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Divinity: Original Sin II

Divinity: Original Sin II

Juntem-no à lista de potenciais Jogos do Ano.

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Se são fãs dos velhos RPG "Pen & Paper", ou até do género digital que daí resultou, então tiveram muitas razões para sorrir nos últimos anos. Houve um renascimento de jogos do género, e um dos que mais se destacou foi Divinity: Original Sin, sobretudo porque a essa linha de tradição juntaram acessibilidade e sistemas modernos. O original foi muito bem recebido, e o financiamento da sequela em Kickstarter aconteceu num ápice. Depois de um longo período em acesso antecipado, o jogo está agora disponível em versão completa, e é glorioso.

Sem surpresa, Divinity: Original Sin II arranca com a criação da personagem. Enquanto o anterior só incluía Humanos, a sequela acrescenta Elfos, Anões, e Lagartos. Naturalmente, podem escolher variantes femininas ou masculinas, mas há mais uma opção. Podem criar uma versão viva ou morta-viva da vossa personagem, embora acabe por funcionar como a sua própria raça. Cada raça tem particularidades, como os Lagartos que cospem fogo, ou os mortos-vivos que sofrem dano com garrafas de saúde, mas regeneram com veneno. Até podem abrir fechaduras com os seus dedos escanzelados, sem necessitarem de ferramentas adicionais. A habilidade racial mais interessante será a dos Elfos, que no contexto de Divinity, comem corpos. Ao ingerirem membros dos mortos, os Elfos conseguem regenerar a sua saúde, mas também aceder a memórias rápidas da vida das suas vítimas. É uma habilidade usada para efeitos narrativos, como mecânica de jogo, e até como ferramenta para resolver puzzles.

Em termos de personalização em si, Divinity: Original Sin II não oferece tanto quanto gostaríamos, mas ainda assim serão capazes de formar várias combinações. O jogo também oferece alguns arquétipos de classes que podem usar, mas acabam por ser mais exemplos do que exatamente um caminho obrigatório, mas que não existem realmente limitações ao nível de classes. Como o jogo oferece grande liberdade na forma como podem evoluir a personagem, isso implica que podem cometer erros, e criar uma personagem pouco eficaz. Tenham isso em conta antes de experimentarem demasiado, já que só podem redistribuir pontos de habilidade e atributos depois de várias horas de jogo.

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Se estão a jogar pela primeira vez, é recomendado que escolham uma das seis personagens de origem, já que oferecem estórias pessoais muito ricas que acompanham a narrativa geral da campanha. O sarcástico morto-vivo Fane acorda depois de um longo sono para perceber que é o último da sua raça. Lohse, que parece uma versão de fantasia de Taylor Swift, tem um demónio a viver dentro dela. O arrogante Red Prince quer desesperadamente recuperar o seu trono entre o reino dos Lagartos. Estes são três exemplos do tipo de variedade que vão encontrar nestas personagens pré-definidas, e mesmo assim podem modificar quase todos os aspetos, excepto a voz, o nome, e alguns detalhes visuais (o Red Prince tem de ser sempre vermelho, por exemplo).

A campanha arranca alguns séculos depois do primeiro Original Sin, e a magia fornecida pela Source está banida. Não precisam de ter jogado o original para desfrutarem de Original Sin II, mas quem jogou vai certamente reconhecer e apreciar as várias referências. Como tantos outros RPG (The Elder Scrolls começa sempre assim), vão começar numa situação de prisioneiro, enquanto são carregados num navio para Fort Joy. São acusados de feitiçaria, e os primeiros minutos a bordo do navio servem como introdução. Quando chegam ao forte, o jogo abre um pouco, e quando eventualmente fugirem, a aventura começa verdadeiramente. Como o nome indica, o grande plano geral envolve uma narrativa em torno de divindades, mas a estória divide-se em muitas outras aventuras secundárias. Encontrámos muitas voltas e reviravoltas, surpresas interessantes e genuinamente inesperadas, que nos divertiram ao longo de muitas horas. Podem passar por Divinity numa perspetiva de "branco e preto", mas vão divertir-se mais com as muitas camadas de cinzento que o jogo oferece. Não faltam dilemas morais à espera das vossas decisões e ações, algumas com consequências imprevisíveis que só se tornam evidentes mais tarde. Também existem conflitos entre as várias personagens, algo que é ainda mais explorado se decidirem jogar em modo cooperativo com amigos.

A estória de Divinity: Original Sin II resulta tão bem porque o mundo e as respetivas personagens são extremamente ricas em nuances e detalhes. Isso é também verdade ao nível gráfico, sobretudo em termos de cenários, com algumas vistas espetaculares. Como no primeiro, terão uma perspetiva de topo, mas Original Sin II é um triunfo de design e construção de mundo.

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O original incluía longos textos para o jogador ler, o que acabou por ser criticado por alguns. Divinity: Original Sin II tem ainda mais textos e diálogos, mas as mais de 70 mil linhas de diálogo gravadas por mais de 80 atores ajudam a atenuar essa situação. Ao todo existem mais de 1200 personagens com voz, a maioria de qualidade, e o jogo beneficia ainda de uma excelente banda sonora.

Muitos conflitos em Divinity: Original Sin II podem ser resolvidos de forma pacífica, mas uma resposta ou atitude errada pode levar ao combate. Aqui vão participar numa batalha por turnos, onde existem pontos de ação para gastar em habilidades, itens, e movimento. É um sistema justo, ainda que a espaços implacável. Alguns erros podem facilmente resultar na eliminação do grupo, e isso inclui a hipótese de afetarem o resto do grupo com as vossas próprias habilidades. Como no anterior, Original Sin II vive de um sistema dinâmico à base de elementos. Se atirarem uma bola de fogo a uma poça de óleo, tudo na área vai arder, enquanto que eletricidade numa poça de água vão eletrocutar os inimigos. Existe inúmeras possibilidades, e algumas podem descobrir por acaso, resultando normalmente em situações hilariantes. Saber aproveitar o terreno e as combinações dos elementos é uma das chaves para o sucesso. Uma das novidades de Original Sin II é a introdução de dois tipos de proteções para cada personagem: uma física e outra mágica. Para causarem dano a sério, ou para aplicarem certos efeitos, devem primeiro remover essas proteções. Mais uma vez, Divinity II pode ser um jogo muito exigente, mas a presença de quatro níveis de dificuldade vai ajudar-vos a encontrar uma experiência à vossa altura.

Ao contrário do que se passou aquando do lançamento original do primeiro jogo, Divinity: Original Sin II pareceu-nos bastante sólido ao nível de problemas técnicos. Não encontrámos "bugs" estranhos, o que significa que o jogo possivelmente beneficiou de ter estado em acesso antecipado durante vários meses. Ainda assim, gostaríamos que a interface tivesse sido mais trabalhada, já que o sistema de inventário continua a ser desnecessariamente confuso. Uma palavra também para os truques de ilusão causados pela câmara de jogo, sobretudo ao nível de escala. Sítios que parecem enormes, por vezes são curtos, e outros que deviam terminar rapidamente, esticam-se tremendamente.

Pequenas queixas para um jogo brilhante, com uma campanha de várias dezenas de horas. Se isso não foi suficiente, podem jogar com amigos noutros modos, incluindo Dungeon Master, onde um jogador assume o papel de mestre como nos jogos Pen & Paper originais. Até existe um modo competitivo, para quem quiser testar habilidades com outros jogadores. Não temos qualquer dúvida em catalogar Divinity: Original Sin II como um dos melhores jogos de 2017, com tudo para se afirmar como um clássico desta reinvenção do género RPG tradicional. Embora não seja perfeito, e exija uma curva de aprendizagem longa, Divinity: Original Sin II é um RPG que ninguém ligeiramente interessado no género deve deixar passar.

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Divinity: Original Sin IIDivinity: Original Sin II
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10 Gamereactor Portugal
10 / 10
+
Estória brilhante. Liberdade de escolha sem levar o jogador pela mão. Mundo detalhado e original. Combate tático.
-
Curva de aprendizagem dura. Algumas deficiências na interface.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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