Grand Theft Auto III é um dos jogos mais influentes de sempre, escrevendo a maioria das regras que estabelecem os jogos em mundo aberto. Isto catapultou a Rockstar para o estatuto de mega-estúdio, e GTA III serviu de base para mais dois títulos na era 128 bits, Vice City e San Andreas. Entretanto os três jogos foram lançados para várias plataformas, inclusive para as mais modernas, mas a Rockstar decidiu retirar essas versões do mercado para relançar uma coleção "definitiva", que custa € 59,99.
Havia grande entusiasmo em torno deste relançamento, já que a Rockstar prometia grandes melhoramentos gráficos e uma jogabilidade modernizada, mas nunca o chegou a mostrar realmente antes do lançamento. Isso levantou algumas suspeitas, mas como a Rockstar funciona sempre à sua própria maneira, penou-se que seria mais uma atitude "à Rockstar". Infelizmente, era mais que isso, e o lançamento desta trilogia revelou ser um verdadeiro desastre. Não só é a qualidade da trilogia em si desapontante, como a versão PC - que alguns jogadores já pagaram - não foi sequer lançada. O Rockstar Launcher esteve offline durante mais de um dia, e quando voltou online, veio sem a presença da trilogia, que continua indisponível aquando da publicação desta análise.
Mas falemos da coleção em si.
Basicamente irão encontrar versões "melhoradas" de Grand Theft Auto III, GTA: Vice City, e GTA: San Andreas. Existem de facto alguns melhoramentos, como os tempos de loading drasticamente melhorados (sobretudo nas novas consolas), texturas de qualidade superior, e um sistema de iluminação moderno. Alguns modelos foram também melhorados, e vários itens que eram somente texturas 2D nos originais, passaram a ser modelos 3D, como correntes, colares, e outros elementos semelhantes.
Infelizmente existem também muito defeitos. A transição de algumas personagens para as novas versões é terrível, os três jogos estão repletos de bugs (como paredes que podem ser atravessadas, e elementos gráficos que se alongam de forma estranha durante as sequências cinemáticas), e os jogos apresentam um desempenho inaceitável em quase todas as plataformas. Por muitos melhoramentos técnicos que tenham, é incompreensível que estes três jogos de PlayStation 2 corram abaixo dos 30 frames por segundo em Switch, PS4, e Xbox One. Em PS5 e Xbox Series X|S chegam aos 60 frames por segundo, mas também existem quebras evidentes de fluidez. Não se admite que estes jogos corram pior do que os próprios GTA V e Red Dead Redemption 2, por exemplo.
E nem vale a pena falar do PC, onde existem modificações não oficiais que fazem um trabalho muito superior de modernização de GTA: San Andreas.
Os três jogos apresentam também bandas sonoras reduzidas, com a ausência de nomes como Blondie, Michael Jackson, e Ozzy Osbourne. Percebemos que a sua ausência se deve à questões de licenciamento, mas independentemente do motivo, é inegável que as bandas sonoras destas versões são inferiores às originais.
Também nos incomoda que a Rockstar tenha decidido retirar por completo as versões originais do mercado. Era possível comprar os três jogos em PC, PS4, Xbox One, iOS, e Android, e essas versões - mesmo sem os melhoramentos - mantinham ao menos a integridade dos originais. Pelo menos ainda é possível descarregar estas versões, caso as tenha adquirido antes do lançamento das versões definitivas.
Quanto à jogabilidade, existem alguns melhoramentos. Agora existem checkpoints e save automáticos, além de ser possível recomeçar as missões. Também pode escolher um sistema de mira mais moderno, o mini-mapa funciona melhor, e a seleção de armas é feita através de um esquema circular. Tudo isto aproxima a jogabilidade dos três jogos a algo como GTA V, embora ainda existem muitas diferenças. Pode esperar uma experiência modernizada, mas não exatamente moderna.
GTA: Trilogy - Definitive Edition inclui alguns melhoramentos, e claro, os três jogos continuam a ser três clássicos fantásticos, mas pedia-se muito mais por parte da Rockstar. O número de bugs presente no jogo, e a terrível conversão de alguns elementos e personagens, é inaceitável - mais ainda quando se coloca o rótulo de "Edição Definitiva" e se cobra 60 euros por três jogos de PS2.