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The Vanishing of Ethan Carter

The Vanishing of Ethan Carter

Nós não conhecíamos Ethan Carter, mas ele conhecia-nos.

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Quando a polícia se recusa a ajudar, e os padres preferem ignorar as queixas, só há uma solução possível: Paul Prospero.

Se fossem uma criança como Ethan, é possível que um dia escrevessem uma carta a Paul Prospero, como muitas antes o fizeram. As cartas de Ethan eram, ao início, como as de tantas outras cartas de fãs, mas depressa começaram a incluir pormenores que as crianças não deviam conhecer. Existem locais e coisas neste mundo que ninguém deveria ver, mas o Ethan foi capaz de desenhar uma delas.

Paul Prospero ainda não tinha chegado a Red Creek Valley, mas já podia sentir a escuridão que cercava a aldeia. Encontrar o desaparecido Ethan Carter não seria tão fácil como bater na porta da sua casa. Já era demasiado tarde para isso. Para encontrar Ethan, Paul teria de descobrir o que este local escondia de si.

The Vanishing of Ethan Carter
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Este não era o primeiro caso de Paul Prospero, longe disso, e ele estava bem ciente que o esperavam perigos e provavelmente, surpresas. Ainda assim, as boas vindas que recebeu ao chegar a Red Creek Valley eram bem mais perigosas e surpreendentes do que poderia esperar. A paisagem linda que este vale de Wisconsin nos Estados Unidos da América pintava era sem dúvida enganador.

Logo à partida, uma armadilha que Paul conseguiu evitar. Mais ainda, o seu apurado olho para o detalhe permitiu-lhe investigar a bem escondida artimanha, pendurada de uma árvore junto a uns carris abandonados. Para quem era a armadilha? Seria para Paul? Dificilmente. Ninguém poderia ter adivinhado que estava a caminho, e muito menos que iria percorrer este percurso específico. Ainda assim, o detetive não conseguia disfarçar a sensação de que algo mais estava presente. Que algo o vigiava. Durante a investigação, Paul encontrou uma foto de uma clareira. Não era uma foto muito clara, mas dava para perceber que podiam existir novas armadilhas. Talvez se as encontrasse a todas, conseguisse ter uma perspetiva mais apurada do que se passa, mas todo o cuidado era pouco.

The Vanishing of Ethan Carter

Paul prospero não é um detetive como todos os outros. Paul é um especialista no oculto, no sobrenatural. Ao seu dispôr, Paul tem uma espécie de sexto sentido, que lhe permite aprofundar este tipo de investigação. Com esse sentido consegue ver eventos passados e vislumbrar as histórias de outrora - se as condições forem as ideais.

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Pouco depois de resolver o mistério das armadilhas, Paul foi obrigado a utilizar o seu dom muito especial. Ao atravessar uma ponte, onde parou para apreciar a vista, o detetive foi presenteado com uma visão do primeiro caso brutal que teria de investigar.

Nos carris estavam umas cordas rebentadas, e mais à frente, umas pernas sem dono à vista. Uma visão arrepiante. Para começar a fazer sentido de tudo isto, era primeiro necessário encontrar o resto do corpo, e devolver tudo à sua forma original, de maneira a poder rever os últimos momentos da vítima. Paul passou a investigar a cena, e passados alguns minutos, já tinha uma coleção de fragmentos do sucedido, que precisava de reorganizar para que tudo fizesse sentido.

Mas depois, algo aconteceu. Já não estamos a acompanhar de perto a aventura de Paul Prospero, somos novamente meros jornalistas de videojogos. Estávamos completamente mergulhados na atmosfera fabulosa do jogo, mas algo correu mal.

The Vanishing of Ethan Carter

O jogo tem muito orgulho em ser diferente, atípico até. Mas existe uma convenção do género de aventura que não está preparada para ser encaixada devidamente neste mundo exemplarmente criado. O jogo vive muito da subtileza, mas acaba por cair na tentação de recorrer a vários clichés de puzzles do género. O contraste é simplesmente esmagador. É suficiente para quebrar a ilusão, até aqui perfeita. E é um problema que se repete ao longo de todo o jogo. Ainda assim, este primeiro jogo da produtora polaca The Astronauts é pura magia.

The Vanishing of Ethan Carter desfruta de uma visão artística, de uma atenção ao detalhe, de uma banda sonora e de um design minimalista que tem de ser reconhecido, e é um dos mundos de jogo mais convincentes que já experienciámos. Ele conta uma história só sua, em que a natureza transmite em simultâneo tranquilidade, tristeza e decadência, enquanto que as habitações abandonadas e a mobília relatam episódios de morte e transmitem a sensação de uma escuridão desconhecida.

À semelhança de outros jogos na mesma linha, como Dear Esther e Gone Home, The Vanishing of Ethan Carter não inclui interface, mas ao contrário do que acontece com esses jogos, este consegue combinar história, atmosfera e jogabilidade num único pacote coeso.

Podem ter notado que ainda não abordámos muito além do básico no que respeita a conteúdo ou mecânicas de jogo. À semelhança do que acontece com The Stanley Parable, este é o tipo de experiência que vive tanto da qualidade geral, como das surpresas que consegue proporcionar. Ao longo da aventura vão investigando cenas de crimes, cada vez mais perto das respostas que procuram e de encontrarem Ethan Carter e os motivos para o seu desaparecimento. Se forem o tipo de jogador que gosta de se dedicar a uma experiência, e de explorar o caminho com tempo, vão encontrar muitas surpresas.

The Vanishing of Ethan Carter

Por vezes essas surpresas podem assumir a forma de puzzles muito curiosos, enquanto que noutros casos serão momentos que vos irão marcar na vossa vida de jogadores. As únicas coisas que impedem The Vanishing of Ethan Carter de ser grandioso são alguns problemas ao nível de mecânicas, performances medíocres dos atores de voz e um sistema de Saves absurdo. Uma pena, porque quando o jogo consegue estar no seu melhor, é uma das experiências mais imersivas de sempre. É também por isso que custa tanto quando uma destas falhas consegue quebrar essa imersão.

Mas isto tudo pode ser perdoado e esquecido. Segundos mais tarde, estamos de volta a Red Creek Valley. Paul acabou de resolver o seu primeiro homicídio e já sabe o que vai fazer a seguir. À direita está um lago rodeado de rochas. À esquerda, uma das florestas mais sombrias de que há memória. Paul optou pelo último, e enquanto caminhamos floresta adentro, o nosso ritmo cardíaco acelera. Estamos assustados, mas é preciso continuar.

É preciso encontrar Ethan Carter.

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09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Atmosfera sem rival. Grafismo impressionante. Mecânicas subtis. É assustador na medida certa. Surpreendente. Mundo muito detalhado.
-
Ponto de Saves inadequado. A momentos é pouco desafiante. Atores medíocres.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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