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Assassin's Creed: Unity

Assassin's Creed: Unity

Quando a pressa e a ganância prejudicam o que podia ser uma das obras mais impressionantes do ano.

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Quando a Ubisoft adiou Watch Dogs em novembro de 2013, deixou muitos jogadores decepcionados, mas terá-lo feito por bom motivo. A qualidade da história e de algumas mecânicas acabaram por desiludir um pouco, mas o adiamento de várias meses terão sido essenciais para o que acabou por ser uma experiência de mundo aberto bastante sólida e suave. Assassin's Creed: Unity merecia o mesmo tipo de coragem e cuidado da Ubisoft.

Este é o primeiro Assassin's Creed produzido de raiz para a nova geração de consolas e PC, elevando a ambição técnica da série para um patamar muito superior a qualquer outro capítulo da saga. A qualidade gráfica do jogo é impressionante, casada com uma escala que provavelmente não tem igual no mundo dos videojogos, sobretudo ao nível da relação tamanho/pormenor. Paris é uma cidade massiva, a transbordar de detalhe e com um número de personagens a circularem no ecrã que chega a ser absurdamente alto.

O problema é que esta grande ambição tem o seu custo, e a Ubisoft não soube optimizar a experiência da melhor forma. Assassin's Creed: Unity precisava claramente de mais uns meses de afinação, para resolver as quebras evidentes na framerate, vários problemas de detecção de colisão (de Arno e das restantes personagens) e incontáveis falhas técnicas. Isto foi causado pela pressa de lançar o jogo, que é ainda mais incompreensível quando consideramos que houve outro capítulo da série (Assassin's Creed: Rogue) lançado no mesmo dia. O outro problema é um de ganância.

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Como jogadores modernos, começamos (infelizmente) a habituar-nos a conviver com micro-transações, incentivos de pré-reserva e experiências cruzadas com aplicações de outros dispositivos ou meios. Assassin's Creed: Unity tem isto tudo, e embora as micro-transações em si não sejam graves, o conjunto de todas estas particularidades acaba por prejudicar a experiência - e isso é o mais grave.

Assassin's Creed: Unity estreia um novo sistema do Uplay - Initiates, que basicamente classifica os jogadores por níveis, conforme o seu passado com os jogos da série. Com estes pontos Initiate podem aceder a tesouros amarelos que estão no mapa. Depois há os pontos Nomad, que irão ganhar através de um mini-jogo da aplicação oficial e que permite aceder aos tesouros azuis (e ainda podem comprar a versão Premium da aplicação!). E por fim podem comprar pontos Helix com dinheiro real ou através de algumas ações no jogo. Estes pontos Helix permitem comprar vantagens, como maior dano ou melhor capacidade furtiva durante alguns minutos. A isto juntem dinheiro de jogo, pontos de sincronização e pontos de assassino, que permitem evoluir o equipamento e o próprio Arno.

Esta insistência da Ubisoft para que o jogador descarregue as suas aplicações e participe nas iniciativas dos seus serviços digitais é francamente aborrecida, agastando a experiência com lembretes constantes e poluindo o mapa com tesouros a que não podem aceder, a menos que aceitem perder tempo com mini-jogos que possivelmente não vos interessam. O resultado final é desnecessariamente confuso e por vezes até mesmo intrusivo.

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Estes fatores já seriam negativos num jogo de menor impacto, mas tornam-se particularmente frustrantes quando o jogo em si tem tanto potencial como Unity. Depois de navegar pelo alto mar com Edward Kenway em Assassin's Creed IV: Black Flag, a Ubisoft decidiu voltar às origens da série, focando-se numa grande cidade, ação furtiva e a luta entre templários e assassinos.

A ação decorre maioritariamente em Paris, durante a revolução francesa do século XVIII. O novo protagonista é Arno, um jovem atrevido e com carisma, a lembrar Ezio Auditore. À semelhança do herói italiano, Arno também é motivado pela vingança, culpando os templários pela morte do seu pai, ainda em criança, e mais tarde pela morte do seu pai adotivo, mas há um novo elemento - Élise. Esta jovem rapariga é a filha do pai adotivo de Arno, o que tecnicamente faz deles irmãos, mas isso não os impediu de começarem um romance. O grande problema é que Élise pertence à ordem dos templários, o que obviamente poderia resultar em algumas discussões familiares entre os dois.

A relação de Arno e Élise é o coração da história, que não sendo particularmente memorável, será suficiente para vos entreter até ao fim. Ao longo do caminho vão conhecer outras personagens interessantes e históricas, como Napoleão e Marquês de Sade. As prestações dos atores são de grande qualidade, embora seja estranho que a Ubisoft tenha optado por um sotaque vincadamente britânico e não um sotaque francês.

Assassin's Creed: Unity

Assassin's Creed: Unity confirma também a tendência dos últimos jogos, que a componente contemporânea da história é para cortar. Unity não inclui segmentos de jogabilidade no presente, apenas algumas sequências de vídeo que fazem pouco mais do que piscar o olho aos jogadores que até podiam ter interesse nessa parte da história. Aliás, o único elemento que faz a ponte com a história de Desmond é a voz de fundo de Shaun Hastings.

Embora o argumento principal não seja particularmente memorável, existem muitas outras histórias para descobrirem em Paris. O jogo inclui mesmo um segmento de missões secundárias que apelida de "Histórias de Paris". Poderão ajudar Madame Tussauds a recolher as cabeças de corpos que tem de transformar em cera e que lhe foram roubadas, seguir os conselhos de uma vidente muito especial, investigar as vozes fantasmagóricas que saem de algumas fontes da cidade, ou tentar entrar (e investigar) no culto do demónio Bafomete. Cada uma destas histórias é composta por várias missões e podem encontrar muitas mais.

Ainda existem enigmas do Nostradamus, missões do Café Theatre (já falamos melhor disto) e até investigações policiais. Terão de pesquisar as áreas de homicídios estranhos à procura de pistas e interrogar testemunhas. Depois devem escolher que suspeitos vão acusar do crime, sendo que serão penalizados se optarem pelo suspeito errado. Assassin's Creed nunca teve missões secundárias tão variadas e interessantes como Unity.

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Assassin's Creed: Unity está recheado de conteúdo. Existem vários tesouros para encontrarem (além dos azuis e amarelos de que falámos em cima) e muitos colecionáveis, que irão ocupar os caçadores de Troféus durante horas a fio. Até existem pequenas missões que vos irão levar a outros períodos da história de Paris... mas é melhor guardar esta surpresa para os jogadores.

Outra ativadade extra é o Café Theatre, uma espécie de base de operações para Arno que pode ser expandido a várias lojas de Paris, aumentando o dinheiro ganho. Podem evoluir várias áreas do café, desbloqueando missões específicas em cada uma, mas também podem usar o café para rever cartas de Élise, treinar, observar troféus e aceder ao modo multijogador.

O modo competitivo que tem estado presente desde Assassin's Creed: Brotherhood deu lugar um novo modo cooperativo. São várias missões que podem cumprir até um máximo de quatro jogadores. Este é o tipo de experiência que merece ser desfrutada com amigos. Também existe emparelhamento automático, mas como acontece em tantos outros jogos, o mais provável é que comece cada um a ir para seu lado, instalando o caos.

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Outra novidade de Unity diz repeito ao sistema de Parkour, ou movimento livre. A Ubisoft mudou a mecânica que permite trepar edifícios, sobretudo no que diz repeito a saltos e descidas. É agora muito importante ler o cenário e carregar no botão certo para o movimento desejado. R2 dá um pequeno salto para a frente, R2 + X permite dar um saltar maior para a frente ou para uma plataforma superior, e R2 + O permite cair diretamente para o patamar inferior. É um sistema que pode ser facilmente considerado como faltoso por jogadores menos atentos, mas que na verdade funciona bastante bem. Aconselhamos apenas que percam alguns minutos nos telhados a treinar o sistema de saltos e Parkour. Duas dicas: aprendam a largar o R2 e lembrem-se que a direção da câmara é muito importante para determinar o salto de Arno.

A maior mudança do sistema de Parkour surge na nova opção para descer dos edifícios. Pressionando no R2 + O, Arno irá iniciar uma descida automática para as plataformas imediatamente inferiores (mas podem parar a meio, se quiserem). Isto permite descer para os níveis inferiores com uma rapidez (e classe, porque as animações são soberbas) que simplesmente não era possível no passado. É uma adição realmente fantástica.

Outra adição que merece ser referida é a dos botões de ação furtiva. Arno consegue andar agachado, podendo passar despercebido entre objetos de altura média, como mesas e sofás. Também pode encostar-se a esses objetos, num sistema que lembra Splinter Cell: Conviction e que até inclui "a última posição", marcando com uma silhueta a última posição em que os guardas viram o jogador. Existem alguns problemas na detecção de colisão dos objetos a que se podem encostar, e lamentamos a ausência da ação para assobiar e distrair inimigos, mas é uma adição que há muito fazia falta á serie.

O sistema de combate também foi revisto, estando agora numa forma mais sólida e interessante para o jogador. Os combates são mais difíceis e obrigam a maiores cuidados, ao contrário das batalhas facílimas dos anteriores. Vão morrer mais vezes em Unity do que provavelmente em todos os outros Assassin's Creed juntos. Este sistema obriga a uma de duas opções - ou exploram melhor o lado furtivo da jogabilidade, ou equipam Arno para lidar com as batalhas.

Assassin's Creed: Unity

Assassin's Creed: Unity tem um tremendo sistema de personalização da personagem. Existem várias peças de equipamento, que além de oferecerem grande diversidade visual, permitem focar o tipo de jogabilidade desejado. Podem equipar Arno de forma ligeira, melhorando as suas capacidades furtivas, ou podem aumentar a sua armadura e força (com armas pesadas), preparando-o para lidar com as batalhas diretas. Este mesmo sistema é aplicável ao modo cooperativo e cada jogador irá participar com o equipamento que tem equipado no modo a solo. E ainda existem armaduras secretas para encontrar...

Uma última palavra para a cidade de Paris. A sua dimensão é impressionante, mas mais importante que isso, é o detalhe que apresenta. O detalhe de engenharia é fabuloso e o comportamento das personagens que circulam pelas ruas dão uma vida à cidade que poucos jogos conseguem igualar (quando as coisas não correm mal e aparecem personagens a flutuar no ar). Parece que cada esquina tem um conjunto de civis a fazer uma atividade diferente, seja a fazer piquenique, a dançar, a vender, a pisar uvas ou a tentar barricar um edifício político. É inacreditável a quantidade de pequenas atividades destas personagens, que merecem ser apreciadas pelos jogadores mais atentos. E ainda existem vastas redes de túneis subterrâneos com os seus próprios segredos para descobrirem.

É fácil olhar para Assassin's Creed: Unity e perceber que podia ter sido o maior capítulo da saga e possivelmente um dos melhores jogos do ano, mas isso não aconteceu. Enquanto o jogo está recheado de conteúdo (e muito de grande qualidade) e as novidades da jogabilidade são muito bem-vindas, a optimização de Assassin's Creed: Unity está demasiado abaixo do que é exigível de um jogo desta dimensão. Existem problema de framerate, os loadings são excessivamente longos, e as falhas técnicas (ou 'bugs') acumulam-se uns atrás dos outros. Ainda assim, Assassin's Creed: Unity é um jogo com muito para oferecer, que os fãs da série irão certamente desfrutar se conseguirem aceitar as falhas do jogo.

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08 Gamereactor Portugal
8 / 10
+
Cidade massiva e cheia de detalhe. Conteúdo que nunca mais acaba. Novas mecânicas de jogo são muito bem vindas. Modo cooperativo com potencial. Localização portuguesa (do Brasil). Qualidade gráfica impressionante.
-
Pobre optimização. Várias falhas técnicas. Propaganda intrusiva de conteúdo extra-jogo.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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