Os jogos de terror ganharam grande fulgor nos últimos anos, em boa parte porque o género parece estar a passar por uma fase de transformação. A forma como estruturam os jogos de terror e a história está a mudar, dispensado sustos fáceis, zombies e outras criaturas monstruosas, em troca de algo mais subtil. Os jogos de terror contemporâneos estão a tentar criar sensações no jogador, que vão além do mero susto. Sensações de solidão, ansiedade e até confusão. O medo já não é criado através de criaturas horrendas, mas sobretudo dos locais em si e das histórias que contam.
P.T., a famosa demo técnica de Silent Hills, foi um dos projetos que melhor conseguiu captar essa ideia de jogo, um jogo que conseguiu arrepiar jogadores que atravessavam continuamente o mesmo corredor, mas existem outros exemplos. Agora chega um jogo claramente inspirado por essa nova forma de terror, Layers of Fear, um jogo criado pela Bloober Team e que foi lançado para PC, PS4 e Xbox One.
Layers of Fear decorre maioritariamente na primeira pessoa e tem alguns pontos em comum com um dos maiores filmes de terror de sempre - The Shining (O Iluminado), de Stanley Kubrick. À semelhança da personagem interpretada por Jack Nicholson nesse filme, o protagonista de Layers of Fear é um artista obcecado em criar a obra prima perfeita, uma pintura que o transforme no maior pintor de todos os tempos. Uma tarefa impossível, obviamente, que acaba por empurrar o protagonista para a loucura. Será esse percurso, de ambicioso para completo demente, que os jogadores vão descobrir ao longo do jogo.
Em termos de mecânicas de jogabilidade, não existe muito que falar. Muitos até o podem classificar como um "Walking Simulator", à semelhança de Gone Home e Everybody's Gone to the Rapture. As ações ao vosso dispor serão muito simples, como abrir portas e gavetas, ou resolver puzzles simples (existem alguns desafios brilhantes, mas não os vamos estragar aqui). Também existem vários colecionáveis para descobrirem, que justificam uma passagem pelo jogo, sobretudo se forem como nós e não aguentarem com antecipação para descobrirem a história de Layers of Fear.
Essa jogabilidade minimalista pode ser encarada como um elemento desfavorável do jogo por vários jogadores, mas não é o único. Layers of Fear recorre excessivamente a momentos predefinidos, e inclui uma mecânica que reduz a tensão do jogo - a impossibilidade do protagonista morrer. Isto significa que Layers of Fear é pouco mais do que uma visita interativa, onde o jogador acaba por ser um passageiro bastante passivo.
O que Layers of Fear consegue fazer com grande qualidade, é o ambiente de jogo, que é absolutamente arrepiante. O pormenor do protagonista ser coxo é particularmente curioso, sobretudo pela forma como isso impacta a animação da câmara. O design de toda a casa onde decorre o jogo é impecável, uma estrutura de vários andares decorada com um estilo de arte tão arrepiante como é fascinante.
Outro elemento vital de qualquer experiência de terror é o som, e Layers of Fear é brilhante nesse departamento, capaz de aumentar ainda mais o efeito de solidão e loucura do protagonista. Tecnicamente, Layers of Fear é um jogo com um grafismo razoável (jogámos a versão PS4), mas sofre de alguns carregamentos longos. Com exceção desse problema técnico, Layers of Fear é um jogo notável em termos audiovisuais.
Layers of Fear tem uma narrativa interessante, e impressiona do ponto de vista artístico. Mais importante que isso, é uma experiência bastante sólida para qualquer fã de terror, embora a interação reduzida deva ser considerada por quem prefere os seus jogos com um pouco mais de ação. Gostamos da nova direção corajosa que os jogos de terror estão a tomar, e Layers of Fear é mais um excelente exemplo do que se pode fazer dentro desta nova vaga do género. É uma viagem fascinante com uma atmosfera brilhante, reforçada pelo seu protagonista demente e as situações perturbadoras em que se encontra.