separada.
A temática de New World é um dos pontos onde o jogo da Amazon Game Studios mais se distingue de outros MMORPG, já que segue uma temática colonial. Adorámos a forma como isso influenciou a construção do mundo, das armas, e das personagens, mas ficámos algo desiludidos com a história em si. Parece-nos com o tema podia ter sido explorado de forma mais interessante, mas acaba por ser mais uma desculpa para formar o mundo e para apresentar missões banais para motivar a evolução das personagens.
Uma das escolhas mais importantes que terá de fazer diz respeito à fação que irá representar, sobretudo se quiser desfrutar da vertente PvP. Existem três fações - Marauders, Syndicate, e Alliance -, todas em confronto perpétuo pelo domínio de Aeternum e de Azoth. Abaixo das fações irá encontrar o sistema de guildas, grupos formados pelos jogadores, embora sempre ligados à fação escolhida. Cada área de jogo será eventualmente conquistada por uma fação, e por uma guilda associada, o que significa que o líder dessa guilda pode determinar vários elementos dessa área, incluindo os impostos que os jogadores da sua fação - e os das fações inimigas - têm de pagar. Se uma das fações adversárias começar a ganhar muita influência, contudo, terá início uma guerra que envolverá até 50 jogadores da fação que está no poder e até 50 jogadores da fação desafiante.
Mesmo que prefira ser um jogador solitário e sem guild, irá acabar por ganhar um certo espírito de equipa à conta dos vários sistemas de jogo. Mesmo sem guild irá beneficiar se a sua fação comandar uma determinada área, e as suas missões irão contribuir para que a sua fação ganhe influência e eventualmente gere uma guerra. Parece-nos interessante esta abordagem da Amazon Game Studios, de oferecer aos jogadores controlo sobre o mercado, a economia, e as áreas de jogo. Isto, contudo, também significa que serão as guildas e os seus líderes a determinarem quando os jogadores terão acesso a um dos elementos mais importantes da jogabilidade - a guerra de 50 versus 50.
Esta estrutura também pode fazer com que o jogador solitário se sinta demasiado ausente das decisões importantes. Por exemplo, na primeira vez que a nossa fação desafiou outra fação, começamos de imediato a jogar mais horas e a treinar para o conflito que se aproximava, mas acabámos por não ser convidados para o grupo de 50 jogadores. Numa segunda tentativa também ficámos de fora, mesmo com convite, porque a ridícula fila para entrar no jogo impediu-nos de entrar a tempo.
Ainda assim, existe muito conteúdo para o jogador solitário cumprir, como a possibilidade para construir a sua própria casa. Terá de pagar uma taxa ao líder da guilda que comandar a área, mas depois pode viajar rapidamente para a sua casa e preenche-la com os itens que pode criar. Existe algo especial em ter uma casa numa sociedade formada por outros jogadores, e foram muitas as horas que dedicámos simplesmente a melhorar o nosso pequeno cantinho de Aeternum.
Além das guerras de 50v50, New Worlds também permite participar em Expeditions (masmorras PvE), Outpost Rush (modo PvP de 20v20), e Invasions (semelhante às guerras 50v50, mas que coloca os jogadores contra inimigos invasores controlados pela inteligência artificial). Para participar neste tipo de conteúdo precisa no entanto de se preparar, e isso inclui muitas horas de grind - aliás, tudo em New World exige grind, que é o mesmo que dizer que terá de repetir muito conteúdo. Ainda assim, as casas e os modos incentivaram-nos realmente a passar pelo grind, e o facto da jogabilidade ser divertida também facilita imenso esse processo.
New World é um bom começo, mas estamos curiosos para ver como a Amazon Game Studios irá evoluir o jogo. O facto de tanto conteúdo estar sob controlo dos jogadores, e de ser uma experiência muito à base de grind e repetição, pode eventualmente tornar-se problemático, mas para já sentimos que não é o caso, pelo contrário, é algo que distingue New World. Existem vários elementos que podem e devem melhorar durante os próximos meses, mas se o interesse dos jogadores se mantiver e a Amazon Game Studios souber ouvir o feedback e tomar boas decisões, New World pode crescer para se tornar algo especial. O que sabemos é que, mesmo não sendo o MMORPG que esperávamos que fosse, o nosso tempo com New World está ainda muito longe do fim.