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Horizon: Zero Dawn

Horizon: Zero Dawn

Esqueçam Killzone, este é o jogo que a Guerrilla estava destinada a fazer.

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Sabiam que o primeiro jogo da Guerrilla Games foi lançado para Xbox? É verdade, um jogo de ação na terceira pessoa baseado no Vietname chamado Shellshock: Nam '67. Pouco tempo depois do lançamento desse jogo, a Guerrilla foi comprada pela Sony, e desde então trabalharam sem parar na série de Killzone. Mas o estúdio e os fãs estavam saturados, e a saga tardava em regressar ao nível de qualidade de Killzone 2 - para muitos o ponto alto da saga. Estava na hora de criar algo novo, algo especial, e a escolha recaiu em Horizon: Zero Dawn. Depois de várias dezenas de horas com o jogo, podemos finalmente afirmar com confiança que esta foi a decisão mais acertada que a Guerrilla Games podia ter tomando.

Horizon: Zero Dawn está a ser promovido como um RPG de ação, mas na verdade é um cocktail de ideias, conceitos, e mecânicas de outros jogos. É parte Far Cry Primal e Monster Hunter, com um pouco de Tomb Raider e The Witcher 3: Wild Hunt. Jogos que copiam ideias de outros jogos não é nada de novo, e não é necessariamente mau - desde que seja bem feito. Basta olhar para a Blizzard, que raramente tem uma ideia própria, mas que é perita em pegar em conceitos que já existem e transformá-los em algo melhor. Em parte é isso que acontece com Horizon: Zero Dawn. Quase tudo funciona bem, sobretudo ao nível da jogabilidade e do mundo de jogo, mas tem um elemento que o distingue dos demais - as máquinas.

Mas antes de falarmos destas bestas mecânicas que tomaram conta da Terra, um pouco de contexto.

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Ao contrário de Killzone, onde o foco sempre foi o inimigo anónimo - os Helghast -, Horizon: Zero Dawn está todo concentrado na personagem de Aloy. A estória passa-se centenas de anos no futuro, num cenário "pós, pós-apocalíptico". O apocalipse aconteceu, e a civilização como a conhecemos desabou, mas a vida continuou. Os restos da civilização moderna foram engolidos pela natureza, e a humanidade sobrevive agora como tribos primitivas. Contudo, não estamos sós. Além de humanos e animais, a Terra está agora ocupada por misteriosas máquinas que assumem formas animalescas, aparentemente com o objetivo de recolherem recursos naturais.

De onde vieram estas máquinas? Qual é o seu propósito? E que ligação têm com o apocalipse? Este mistério em torno das máquinas é um dos pilares narrativos de Horizon, e é um mistério que vão desvendado ao longo do jogo, não só através da estória, mas também enquanto recolhem documentos, visões, artefactos, e até peças de código binário que estão espalhados pelo mundo.

No centro de tudo isto está a protagonista, Aloy, uma jovem rapariga que foi adotada por um renegado da tribo Nora. Aloy foi abandonada em bebé e afastada da tribo por motivos desconhecidos, mas nas primeiras horas desenvolve-se uma narrativa com dois elementos. Um envolve a tribo de Aloy, e as outras tribos (existem quatro ao todo), enquanto descobrem um pouco sobre a estória de cada tribo e conhecem várias personagens. O outro lado da estória - e bem mais interessante na nossa opinião - é precisamente o mistério que envolve Aloy, as máquinas, e o apocalipse. Os dois lados da estória cruzam-se, e vão seguir o mesmo caminho, mas Horizon é mais interessante quando está focado nas máquinas e no que aconteceu antes, do que nas personagens.

Um dos pontos mais fracos de Horizon será o argumento. No geral é razoável, mas existem alguns momentos francamente pobres, sobretudo envolvendo missões secundárias (não confundir a qualidade dos diálogos com as missões em si). Esta escrita medíocre é ainda mais acentuada por prestações inacreditavelmente más de alguns atores, mas felizmente são exceções. No geral, tanto o argumento, como os atores, fazem um trabalho razoável, mas este é sem dúvida um dos pontos que a Guerrilla tem de melhorar no futuro. Também gostaríamos que o jogo investisse mais tempo no desenvolvimento das personagens e das tribos, porque são genuinamente interessantes.

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Felizmente para Horizon: Zero Dawn, estamos a falar de um jogo, e não de um filme. Enquanto o argumento e o desempenhos dos atores é importante - cada vez mais -, não é isso que mais importa num jogo deste género. Jogabilidade, mundo de jogo, conteúdo. Estes são os ingredientes chave de um jogo passado em mundo aberto, e Horizon: Zero Dawn brilha em todos eles.

Horizon joga-se na terceira pessoa, um pouco como Tomb Raider. Podem trepar, colocar armadilhas, agir furtivamente, e utilizar armas - em particular arcos - para abater os seus inimigos. Aloy tem acesso a dois ataques físicos (um forte, outro veloz), e pode executar vários ataques furtivos, incluindo a partir de plataformas elevadas ou baixas. Aloy pode ainda desviar-se dos inimigos e trepar algumas estruturas, como montanhas e torres - embora sempre em plataformas identificadas com a cor amarela.

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Conforme vão jogando, vão também recebendo pontos de experiência, e Aloy sobe de nível como num RPG tradicional. Sempre que sobe de nível, Aloy ganha um ponto para gastar em três árvores de habilidades. Uma árvore é dedicada a ação furtiva, outra a combate direto, e outra a sobrevivência, e existem perto de 20 habilidades por cada árvore. Estas habilidades envolvem desbloquear mais ataques furtivos, o número de flechas que podem disparar em simultâneo, o número de recursos que podem recolher, e assim por diante.

Algo que nos apanhou de surpresa em Horizon: Zero Dawn foi o tamanho e a qualidade do mundo de jogo. A área de jogo - aberta e sem loadings - é massiva, e inclui várias regiões para explorar. Existem zonas nevadas, florestas luxuosas, desertos em desfiladeiros, e claro, ruínas antigas para explorar. Neste mundo vão encontrar cidades, acampamentos, postos de humanos inimigos, e até masmorras opcionais para explorarem, que parecem saídas de Matrix.

Mas o que vamos fazer neste enorme mundo?

Caçar, sobretudo. Vão caçar animais vivos, como porcos, peixes, e coelhos, mas principalmente máquinas. Máquinas enormes e assustadoras. Existe claro uma estória para seguir, mas também uma série de atividades extras para cumprirem, se assim o desejarem. Podem recolher colecionáveis (existem quatro tipos, além de documentos), embarcar numa série de missões secundárias, derrubar postos inimigos, explorar masmorras, trepar torres para desbloquear o mapa (neste caso são máquinas gigantes com um enorme pescoço), e até participar em cinco desafios de caçadores. Se o fizerem, podem entrar numa guilda de caçadores e seguir uma série de missões específicas para a guilda.

Nada disto é novo, e já foi feito noutros jogos em mundo aberto, mas nenhum desses jogos tem um conjunto de inimigos tão criativos como as máquinas de Horizon: Zero Dawn. O design destes mais de 20 tipos de máquinas é fantástico, não só visualmente, como ao nível de jogabilidade. Vão precisar de estudar estas máquinas, de aprender os seus pontos fortes e fracos, e de aplicar uma estratégia que minimize os primeiros e maximize os segundos. Existem máquinas que seriam autênticos bosses noutros jogos, que vão obrigar a abordagens muito planeadas e esforçadas para derrubar. Combater estes inimigos é fantástico, tanto ao nível de jogabilidade, como de grafismo.

Se há algo a que a Guerrilla nos habitou nos seus jogos, é uma capacidade gráfica acima do normal, e Horizon: Zero Dawn não é exceção. Estamos a falar de um dos jogos em mundo abertos mais bonitos que já vimos. Correção - é um dos jogos mais bonitos que já vimos - ponto. Durante o primeiro minuto de jogo pensávamos que estávamos a ver um vídeo em CGI, pré-renderizado, e só depois percebemos que a sequência estava a correr em tempo real. É deveras impressionante. Melhor ainda? O jogo correu sempre de forma estável - e se existiram quebras de fluidez, não as notámos, nem mesmo nos momentos de maior intensidade. Uma referência apenas para as animações faciais de alguns diálogos, que estão francamente más, mas este dado específico é referido numa nota da Guerrilla para os jornalistas, deixando saber que esta falha será corrigida na primeira atualização do jogo. Esperemos que sim.

Jogámos Horizon: Zero Dawn na PS4 Pro. numa televisão 4K e com suporte para HDR. Sem surpresa, o jogo está estupendo nesta configuração, mas é preciso também deixar claro que Horizon: Zero Dawn está muito bem optimizado na PS4 regular, e também nesta versão da consola apresenta uma qualidade gráfica acima da média. Nota ainda para o estupendo desempenho sonoro do jogo. A banda sonora, os ruídos ambiente, e em particular os sons da máquina, são notáveis. E a dobragem portuguesa é de qualidade também.

A Guerrilla Games precisava que Horizon: Zero Dawn fosse algo de especial, para provar que são mais que Killzone, e que ambicionam entrar na primeira liga das produtoras Sony. Conseguiram-no. Enquanto existem elementos que gostaríamos de ver melhorados e expandidos numa inevitável sequela, Horizon: Zero Dawn é tal como está um feito notável e admirável. É um dos jogos mais belos de sempre, tem um dos mundos mais impressionantes que já explorámos, a jogabilidade é excelente, e o design dos inimigos é brilhante. Está a um bom argumento de ser uma obra mestra, mas isso virá certamente com o tempo.

Está encontrado um novo ícone da PlayStation.

Horizon: Zero DawnHorizon: Zero DawnHorizon: Zero Dawn
09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Mundo expansivo e lindo. Fabuloso design das máquinas. Mistério intrigante em torno da estória. Localização e dobragem em português. Jogabilidade extremamente sólida. Muito conteúdo secundário. Experiência bem optimizada, mesmo sem atualizações.
-
Alguns diálogos fracos. Mais puzzles e plataformas teriam ajudado a mudar o ritmo.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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