Zombi

É difícil imaginar uma versão de Londres mais desoladora do que Zombi nos mostra (ou ZombiU, quando foi originalmente lançado na Wii U). Tons carregados de cinzento preenchem o ecrã, enquanto a chuva cai incessantemente na rua, criando o ambiente perfeito para uma história sobre o fim do mundo, conspirações e profecias. Durante a aventura também vão estar próximos de alguns locais familiares, como o Palácio de Buckingham e a Torre de Londres, mas tudo sempre recheado de mortos-vivos.

A grande diferença entre ZombiU e a nova versão para PC, PS4 e Xbox One, é naturalmente a ausência das funções táteis do GamePad, mas o grosso da experiência permanece idêntico. Londres é o palco de uma epidemia de zombies, e o jogador - na pele de um ou mais sobreviventes - terá de seguir os conselhos de uma voz misteriosa,para tentar resolver a conspiração por trás da epidemia. Não é uma história que nos prenda ao sofá, mas é razoável que baste... como quase tudo em Zombi. É uma experiência agradável para quem aprecia o género, mas que não deixará memórias duradouras.

A narrativa é apresentada de forma algo indireta, um pouco como Half-Life ou o Bioshock original, mas sem nunca conseguir a excelência desses jogos. Não deixa de ser um pouco estranho ter de obedecer a estas pessoas que não conhecemos, e que se queixam de escolhas que nunca chegámos a tomar. Em parte isso também se deve à estrutura do jogo, com morte permanente, o que acaba por colocar a história para um plano secundário.

Quando morrem em Zombi, a vossa personagem torna-se precisamente num zombie, e o jogador tem de assumir o controlo de um outro sobrevivente e retomar a sua aventura. Por norma, o objetivo primário de uma nova personagem passa por matar a personagem anterior e recuperar o equipamento na sua mochila. Isto acaba por provocar pouco mais que alguma inconveniência, e não é realmente interessante em termos de desafio... pelo menos no modo normal. Se procuram algo muito mais tenso, existe também um modo Hardcore, em que a morte da personagem dita o fim definitivo da aventura.

Na versão original para a Wii U, uma das características mais interessantes apresentava-se na forma como o jogo usava o GamePad, tanto no multijogador, como na gestão do equipamento no ecrã do comando. A intenção passava por obrigar o jogador a tirar os olhos do ecrã para olhar para a sua 'mochila', enquanto o jogo continuava a decorrer em tempo real (e um zombie podia aparecer sem darem por isso). Como o GamePad não existe nas outras plataformas, esse efeito é simulado com um ajuste da câmara limitado, que até funciona bem, embora não tão bem como a versão de Wii U. Outra componente que sofreu muito com a transição foi a experiência online. Não só foi removido todo o conteúdo para o multijogador, como nem sequer é possível deixar mensagens para outros jogadores. Nenhuma destas funções ausentes é vital para a experiência, mas não deixa de ser desapontante ter de jogar uma versão inferior dois anos e meio depois do lançamento original.

Em termos visuais também não existem muitas notas positivas para assinalar. Está muito longe de acompanhar o que se faz em termos de qualidade gráfica na atualidade, e apresenta várias imperfeições técnicas, incluindo algumas quebras injustificáveis na fluidez.

A geração atual de consolas tem sido inundada por várias remasterizações, adaptações e re-lançamentos de jogos antigos, em demasia dirão alguns. No caso de Zombi, não se trata de um jogo particularmente memorável, mas pelo menos é bom que toda uma nova gama de jogadores que não tiveram acesso à Wii U possam agora desfrutar da experiência.

Vale a pena referir que Zombi, embora apresente alguns elementos de sobrevivência, segue uma estrutura relativamente linear. Não esperem um mundo aberto ou muitas ferramentas ou opções com que experimentar. É uma jogabilidade repetitiva, onde têm de aproveitar as poucas soluções ao vosso dispor para ultrapassar os obstáculos sem serem engolidos por uma horda de zombies.

Tanto a mecânica de disparos, como o combate com armas físicas, são razoáveis sem impressionarem. Vale a pena referir que o taco de Cricket com que começam o jogo é extremamente poderoso, tão poderoso que quando apanham armas melhores, como a besta ou a caçadeira, não oferecem a sensação de poder superior que provavelmente deveriam.

ZombiU tinha uma premissa interessante, que acabou por sofrer com as limitações do prazo para produção - foi um título de lançamento da Wii U. É uma pena que a Ubisoft não tenha aproveitado o novo relançamento para melhorar alguns aspetos e aproximar a experiência do potencial que lhe era reconhecido. Como está, Zombi é pouco mais que uma adaptação que cumpre os mínimos de um jogo que não vai além do razoável. Se tinham interesse em experimentar ZombiU quando foi lançado na Wii U, e gostam do tema, é uma opção válida, desde que não esperem demasiado do jogo.