Considerando tudo o que a Ubisoft nos foi dizendo sobre Assassin's Creed: Rogue ao longo dos últimos meses, não seria descabido presumir que este jogo de PS3 e Xbox 360 (já anunciado para PC) poderia ser uma tentativa fácil da Ubisoft em reaproveitar a estrutura de Assassin's Creed IV: Black Flag. E de certa forma, é isso mesmo que acontece. Existe muita reciclagem em Assassin's Creed: Rogue e em termos de qualidade fica aquém de Black Flag, mas inclui, ainda assim, pontos de interesse para os fãs da série - sobretudo os portugueses.
Um dos pontos que mais distingue Rogue dos outros capítulos da série é o protagonista, Shay Patrick Cormac, que como a Ubisoft nos informou desde cedo, é um assassino que eventualmente se torna num templário. O que não se sabia, contudo, era a importância de Lisboa no rumo desta história. Durante uma curta secção, a sensivelmente um terço do jogo, poderão visitar a capital portuguesa, mas não vamos entrar em grandes detalhes para não estragar a surpresa.
Ao contrário de Assassin's Creed: Unity, em que não existe jogabilidade no presente, Rogue aproveita o mesmo conceito de Black Flag. Vão jogar como um funcionário da Abstergo Entertainment, que está a testar as aventuras de Shay. A certos momentos do jogo poderão abandonar o Animus para observarem alguns segmentos de história. Também podem explorar o cenário para encontrarem mais informações que ligam à história de Desmond. Tudo isto no mesmo espaço que visitaram em Assassin's Creed: Black Flag.
Quanto à história no passado, Shay começa o jogo como assassino, e eventualmente torna-se um templário. Isto foi desenhado para mostrar o confronto entre as duas fações pelo lado dos templários, uma forma de assinalar que toda a questão do "bem e do mal" depende sempre da perspetiva. O problema é que tudo parece muito forçado. Como todos os jogos fazem questão de lembrar, os assassinos pretendem informar o mundo da verdade e "libertar" a humanidade, enquanto que os templários preferem usar isso (os segredos dos precursores) para manterem a ordem e o controlo sobre o mundo.
Neste jogo, contudo, obviamente por uma questão de conveniência, os assassinos têm algumas atitudes bastante idiotas, enquanto que os templários parecem ser o grupo mais honrado e justo dos dois. São tomadas várias decisões que não nos parecem credíveis e o próprio Shay parece trocar de lado com alguma facilidade. Enquanto até é aceitável o motivo que o leva a abandonar a irmandade, é difícil aceitar que deixasse os seus ideais para trás e se junta-se ao inimigo.
Não é uma história horrível, mas é claramente forçada e devem ter isso em conta antes de começarem, até porque em termos do arco geral da saga, Rogue acaba por ser bastante importante. O jogo inclui várias personagens dos capítulos anteriores, e faz a ponte entre AC III, AC: Black Flag e até Assassin's Creed: Unity.
Enquanto o mar era o grande atrativo de Assassin's Creed IV: Black Flag, ocupando uma grande porção do tempo de jogo, a ação em AC: Rogue é mais equilibrada. Ainda existe muito mar para explorarem com o novo navio, ocupando fortes, descobrindo colecionáveis, destruindo navios e cumprindo várias atividades secundárias. Até podem evoluir o navio, como acontecia no anterior.
No entanto, Assassin's Creed: Rogue acaba por ter mais tempo de terra, sobretudo porque Nova Iorque - a maior cidade do jogo - é grande e tem muitas atividades. A maioria é copiada de Black Flag, mas existem algumas novidades. Como Shay, a certo ponto, se torna um templário, não terá missões de assassinato. Em vez disso terá de procurar pombos com mensagens dos assassinos (têm de se esgueirar até ao pombo), descobrir a sua localização e impedi-los de assassinarem o seu alvo.
Outra novidade são os gangues de Nova Iorque, que ocupam determinadas zonas da cidade que terão de eliminar e controlar. Depois podem começar a ajudar na construção ou restauração de edifícios da cidade, o que aumentará o dinheiro ganho. Não é nada verdadeiramente novo, mas antes pequenas variações do que já existia.
No que respeita à jogabilidade, Rogue joga-se de forma muito idêntica a Black Flag. Em termos de movimento e combate, é tudo praticamente igual, com a exceção da introdução de algumas armas novas. Até o combate naval funciona de forma semelhante, como seria de esperar. A principal novidade da jogabilidade surge nos inimigos.
Como agora estão a jogar com um templário, vão enfrentar assassinos em boa parte da aventura, que têm acesso às mesmas técnicas que o jogador. Isto significa que se podem esconder em vários locais, como montes de feno, vegetação ou bancos, de forma a apanharem o jogador de surpresa. Se forem atacados desta maneira, vão perder bastante saúde no processo.
Sempre que está um assassino por perto, começam a ouvir assobios, momento em que devem acionar o sexto sentido de Shay para encontrarem os seus esconderijos e obrigá-los a saírem. É uma inversão engraçada dos papéis, que acrescenta alguma particularidade a um jogo que precisava desesperadamente disso mesmo.
À semelhança do que já tinha acontecido com Assassin's Creed IV: Black Flag, AC: Rogue tem um comportamento bastante digno na PS3 e Xbox 360. Graficamente não é o jogo mais inspirado que já vimos, mas tem bom aspeto e a framerate corresponde normalmente bem. Aliás, Rogue acaba por correr muito melhor nas consolas antigas que Unity nas novas, o que não deixa de ser irónico (e um pouco triste).
Assassin's Creed: Rogue não tem a magia de Black Flag, que aproveitou muito bem a novidade das batalhas navais e explorou o romantismo dos piratas. Sem esses elementos, e com um protagonista consideravelmente menos carismático, Rogue perde força em comparação com o seu antecessor. Com muita reciclagem de conteúdo e sem o encanto de Black Flag, Rogue não é de todo um jogo obrigatório, mas é suficientemente bom para agradar aos fãs mais devotos da saga.