Mirror's Edge Catalyst

Os sapatos vermelhos icónicos de Faith brilham nos telhados da cidade de Glass, enquanto a heroína desliza por baixo de canos, salta vedações, e evita guardas a uma velocidade impressionante. A linha vermelha à nossa frente sugere que o caminho é pela porta vermelha, mas nós conhecemos um atalho. Com alguns movimentos acrobáticos saltamos e rebolamos para o outro lado do prédio, e ficamos com a meta à vista. Conseguimos ultrapassá-la com pouco mais de um segundo para o fim da corrida, e o nosso coração palpita de tamanha emoção. Que novas aventuras nos esperam agora? Exatamente a mesma rotina noutra missão ou corrida contra o tempo...

Mirror's Edge Catalyst é, como o original, completamente focado numa jogabilidade de movimento e acrobacia, ao ponto de relegar a estória e o combate para segundo plano. Durante a promoção do jogo a DICE afirmou que gostava de apresentar uma estória mais profunda e rica, e até podem ter tentado, mas na nossa opinião não o conseguiram. Em grande parte isso acontece porque todas as personagens são um cliché futurista, incluindo Faith. A protagonista é a rapariga quieta e insegura que só pretende ajudar o seu pai. A técnica Plastic é uma adolescente que más qualidades sociais, e é apenas um exemplo de várias personagens previsíveis. Assim é difícil ganhar real simpatia por este mundo. Se estavam a contar com a estória para comprarem Mirror's Edge Catalyst, não vos podemos aconselhar, mas a verdade é que o jogo dificilmente seria sobre isso.

O Mirror's Edge original ficou conhecido pelos controlos intuitivos, uma boa sensação de velocidade, e um sistema de movimento fluido. Tudo isso permanece verdade no novo jogo, e mesmo que sejam novatos, vão começar a correr pela cidade de Glass com grande facilidade. Aliás, o facto de alguns dos movimentos de Faith estarem bloqueados de início até podem facilitar ainda mais a vida a estreantes, embora possa ser um pouco aborrecido para quem já dominou o jogo anterior.

Para adquirirem habilidades novas precisam de pontos de experiência, que vão obter através de colecionáveis e de missões. Depois podem evoluir uma de três áreas - combate, movimento, e equipamento. Uma boa fatia destas habilidades só ficam disponíveis em pontos concretos da campanha, incluindo um gancho para prender ao cenário. Isto só pode ser usado em momentos de contexto no jogo, e embora tenha uma premissa interessante, a sua utilização é tão limitada que dificilmente pode ser considerada uma nova adição à jogabilidade. A única nova habilidade real é o Disruptor, que permite imobilizar os inimigos durante uns segundos, o que é francamente pouco. Bloquear habilidades antigas num sistema de experiência não nos pareceu uma decisão particularmente benéfica para o jogo.

Parte das queixas em relação ao original prendiam-se com um exagero de uma estrutura de tentativa e erro no design dos níveis. A DICE tentou corrigir essa situação ao expandir a área do mapa, o que ajudou, mas não totalmente. Embora as áreas sejam maiores, o mundo de Mirror's Edge Catalyst ainda nos parece linear, no sentido em que agora existem três caminhos que vão dar ao mesmo ponto, e dependendo das habilidades que desbloquearam, existe uma opção claramente mais rápida que as outras. Isso significa que provavelmente vão passar pelas mesmas áreas repetidamente, porque são as melhores, e isso torna o jogo repetitivo. Existem vários coleccionáveis para recolherem, mas parecem mais uma tarefa que um elemento dinâmico da jogabilidade, e não servem nenhum propósito real.

As missões de estória levam-nos normalmente para os locais memoráveis, com as vistas mais impressionantes, mas raramente acrescentam algo de novo à jogabilidade. As missões secundárias tentam acrescentar alguma variedade, seja em corridas contra o tempo ou em desafios onde não se podem magoar. Como no passado, tudo gira em torno de corridas. Até as secções "furtivas" envolvem correr mais rápido que um medidor de deteção, e uma curva errada significa a derrota. Como já referimos, o design de tentativa e erro mantém-se.

A forma como a Glass foi desenhada, com cores minimalistas e poucas personagens interativas, não é suficiente para criar a ilusão de uma cidade real. Nunca parece que saímos de um nível de um jogo e passámos para um mundo real. As únicas personagens que mostram alguma vida são os guardas da KingSec, que são fáceis de evitar na exploração livre. Nas missões de história terão de lidar com estes inimigos, e infelizmente o sistema de combate permanece um dos pontos fracos da experiência. O reportório de golpes é muito reduzido, e a maioria dos inimigos pode ser abatido com alguns desvios e ataques. Se o combate é suposto ser tão fraco, talvez tivesse sido melhor retirá-lo de todo.

Como no passado, são as mecânicas base que dão algum brilho a Mirror's Edge, e isso é bem aproveitado pelas funções sociais. Os jogadores podem criar os seus próprios desafios contra o tempo, que podem depois partilhar com os outros jogadores. Até podem desafiá-los a tentarem bater o vosso tempo na vossa própria pista. Pareceu-nos uma boa forma dos jogadores se desafiarem uns aos outros de forma criativa.

Mirror's Edge Catalyst pouco mais é do que uma versão mais bonita do conceito original. Tudo está muito parecido em termos de design e jogabilidade, mesmo que os controlos e a jogabilidade continue excelente a um nível base. Infelizmente, o que a DICE fez não é suficiente para levar a série a outro patamar. A estória é uma desilusão, o jogo torna-se repetitivo rapidamente. Se são fãs genuínos do original, podemos recomendar-vos Catalyst, mas se esperam um salto maior por parte da saga, vão ficar tão desiludidos como nós.