Fe é o primeiro jogo da linha EA Originals, seguindo-se a Unravel que inspirou este programa da EA, e faz jus à categoria já que é realmente um jogo original. A Way Out e Sea of Solitude são outros projetos que encaixam no programa EA Originals, mas as atenções estão neste momento focadas em Fe, um jogo para PC, PS4, Xbox One, e Nintendo Switch.
Trata-se de um jogo encantador, em que vão encarnar uma criatura que parece um esquilo estilizado. O seu nome é precisamente Fe, e habitua um mundo criado de forma muito inspirada, com um estilo visual bastante peculiar. É também um jogo com um ritmo pausado, gentil até, com uma capacidade de relaxamento que é pouco habitual nos videojogos. Ou seja, se procuram algo com velocidade e adrenalina, Celeste é provavelmente o jogo que procuram.
Fe não faz muito para levar o jogador pela mão, oferecendo pouco mais do que algumas dicas básicas ao jogador. No início percorremos a floresta negra, com fundo roxo, a perseguir uma criatura que parece um veado gigante. O jogo nunca nos disse para fazermos isso especificamente, mas a forma como se desenrola sugere isso facilmente. Pouco tempo depois fizemos o nosso primeiro contacto, cantando. Aqui não existe diálogo no sentido tradicional, apenas esta comunicação básica. É um jogo que nos lembra de Journey, por ter um estilo visual muito próprio, por não incluir uma narrativa óbvia, e por ser acessível para todos os jogadores. Ao longo da aventura vão aprender novas melodias para comunicarem com animais, além de novas habilidades que vão permitir explorar áreas previamente bloqueadas.
A banda sonora é subtil, mas como o resto do jogo, é também encantadora. É perfeita na forma como reforça o ambiente e a atmosfera de Fe, sem sentir a necessidade de se 'vender' ao jogador. Existem algumas influências japonesas nesta banda sonora, que poderia perfeitamente aparecer num filme do estúdio Ghibli, e o jogo está recheado de outras referências visuais e sonoras. A arte parece algo saído de Spirited Away, e as enormes criaturas com que irão interagir lembra-nos de Shadow of the Colossus. Embora seja possível fazer paralelos com as suas várias influências, Fe é suficientemente original para nunca se tornar numa cópia. Nos primeiros minutos de jogo aprendemos uma nova melodia, juntamente com a capacidade de planar, e na hora inicial já estávamos a trepar as árvores que saiam de um veado gigante. Quando chegámos ao topo da criatura, aprendemos uma nova melodia, que utilizámos para pedir a sua ajuda. Aqui verificámos um dos problemas de Fe, que não grava qualquer progresso quando estão a subir uma estrutura. Nas últimas secções de plataformas do veado, caímos, e tivemos de repetir tudo de início, o que causou grande frustração. Ainda assim, a vista espetacular no topo da criatura fez com que tivesse valido a pena o esforço.
Além dos animais e Fe, existem outras entidades conhecidas como Os Silenciosos, que têm como missão aprisionar todas as criaturas da floresta. Se conseguirem alcançar o jogador, vão apanhar Fe com uma espécie de rede, obrigando a recomeçar do último save. A estória (se a podemos apelidar assim) envolve salvar as criaturas aprisionadas pelos Silenciosos, e é sobretudo apresentada por memórias e pinturas rupestres. É uma narrativa muito solta, que pede ao jogador que preencha o vazio e chegue à sua própria interpretação.
Adorámos explorar o mundo de Fe, e conhecer as suas lindas paisagens e criaturas inspiradas, enquanto evitávamos os Silenciosos. A premissa básica do jogo envolve a recolha de gemas roxas que permitem aprender novas habilidades e libertar os animais, normalmente utilizando as melodias que descobriram. Usar estas melodias para quebrar o silêncio dos Silenciosos é mais um toque brilhante, exemplarmente traduzido no jogo. Por exemplo, estão perdidos? Então cantem o mais alto que conseguirem, e um pássaro pode aparecer para vos indicar o caminho.
Como queixas, há que referir o ritmo lento que mencionámos em cima. Normalmente é relaxante, e permite apreciar o mundo belo do jogo, mas também existem momentos em que pode tornar-se demasiado lento. Como também já referimos, falhar secções de plataformas podem implicar a perca de minutos de jogo, e causar alguma frustração. Falhas que temos de apontar, mas que não beliscam demasiado a experiência que Fe proporciona.
Com uma duração entre as seis e as oito horas, Fe é um jogo equilibrado entre a arte e o entretenimento, igualmente divertido e artístico. Se gostaram de algo como Abzu e Journey, Fe é certamente um jogo a considerar. É um jogo aberto a interpretações, que evita comunicação tradicional, e que emprega um estilo de jogabilidade lento. Isso não será certamente para todos os jogadores, mas se apreciam experiências de jogo únicas, fica a nossa forte recomendação.