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Trials of Mana

Trials of Mana

Mais um RPG da Square Enix refeito para os tempos modernos.

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Trials of Mana

Ainda nem fez um mês que chegou Final Fantasy VII Remake, e já temos aqui outro RPG clássico da Square Enix para analisar. São, contudo, abordagens muito diferentes. Enquanto Final Fantasy VII Remake apresenta várias alterações em relação ao original, esta nova versão de Trials of Mana é bastante fiel ao Trials of Mana de SNES, com tudo o que isso trás de positivo... e negativo.

Embora criado de raiz, este Trials of Mana segue o mesmo percurso, as mesmas personagens, os mesmos bosses, e os mesmos erros. Embora excelente, o Trials of Mana original não era perfeito, mas ainda mais evidentes são alguns elementos que não envelheceram tão bem, e que parecem deslocados para os tempos modernos. Se na altura achámos algumas cenas engraçadas e divertidas, agora parecem infantis e até algo ridículas. É também uma produção com valores muito mais modestos que Final Fantasy VII Remake, ao ponto de Trials of Mana parecer quase um jogo indie quando comparado com FFVII.

Como tantos outros títulos do género, Trials of Mana também inclui um sistema de grupo, o que significa que terá sempre três personagens ativas de um total de seis. O mais curioso é, ao contrário da maioria dos outros jogos, estes heróis são apresentados logo à origem, o que significa que o grupo fica disponível bem cedo na aventura. Um pormenor interessante é que os diálogos e cenas de história mudam de acordo com as personagens que o acompanham nesse momento.

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Infelizmente não são personagens muito interessantes, e apenas duas dessas seis (talvez três), conseguiram agarrar a nossa atenção. Riesz, por exemplo, é uma jovem que tem o objetivo de encontrar o irmão, mas isso é tudo o que tem em termos de personalidade. De resto limita-se a ser uma rapariga loura, com um ar engraçado, e enormes olhos azuis. É tão sem interesse, sem personalidade, que chegar a ser quase um insulto para o que se faz em termos de personagens, motivações, e arcos narrativos, hoje em dia.

A história também não beneficiou da mudança de grafismo, já que é estranho - e mais difícil de aceitar - este tipo de diálogos e sequências à base de caixas de texto, com personagens mais detalhadas e realistas. Existem várias ações e vários momentos, como um canhão que dispara pessoas para outro continente, que simplesmente não se enquadram tão bem nos dias que correm e nos padrões atuais, como acontecia na era da SNES. O jogo está recheado de conveniências, repetições, e consequências que, se nos escaparam quando éramos muito mais jovens, hoje, não conseguimos ver sem rolar os olhos.

Felizmente, nem tudo é mau. O design das personagens continua apelativo, as vozes dos atores (quando são usadas) têm qualidade, e explorávamos várias localizações lindas... pelo menos em termos de vistas. A realidade é que o mundo de Trials of Mana é vazio, sem qualquer tipo de diversidade, tanto em termos de arquitectura, como de design da população. Isto já era um defeito do original, que simplesmente não conseguia distinguir zonas que à partida deviam transmitir ambientes muito diferentes. Chega a ser comum ver o mesmo modelo exato de personagem repetido na mesma cena, e isso quebra de imediato a imersão do jogador.

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A falta de diversidade também se aplica aos inimigos que irá encontrar durante a aventura, e tão depressa encontra os mesmos monstros numa floresta luxuosa, como em picos vulcânicos. Por vezes sempre existe uma mudança de cor, mas isso não chega. Podíamos ter perdoado isto se fosse o re-lançamento do original, tal como ele era, mas estamos a falar de um remake, e por isso esperávamos muito mais.

Dito tudo isto, é inegável que Trials of Mana retém uma certa... magia primal, um certo encanto especial. Não podemos dizer que não nos divertimos nesta viagem, e acreditamos que em boa parte isso se deve ao sistema de combate, que é acessível e muito funcional. Também adorámos as bandas sonoras, já que o jogo permite alternar entre a versão original e a versão remisturada, e ambas são encantadoras.

Vale a pena referir o sistema de evolução das personagens, no qual o aumento dos atributos individuais define não apenas os atributos, mas principalmente as habilidades únicas resultantes delas e até o acesso a diferentes magias. Embora agradável, é um sistema algo datado, forçando o jogador a esforçar-se mais para planear a distribuição de pontos de uma forma que hoje em dia é quase obsoleta. Por exemplo, para que a feiticeira Angela possa usar magia de fogo, tem de investir a maior parte dos pontos de habilidade conquistados na sua força física, só que esse foi o atributo que o jogo decidiu associar ao fogo. Gostamos de planear o desenvolvimento das personagens, mas estas associações não fazem muito sentido.

Por outro lado, uma das melhores ideia é o sistema de promoção de heróis para classes novas e mais fortes, cuja escolha pode afetar drasticamente o estilo de jogo. Tendo atingido o décimo oitavo e o trigésimo nível, todos os personagens podem ser promovidos para um dos dois caminhos da sua árvore de classes. Para tornar a situação mais complexa, cada um deles recebe um valor: luz ou escuridão. Duran - que rapidamente se tornou o nosso favorito - poder tornar-se um cavaleiro brilhante ou um gladiador agressivo. Somente um pode ser escolhido, e convém ter em conta o papel que cada personagem assume no grupo antes de tomar a decisão.

Este remake de Trials of Mana é um jogo que agrada principalmente aos fãs veteranos dos clássicos do gênero, e aos jogadores que continuam devotos a jogos retro. É uma abordagem que tem os seus pontos positivos, sobretudo em termos de nostalgia, e se o objetivo passar por apresentar literalmente a mesma experiência de jogo, mas com um grafismo superior, então Trials of Mana consegue-o com distinção... mas acreditamos que devia ser mais que isso. O objetivo de um remake não deve ser recriar o jogo original a papel químico, mas adaptá-lo aos tempos modernos, e nesse sentido, este Trials of Mana falha redondamente.

O poder da nostalgia não é suficiente para elevá-lo a voos mais altos, e existem muitos jogos superiores já disponíveis no mercado. Se é terrível? Não, como referimos no texto, divertimos-nos com Trials of Mana, mas é um jogo que não deixa marcas, e que está longe de ser obrigatório. Como referimos, é só mesmo para os maiores fãs, que acreditam que "antes é que era bom".

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07 Gamereactor Portugal
7 / 10
+
Melhoramentos evidentes. Sistema de combate acessível. Progresso das personagens é interessante.
-
Loadings longos. Excessivamente infantil. Pouca variedade.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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