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Jogos Indie: Para Ficar ou Moda Passageira?

Conversámos com vários produtores independentes para percebermos se concordam com a previsão de Peter Molyneux, sobre o fim da popularidade dos jogos Indie.

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Peter Molyneux levantou alguma polémica recentemente (ou se preferirem, 'novamente'), quando se referiu ao crescente sucesso dos jogos independentes, numa entrevista ao CVG, sugerindo que os Indie fazem parte de um ciclo, e que a sua popularidade atual vai acabar num futuro próximo.

"Estas coisas funcionam por ciclos," afirmou Molyneux. "Eu diria o seguinte, aproveitem esta fase, porque não vai durar. Não pensem que os jogos Indie vão continuar com a mesma força durante os próximos cinco anos - são ciclos, tal como acontece na indústria da música. Existe uma era em que o Punk é a moda, e depois existem outras épocas, como agora, onde tudo é fabricado."

"Aproveitem esta época, porque inevitavelmente, vai durar pouco," acrescentou Molyneux, antes de sugerir que, além de atraírem sucesso, os jogos Indies também estão a atrair investimento, e que com o investimento vem pressão extra, que pode acabar por prejudicar a criatividade.

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Entretanto já vários produtores independentes decidiram comentar as palavras de Molyneux, como Mark Wilson, da Devolver Digital, que escreveu uma carta ao Destructoid, onde essencialmente definiu os motivos porque discorda de Molyneux:

"Estas equipas pequenas estão a fazer jogos incrivelmente criativos com ferramentas que qualquer um pode adquirir e que até mesmo não-programadores podem usar, que não requerem a contratação de um engenheiro ou de departamentos de arte a uma escala massiva. As mecânicas da jogabilidade... também conhecidas como a diversão, e até mesmo as histórias dos jogos independentes (que por sinal não são um género) são feitas por artistas que são verdadeiramente independentes e que não pertencem a uma máquina corporativa que não tem nada a ver com a arte em si. Os jogos Indie estão a superar os grandes jogos regularmente, mesmo considerando que 2013 tem alguns dos jogos AAA mais inspiradores de sempre."

"Não é que um tipo seja melhor que o outro, na nossa opinião... são apenas tipos diferentes de artistas a trabalharem em projetos inteiramente diferentes neste mundo de entretenimento digital que conhecemos como 'videojogos'. Mas a principal diferença, e é por isso que discordamos com a ideia de que isto seja um ciclo, é que a ambição destes artistas é diferente. Sim, eles estão a experienciar a excitação que vem com o dinheiro e a oportunidade que tiveram, mas até agora não estão a exagerar, pelo menos pela maior parte. Estes artistas estão a criar o que querem pelos seus próprios termos e isso é muito mais valioso para eles do que se deixarem vender ou tentar fazer algo massivo."

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"Embora muitos estejam a conseguir atingir um incrível sucesso financeiro, não é isso que importa, ou pelo menos não é o mais importante. O que na nossa opinião é o que faz a diferença com o passado. O que queremos dizer é que isto não é uma moda; estes são os frutos de terem derrubado a máquina corporativa através do milagre da distribuição digital (obrigado Gabe!) e consequente acesso facilitado em todo o mundo ao que os fãs querem realmente, não ao que lhes está a ser empurrado pela garganta abaixo em massa. A diferença é que a Internet 'aconteceu'. E os jogos sociais e móveis 'aconteceram'. E isso não vai acabar tão cedo."

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No seguimento destas declarações de Mark Wilson, decidimos contactar alguns produtores independentes, para que pudessem também eles comentar as palavras de Molyneyx, para tentar perceber qual é o consenso entre os produtores.

Deah Hall, que se destacou entre a comunidade de Mods, é o criador do popularíssimo DayZ e está agora a liderar a Bohemia Interactive. Segundo Hall: "de certa forma tudo é uma fase, tudo muda. É uma questão de quanto tempo dura essa fase. Penso que é difícil definir o que são os jogos Indie. Por exemplo, se olharem para uma companhia como a Bohemia, é independente, mas tem mais de 100 funcionários. Ou seja, nem todos os Indies são tratados da mesma forma."

Hall continuou: "Penso que as editoras terão de descobrir onde encaixam neste novo mundo, com tudo a mudar, com Kickstarter e o Acesso Antecipado. Tudo isto está a redefinir a indústria e o papel das editoras. Se já não estamos a lançar jogos em discos, então não precisamos das suas capacidades de produção e os seus contatos de distribuição. Mas o Kickstarter e o Acesso Antecipado também não são só arco-íris e rebuçados."

Jamie Hales, que costumava trabalhar para a Bizarre Creations antes do estúdio fechar, está a trabalhar num jogo independente, de plataformas, chamado The Arc. Em resposta à questão se os Indies são apenas uma fase, Hales afirmou que: "Não, penso que não, eles existem desde sempre. Quero dizer, penso que vão evoluir... Os jogos que estamos a fazer agora, podem ficar maiores. À medida que ganham mais dinheiro as ideias também começam a crescer. Como Thomas Was Alone, um pequeno jogo de plataformas fantástico - Mike Bithell conseguiu uma boa maquia com esse jogo e agora está a trabalhar no Volume. Ainda é um jogo simples, mas tem uma escala muito maior que Thomas Was Alone. Algumas pessoas vão continuar a trabalhar nisto por paixão, outros simplesmente porque é divertido."

Chris Hunt, que tem trabalhado no RPG/RTS Kenshi, foi parco em palavras, mas direto ao assunto: "Ele não sabe o que diz. O Peter Molyneux é que é uma fase."

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Phi Dinh está a liderar uma pequena equipa que está a trabalhar num RPG do estilo Roguelike chamado Tiny Deep. Din explicou-nos que será mais provável, isso sim, que a popularidade à volta dos produtores de jogos Indie acabe por desaparecer.

"Penso que os jogos independentes sempre existiram, desde o primeiro dia até hoje. As pessoas gostam de fazer jogos, obviamente. Penso que o que Peter Molyneux está a dizer é que a popularidade associada aos produtores de jogos independentes vai desaparecer, mas isso não significa que as pessoas deixem de fazer jogos independentes."

Dinh continuou: "Penso que isso vai dar mais foco aos melhores jogos Indie, em vez das pessoas dizerem 'Sou um produtor Indie e agora sou uma estrela'... Penso que isso vai desaparecer e a denominação Indie vai ser esquecida e passaremos a falar de produtores no geral."

"Penso que, em termos de mercado, está a ficar mais competitivo - existe tanto jogo por aí que está a ser difícil competir - penso que isso significa que os melhores vão chegar ao topo. Ou seja, a lição aqui passa por fazer jogos melhores."

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Tom Hegarty, diretor da Roll7 (produziram OlliOlli e o recente Not a Hero) foi direto ao assunto: "Não acredito que sejam uma fase. Penso que sempre existiram. Penso é que estão a ter muita atenção neste momento, penso que houve uma mudança, mas que não é algo passageiro. Os Indies estão a competir com os AAA. Nunca teremos o mesmo tipo de orçamento, nunca conseguiremos produzir jogos com o mesmo tamanho, mas existe procura pelos jogos Indie. Penso que vieram para ficar, definitivamente."

Por último conversamos com Simon Roth, cujo jogo Maia é na realidade uma homenagem a alguns jogos da Bullfrog (antigo estúdio de Peter Molyneux). Ele é obviamente um grande fã do legado do produtor, e talvez por isso tenha sido o que chegou mais próximo de concordar com Molyneux, mas até ele levantou algumas dúvidas.

"Existem sempre altos e baixos, todos temos altos e baixos. Agora, se isso é algo que pode ser antecipado ou evitado... não. Mas obviamente que os Indie estão a crescer, muito por culpa do Steam, que abriu as portas a muitos produtores. Ou seja, se isto é um ciclo, estamos obviamente no ponto alto e não acredito que comece a deixar durante os próximos anos."

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Quanto à nossa opinião? Sinceramente, estamos mais inclinados para que os jogos independentes tenham chegado para ficar. Nunca existiu tanta criatividade e diversidade no tipo de experiências que podemos apreciar com videojogos. O Kickstarter, o Steam, os Bundles, as plataformas móveis... escancararam as portas destas produtoras, que agora até têm as atenções das fabricantes de consolas. Pensamos que os jogos independentes são agora uma parte crucial do ecossistema dos videojogos e vão continuar a co-existir com os AAA, garantindo um aumento e qualidade e quantidade de videojogos. E que assim continue por muitos anos.



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