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The Last Guardian

The Last Guardian

Já jogámos três horas do há muito aguardado projeto da Team Ico, mas ficámos com sentimentos mistos.

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Quando um jogo atravessa um ciclo de produção tão longo quanto The Last Guardian, é natural que enfrente alguns desafios e críticas adicionais. Muitos jogadores estarão ansiosos para perceberem se todo este tempo de produção se traduz numa experiência refinada, e no caso de The Last Guardian, todos querem também perceber se o toque mágico da equipa que nos trouxe Ico e Shadow of Colossus continua intacto. Outro factor curioso é a estória por trás do ciclo de produção, que conheceu muitos avanços e recuos, problemas, e situações de conflito. De certa forma, a história por trás de The Last Guardian é quase tão importante quando o próprio jogo.

A grande questão que se coloca é: será The Last Guardian capaz de sacudir todas estas situações e expetativas, e mesmo assim apresentar um produto de qualidade por direito próprio? Ainda é cedo para respondermos a essa questão, mas recentemente tivemos a oportunidade de jogar as primeiras três horas de The Last Guardian. Foi uma sensação quase surreal, estar a jogar algo sobre o qual estamos a ler e a escrever há vários anos, e que chegou a ser apontado como um dos títulos de lançamento da PS3.

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Agora que já jogámos The Last Guardian, temos de confessar que ficámos com sentimentos mistos em relação à experiência. Por um lado existe o potencial claro desta experiência, e a ambição tremenda que apresenta ao nível de conceito e execução. Em contraponto, tememos que em última análise, muitos fãs possam ficar desiludidos com o jogo.

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Comecemos por aquilo que dói mais - os pontos negativos. O maior defeito de The Last Guardian parece ser técnico, e a isso não deve estar alheio o facto de ser um jogo de PS3 que foi transportado para a PS4. Esperávamos que, depois de tanto tempo de produção, The Last Guardian conseguisse apresentar uma experiência de jogo polida, mas o que vimos está longe dessa noção. Ico e Shadow of the Colossus são jogos fantásticos, mas se voltarem atrás para os jogarem, podem verificar que os controlos são algo perros, e que movimentar a personagem nem sempre é uma experiência suave. O mesmo é verdade em The Last Guardian. O protagonista tem acesso a várias ações, como carregar objetos, atirá-los, saltar, e trepar. É um jogo com boa sensação de mobilidade, à semelhança do que já acontecia com Ico, mas a transição entre as várias animações e mecânicas não é tão suave como gostaríamos. Na verdade nunca sabemos exatamente como a personagem vai reagir aos vários contextos, e é difícil perceber que tipo de distâncias consegue saltar, ou que superfícies consegue trepar. A isso juntem uma câmara medíocre que parece ter saído diretamente da PS2.

Mas em cima de tudo isto existe outro elemento muito peculiar, um elemento comum aos jogos da Team Ico - um toque de magia que por vezes é difícil de explicar. As animações naturais das personagens quando estão a reagir a algo ou a expressarem sentimentos, é algo que começa a tornar-se evidente logo a partir do início. Nesse aspeto, nenhum estúdio consegue rivalizar com a Team Ico, e ninguém conseguiu emular a forma orgânica como apresentam o mundo e a estória aos jogadores. Até as animações mais básicas querem transmitir algo ao jogador, e algo tão trivial como tirar lanças das costas de Trico é um momento que mistura ternura e dor, quando outros jogos provavelmente nem se preocupariam em animar a personagem para esta ação.

O jogo arranca com uma sequência cinemática que nos apresenta às várias espécies que foram combinadas ao longo dos anos até Trico ser formado. Vão ver desenhos de vários animais a flutuar pelo ecrã, enquanto a música subtil enriquece o ambiente. The Last Guardian é um jogo todo sobre emoção, e aproveita-se naturalmente da ligação com Trico para mexer com os sentimentos do jogador. Vão acordar numa caverna, iluminada pela luz natural que entra pelas brechas, e à vossa frente vai estar Trico, ferido e com dificuldades para respirar.

É curioso, porque normalmente é o protagonista que necessita de ajuda de uma personagem secundária em situações semelhantes, mas no início de The Last Guardian, é Trico que precisa desesperadamente do jogador. Podem agarrar o seu pêlo e trepar, para começarem a retirar as lanças que o agoniam. Com cada lança retirada, Trico ganha lentamente a sua postura e força. É assim que começam a ganhar a sua confiança.

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Para lá da primeira zona há uma série de puzzles para completar, que normalmente exigem que direcionem Trico para locais específicos, de forma a que possam usar o animal para treparem obstáculos. Chamar Trico é tão simples como carregar num botão, mas como qualquer animal selvagem, o seu comportamento nem sempre é coincidente com a vontade do jogador. Pode ser frustrante por vezes, mas faz sentido no contexto do jogo. Trico confia em nós, mas não nos serve.

The Last Guardian transmite a sensação de um projeto que foi muito cuidado pela equipa de produção, um jogo onde a emoção, o ambiente, e a relação com Trico são elementos integrais da experiência. É uma grande produção, que mantém a simplicidade de mecânicas que normalmente vimos em jogos independentes, e que - acreditamos - vai permitir cultivar uma relação difícil, mas especial, entre um garoto e um poderoso animal selvagem.

É verdade que as três horas que jogámos de The Last Guardian nos deixaram com motivos para preocupação, sobretudo ao nível técnico. É um jogo em que é quase impossível desassociar o seu historial de produção, e isso acaba sempre por ter algum impacto. Tudo o que podemos fazer é esperar que o sentimento e a 'magia' de The Last Guardian sejam suficiente para que os jogadores possam perdoar os problemas técnicos, porque temos a confiança de que esse sacrifício será recompensado no fim.

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